Feministas desde pequenas: afinal, o que mudou na educação das mulheres?
Romper o status quo do machismo é o desafio na criação de meninas
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“Moças dedicadas à busca de um marido, para cozinhar, lavar suas roupas e cuidar de seus filhos”. Esse é um perfil de mulher que, felizmente, segue a caminho da extinção. Cada vez mais empoderadas, o que se nota no cruzar dos anos é que mulher submissa a um marido é coisa da literatura do Século XIX. Em 2018, elas têm garra e lutam por força, voz, igualdade e sabem o que querem, por mais difícil que seja esta cruzada.
O grande motor dessa mudança vem provavelmente embutido na educação dos pais. Atualmente, os paradigmas que apontavam que brinquedo de menina é boneca e que a cor adequada para elas é rosa cairam por terra. E basta abrir o Youtube para ver que há, sim, uma geração de meninas que já nasceu empoderada. Campo Grande, felizmente, está cheia delas!
Como Marina, de 8 anos, filha da professora de língua portuguesa Renata Cafure, de 26. De acordo com a mãe, Marina é questionadora, esperta e não aceita condicionamentos.
“Ela é uma menina que gosta de se sentir à vontade. É difícil comprar roupa para ela, por exemplo, porque é sempre tudo justo demais, os shorts são muito curtos e ela gosta de se sentir confortável, com roupas largas. Parece que o corpo das meninas já é condicionado desde pequenas e ela não aceita isso. Em relação aos brinquedos, ela também reclama das bonecas. Sempre preferiu brinquedos que a façam se sentir desafiada”, conta.
Desafiar o status quo, a propósito, foi um dos objetivos de Renata na educação da filha. “Tive preocupação de não estimular os estereótipos. Inclusive, a cor favorita dela é azul, embora também goste de rosa. Ela adora brincar com brinquedos ‘de menino’, mas também gosta de boneca. Eu acho interessante que ela prefere juntar as coisas”, relata. “Meu objetivo com isso é que ela possa perceber que o mundo é para todos, que ela pode trabalhar com o que ela quiser, fazer o que ela quiser”, pontua.
Rainha dos argumentos
As meninas de hoje em dia já sabem do que gostam, não aceitam submissão de qualquer tipo e reconhecem claramente a discriminação sexista. Boa parte não tem papas na língua e contesta a discriminação estrutural do machismo, isso tudo antes dos 15 anos. Duvida?
A produtora cultural Fernanda Teixeira, de 36 anos, e mãe de Maria Clara, de 11, relata experiência assim. “A Maria Clara é cheia de opinião e de ideias, desde muito pequena. Muito é da personalidade dela, mas acho que ela foi estimulada, também. Ela usou rosa, teve Barbie, fez balé… Mas, também fez judô, teatro, circo, brincou de carrinho… Eu noto que as meninas de hoje já dão o recado, sim. Mas quando
ela nasceu o esquema era diferente, não se falava muito sobre empoderamento. Por isso que ela me surpreende por ser tão jovem e já ser
feminista”, conta Fernanda.
Maria Clara, a propósito, é a rainha dos argumentos, como ela mesma dá a letra, literalmente. Dona de vocabulário rebuscado, ela mostra que sabe o que quer. “Eu concordo com várias coisas do feminismo, embora ele seja muito complexo de definir. Mas, para mim, é um movimento para que as mulheres lutem por direitos iguais entre os gêneros”, afirma a jovem com eloquência incomum para a idade.
“Teve uma vez que eu repreendi a professora porque ela dividiu a sala entre meninos e meninas. E eu falei que sempre que alguém ia para a diretoria, era por conta da rivalidade entre os gêneros”, argumenta. Maria Clara não tem foto atual na matéria porque “não quer a imagem exposta na mídia”. Anotado!
“Seja quem você quiser”
A autônoma Maria Ayslane, de 31 anos, é mãe de Lis Maria, de um ano, e está prestes a dar à luz Ben Antunes, no nono mês de gestação. Ela é um exemplo das mães que se preocupam em abrir a porteira das possibilidades, no lugar de restringir à educação da filha aos estereótipos de gêneros. Lis, por exemplo, nem sequer teve a orelha furada. “É um procedimento estético que ela só vai fazer se quiser e quando quiser. É algo cultural que a gente não vê necessidade. Não reforçamos estereótipos”, explica a autônoma.
A orelha furada pode até parecer algo inócuo, mas a proposta de Maria é justamente romper com o padrão presente na educação que recebera. Nos brinquedos, Lis tem desde dinossauros à bonecas, Lego e outros que não reforçam nenhum gênero.
“É algo que na minha criação foi diferente. Eu ganhava uma boneca e meu irmão uma cartela de carrinhos. Eu tinha poucas possibilidades, me sentia limitada. E aqui em casa a gente não quer isso”, explica. Foi por isso, inclusive, que o aniversário de um ano da menina teve como tema o empoderamento.
“Eu sou feminista, espero que minha filha seja feminista. E o empoderamento e desconstrução do estereótipo faz parte da pauta. O que a gente quis foi mostrar aos nossos amigos que queremos que ela seja o que ela quiser ser. Ela pode ser uma princesinha, mas também pode ser uma skatista, engenheira, o que for. Ela vai ter toda a liberdade e vamos estimular as potencialidades dela”, aponta.
A jornalista Carolina Alencar acompanha a tendência. “Eu fui criada nesse meio, de direitos igualitários, e sempre me preocupei em passar princípios feministas a meus filhos meninos. É uma luta que a gente não pode desistir”, diz a mãe de Miguel, de seis anos, e Ravi, de três. Ela ganhou bebê, a Maya, no dia que conversou com a reportagem.
“Eu sempre me preocupei em desconstruir gênero nas brincadeiras. Eu quero que meus filhos sejam livres. Como filha, neta e sobrinha de feministas, a primeira roupinha da Maya não poderia ser outra. Eu quero que ela seja livre”, conclui a jornalista.
A roupinha na imagem ao lado, a propósito, é uma camisa de recém-nascido feita especialmente para Maya com os dizeres “seja quem você quiser”.
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