Quem foi Vovózona, a sucuri-verde encontrada morta em Bonito, e por que ela era tão famosa
A mesma sucuri também leva o nome de Anajulia e as causas de sua morte estão sendo investigadas pela Polícia Civil. Relembre um pouco da história e da vida da serpente
João Ramos –
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Os dias são de tristeza em Bonito (MS), cidade localizada a 260 quilômetros da capital Campo Grande. Por lá, segundo moradores e turistas, até as águas do Rio Formoso estão diferentes depois que Vovózona, a maior sucuri-verde da região, foi encontrada morta no último fim de semana. Mas, afinal, quem foi essa cobra e qual sua relevância para o cenário mundial da espécie?
Vovózona, também conhecida como Anajulia e chamada de Rainha do Rio Formoso, segundo pesquisadores, era simplesmente a sucuri-verde (Eunectes murinus) mais famosa do Brasil e do mundo. Uma verdadeira estrela animal, a serpente foi assunto de diversas reportagens do Jornal Midiamax ao longo dos últimos anos. Sua popularização se deu, mais recentemente, com a divulgação frequente da cobra por Vilmar Teixeira, apelidado de pai das sucuris, em seu canal no YouTube.
Criado e administrado por Vilmar, o perfil “Terra da Sucuri” na plataforma de vídeos foi responsável por desmistificar a má fama de assassina entre as serpentes da espécie. Diariamente, o guia e monitor ambiental convive com estas cobras na região alagada de Bonito, onde atua levando turistas para verem as sucuris.
Aproveitando os passeios rotineiros, Vilmar então passou a filmar a rotina das sucuris-verdes da região e publicar no canal. Com o tempo, ele, inevitavelmente, criou sentimento pelos animais e virou um monitor das mesmas, tornando-se referência na atuação da conservação e preservação da espécie. Um verdadeiro porta-voz das sucuris.
É por isso que o profissional é visto como um guardião das cobras em Bonito e seus registros tomaram proporções internacionais, sendo Vovózona a cobra de maior repercussão. Por meio das gravações do guia, o animal passou a ser notícia frequente em portais de todo o país, e é claro, do mundo.
Fama de Rainha
O batismo com o nome Vovózona partiu do próprio Vilmar e se deu pela idade avançada e pelo tamanho da cobra: 6,5 metros – a maior da área alagada de Bonito. Cada vez que uma nova sucuri-verde aparecia na região, Vilmar as apelidava seguindo a linha de raciocínio: uma segunda, menor que Vovózona, ganhou o nome de “Mãezona”, enquanto uma terceira recebeu a alcunha de “Tiazona”.
Entre todas, Vovózona era a mais imponente e majestosa do local onde o pai das sucuris atua, por isso tornou-se a Rainha do Rio Formoso.
O auge do estrelato da sucuri Vovózona
O “boom” do assunto e da fama de Vovózona se deu em 2022, durante a exibição do remake da novela “Pantanal”, da TV Globo, quando o termo “sucuri” estava em alta nas pesquisas. O fato do folhetim ter um personagem que se transformava em uma cobra da espécie aguçou ainda mais a curiosidade da população acerca da espécie.
Só no Jornal Midiamax, Vovózona foi notícia inúmeras vezes. Até poucas semanas antes de seu falecimento, ao ter imagens inéditas divulgadas pelo biólogo holandês Freek Vonk, a serpente foi capa de noticiários pelo mundo. Desse modo, ano após ano, seja por algum novo acasalamento, avistamento, momento de refeição, um simples banho de sol, e agora seu falecimento, a cobra segue sendo assunto.
Todos estes holofotes fizeram, por exemplo, vários youtubers se organizaram para irem até Bonito só para conhecer a majestosa sucuri no ano passado. E este tipo de turismo buscando a cobra é, de fato, um dos mais frequentes por lá: todo mundo queria ver Vovózona.
