No ‘Morro do Mandela’, Páscoa é modesta, mas significa vitória para quem fugiu do aluguel
Comunidade tem 500 crianças
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Comunidade tem 500 crianças
Com uma população de 500 crianças entre um e doze anos, a comunidade do Morro do Mandela, em Campo Grande, vive uma Páscoa modesta, sem o apelo comercial comum da data, mas com um significado de vitória para quem, com a ocupação, teve condições mínimas de comemorar o feriado.
As primeiras ocupações dos terrenos ao lado do conjunto habitacional Isabel Garden começaram em julho do ano passado, e hoje somam mais de 500 barracos, como explica a líder da comunidade Jaqueline Rocha, 26 anos.
“A gente chegou aqui eu e mais duas famílias e de repente foi chegando um monte de gente”, diz Jaqueline. Em setembro, já eram mais de 300 barracos.
A maioria veio para o local para escapar dos altos custos do aluguel, enquanto aguardam uma habitação regular em programas habitacionais da Prefeitura e do Estado. Hoje, dia em que boa parte da população celebra a Páscoa, feriado católico que lembra o ressureição de Jesus Cristo, o fato de ter se livrado da despesa .
É o caso da ajudante de copa Elisamar Aparecida, 34 anos. Sem conseguir sustentar o aluguel de onde morava, no bairro Villa Ravena, e custear a alimentação dos quatro filhos, ela veio para o Morro do Mandela há seis meses junto ao marido Cleiton Santos, 22 anos.
“Aqui a gente pode trabalhar e guardar um dinheiro pra gente”, explica Elisa. Com o dinheiro que sobra, a moradora conseguiu comprar ovinhos de chocolate para os quatro filhos. Ela diz que gostaria de ir na missa pra celebrar o feriado cristão, “mas é difícil né? Eu trabalho todo dia e só folgo um domingo por mês…”.
Já a dona do lar Mônica Aparecida, 48 anos, que vive num barraco junto com o netinho de seis anos e o marido, explica que pra ela o mais importante na Páscoa é estar reunida com a família.
“Comprei uma caixinha de bombom que eu sei que ele gosta”, diz Mônica sorrindo. A filha foi passar o feriado em Eldorado, mas na segunda-feira (17) já volta. A dona de casa também veio para a ocupação para fugir do aluguel alto que pagava, na Vila Margarida. “Chegamos aqui há seis meses e ainda não tinha tanta gente. Agora cresceu muito”.
Com cinco crianças na casa que divide com o irmão e a enteada, Jucélia Gonçalves, 28 anos, espera que a Páscoa deste ano seja de muita saúde . “É o que importa né?”, diz a moradora.
No sábado (15), ela conta que as crianças ficaram muito felizes recebendo doações de pequenos kits de chocolate, vindos de irmãs da Igreja Perpétuo Socorro. “Foi uma festa, um monte de criança correndo”, lembra Jucelia. Pra este domingo ela não sabe dizer se haverão mais doações.
“Eu morava de favor na casa de outra pessoa. Essa situação é muito comum aqui, o pessoal tinha que pagar aluguel caro, morava de favor. Agora pra quem trabalha sobra mais um dinheirinho, até pra comprar um ovo de chocolate”, explica Jucelia.
Morando de frente pra Rua Jorge Budib, a atendente de loja Franciele Gabriela, 24 anos, colocou uma placa na frente de seu barraco convidando quem passa a fazer uma doação de ovos de páscoa para as crianças da comunidade.
“A gente não quer só doação de ovo, chocolate não. Aqui a gente ainda precisa muito de roupa pras crianças, de lona. Quando chove estraga tudo a lona das casas”, lamenta Franciele.
Morro do Mandela
Apesar da maioria dos moradores entrevistados não saberem quem é Nelson Mandela, líder rebelde e principal representante do movimento anti-apartheid, a organização do Morro mostra uma resistência digna do líder que dá nome à comunidade.
“Aqui quiseram tirar a gente logo quando chegamos”, lembra um morador que nao quis se identificar. “Nós ligamos pro oficial da Justiça e ele disse que se tivesse água e luz pra fornecer segurança pras famílias daqui, ninguém poderia ser retirado a força”.
Em pouco tempo, havia ligações de água e luz em todos os barracos, que também recebem um número cada um. A ajudante de copa Elisamar complementa: “a gente tenta se organizar pra deixar tudo limpinho aqui. Não é só porque aqui é favela que tem que ser tudo sujo ou desorganizado”.
Os moradores chegaram a montar uma estrutura pra acompanhar possíveis movimentações de tentativa de desocupações, na frente da Rua Jorge Budib. Dali, é possível ver quem desce ou sobe em direção ao morro.
(Sob supervisão de Marta Ferreira)
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