Breno e Leonardo: 6 anos de saudades que viraram ativismo contra a violência em MS
No dia 31 de agosto de 2012, os destaques dos noticiários de Mato Grosso do Sul anunciavam o desaparecimento de dois universitários. O assassinato foi confirmado no mesmo dia, à tarde. Breno Luigi Silvestrini de Araújo, que tinha 18 anos, e Leonardo Batista Fernandes, de 19 anos, foram vítimas do crime organizado de tráfico de drogas […]
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No dia 31 de agosto de 2012, os destaques dos noticiários de Mato Grosso do Sul anunciavam o desaparecimento de dois universitários. O assassinato foi confirmado no mesmo dia, à tarde. Breno Luigi Silvestrini de Araújo, que tinha 18 anos, e Leonardo Batista Fernandes, de 19 anos, foram vítimas do crime organizado de tráfico de drogas da fronteira. A morte cruel e violenta provocou diversas reações na população, como revolta, medo e repúdio.
Seis anos depois, o assassinato dos meninos perdeu o apelo na mídia, outros crimes ganharam os destaques dos jornais, muitos pelo mesmo motivo. Mas a lacuna que a morte deles deixou na família não foi preenchida. E nunca será. “Foram anos muito tristes, alterou demais a vida de todos nós e tivemos que nos cuidar de diversas formas. O Breno nos faz falta todos os dias, até nos pequenos detalhes”, desabafa a mãe do universitário, Lilian Silvestrini.
As palavras embargadas por dor e saudade só podem ser compreendidas pelo coração de outra mãe que também sofre pela perda de um filho. “É uma luta diária pra gente conseguir viver sem os meninos. É uma saudade eterna”, diz a mãe de Leonardo, Ângela Fernandes.
Amigos desde o tempo de escola, Breno e Leonardo faziam parte da família um do outro. E é a lembrança deles sempre juntos que Lilian e Ângela carregam dos meninos. “O Leonardo tinha a Lilian como uma mãe, assim como o Breno também era tratado como um filho aqui na nossa casa”, conta Ângela.
Por outro lado, Lilian se lembra que a amizade entre as duas mães era mais distante. “A gente se conhecia por causa dos meninos, mas era aquela relação mais de porta de escola, em eventos, nada muito próximo”, diz.
Mas depois do assassinato dos filhos, as duas famílias passaram a caminhar de mãos dadas, unidas pela saudade, pela dor e, principalmente, pelo ativismo contra a violência em Mato Grosso do Sul e nas fronteiras que mapeiam o estado.
Mães da Fronteira
Em 2013, Lilian e Ângela foram do luto à luta e encabeçaram o movimento “Mães da Fronteira”, para defender os direitos humanos e transformar as famílias em agentes na batalha contra a violência e a impunidade.
“Não queremos que as pessoas esperem acontecer uma tragédia, como aconteceu com a gente, para fazer alguma coisa. E é essa a missão que seguimos, de tentar conscientizar as pessoas por mais segurança. Isso nos preenche, traz um sentido”, desabafa Ângela.
“Começamos a questionar o motivo do crime e percebemos que precisávamos ser uma entidade jurídica para dar continuidade à luta e ter algum apoio do governo, foi daí que criamos a associação. Construímos um documento que apontava soluções, pontos mais críticos, sobre o tráfico e as consequências de tudo isso”, conta Lilian.
Contudo, elas deram de cara com um monte de promessas e pouca ação. No papel, elas tinham o Sisfron (Sistema de Segurança na Fronteira), mas que, segundo Lilian, está parado. “É um projeto fantástico, em termos de segurança, mas é caro. Na época, o governo comprou os equipamentos necessários, que até chegamos a ver, e teve início em Dourados. Mas na gestão da Dilma o projeto foi cancelado e todo o equipamento está parado”, lamenta Lilian.
Hoje, elas focam no famoso trabalho de formiguinha, como rodas de conversa, fóruns. “A nossa maior preocupação é fazer com que a sociedade desperte para este problema. É preciso se mover para que algo aconteça. Antes, a gente também tinha esse mesmo comportamento de assistir os crimes pela TV, se revoltar e não fazer nada. A gente não quer ver outras mães enterrando seus filhos, mas nossa luta não vai dar em nada se não tiver apoio”, desabafa Lilian.
O crime
Para quem não se lembra, Breno e Leonardo foram sequestrados em frente ao bar Vinte e Um, em Campo Grande, por volta das 20h30. Os dois foram abordados pelos bandidos quando entravam no carro para ir embora. O veículo era uma Pajero e foi o que motivou o crime.
Breno e Leonardo foram sequestrados, torturados durante o caminho e assassinados com um tiro na cabeça. “Eles saíram de casa era umas sete e pouco. Disseram que só iam no bar pra carimbar a entrada e voltariam mais tarde. Eles saíram de lá umas 20h30 e em meia hora já estavam mortos”, conta Ângela.
Breno era acadêmico de Engenharia Civil e Leonardo de Direito. “Ele fazia faculdade no Rio Grande do Sul, mas estava em Campo Grande porque a universidade estava em greve”, lembra a mãe de Leonardo.
Ela conta também que o filho havia perdido a carteira de habilitação e pegou a nova três dias antes do crime.
“Ele foi tirar a carteira uns dias antes de voltar pro Rio Grande do Sul, onde estava morando e fazendo faculdade. E enquanto estava sem habilitação, nós não dávamos o carro pra ele. A carteira ficou pronta na segunda, na quinta aconteceu a tragédia”, lembra Ângela.
Os bandidos queriam o veículo, que estava em nome do pai de Leonardo, para levar até a Bolívia e trocar por drogas. No total, seis pessoas foram condenadas, em 2013, pela morte dos universitários e pegaram penas acima de 30 anos de prisão.
“Pegaram pena máxima, mas pode ser que não fiquem muito tempo presos. Mas não fico acompanhando, não me alimento disso. Pra mim isso não é o que importa. A Justiça fez o que tinha que ser feito, a polícia trabalhou exemplarmente… Mas nada disso vai trazer os meninos de volta. O que nos alimenta mesmo é lutar para que isso não aconteça com outras pessoas”, finaliza Ângela, representando o sentimento das famílias de Breno e Leonardo.
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