Cercada de cuidados e outro nome: Anajulia
Além do monitoramento quase diário de Vilmar Teixeira, a serpente era acompanhada pela bióloga Juliana Terra, cientista responsável por estudar as sucuris da região, e por documentaristas de vida selvagem como Cristian Dimitrius, que registrou a serpente por mais de 10 anos, gravando documentários importantes para BBC e NatGeo com sua participação.
O contato e observações a longo prazo levaram uma equipe da qual Dimitrius fazia parte a apelidá-la de Anajulia, sendo este um nome que só veio à tona após a cobra ter sido encontrada morta. Antes disso, Ana sempre foi conhecida como Vovózona, até a alcunha dada por documentaristas e biólogos ganhar conhecimento público.
Comoção com agravantes
Mas, qual o real motivo da serpente ser tão vigiada, noticiada, gravada, comentada e procurada? A resposta é bem simples: além de ser conhecida em todo mundo devido à proporção da divulgação de sua existência e seu comportamento em Bonito (MS), Anajulia era simplesmente a maior sucuri-verde catalogada no mundo, com 6,5 – quase 7 – metros de comprimento.
Isto já é suficiente para qualquer alvoroço, mas, ao ter seu dia a dia registrado e publicado no YouTube por Vilmar, além de ser alvo de fascínio de documentaristas, objeto de estudo de pesquisadores, e viver sendo a maior de todas numa área onde habitam dezenas de sucuris-verdes, Vovózona tornou-se um ícone, um verdadeiro símbolo da fauna sul-mato-grossense, projetando Mato Grosso do Sul e sua preservação para outros continentes.
É por isso que tamanha comoção por sua morte não ocorre à toa.
Com base nos vídeos de Vilmar Teixeira, diversos biólogos e ambientalistas produziam e ainda produzem conteúdo sobre Vovózona. Alguns deles são o Biólogo Henrique, Biomesquita, Gustavo Figueirôa e outros.
Outro profissional respeitado, especialista em sucuris-verdes, Daniel De Granville também conviveu com a serpente durante os 14 anos que viveu em Bonito. Leia aqui.
Morte da sucuri
Em meio a tudo isso, Anajulia, ou Vovózona, foi encontrada morta no último fim de semana por guias de passeio de bote nas margens do Rio Formoso, em Bonito (MS). O documentarista Cristian Dimitrius foi quem tornou a informação pública. Segundo ele, Vovózona teria sido morta a tiros, mas as autoridades competentes ainda não confirmaram o crime ambiental. A notícia impactou não só a região e tomou proporções, mais uma vez, internacionais.
No entanto, em perícia inicial realizada nesta segunda (25), a Polícia Militar Ambiental não encontrou marcas de tiro na carcaça da serpente. Ainda assim, a PMA informou ao Jornal Midiamax que o animal está muito inchado, o que dificulta a visualização de alguma perfuração por projétil de arma de fogo.
Além disso, a PMA contatou a Polícia Civil, que vai enviar uma equipe de peritos para verificar as possíveis perfurações e deve assumir o caso.
Investigação e futuro da sucuri Vovózona
Conforme o delegado titular da Polícia Civil de Bonito, Pedro Ramalho, ele, juntamente com uma equipe de peritos, irão periciar a sucuri nesta terça-feira (26) para verificar o que de fato ocorreu. “Se for comprovado que a morte foi provocada pelo ser humano, essa pessoa irá responder por crime contra a fauna”, explica o delegado.
O comandante da PMA, coronel José Carlos Rodrigues, afirma que, se comprovado o crime contra a sucuri, o responsável poderá responder por crime ambiental, que tem pena de detenção que varia de 6 meses a um ano, além de ser multado no valor que pode chegar R$ 5 mil. “Além de responder criminalmente, o autor será autuado administrativamente”, destaca o militar.
Rodrigues revelou ainda que, após ser periciada, a sucuri será trazida para Campo Grande (MS), onde passará por um processo de embalsamamento, metodologia que preserva a aparência e características do animal. “Posteriormente ela integrará o acervo de animais taxidermizados da Polícia Militar Ambiental e fará parte das exposições que nós realizamos”, garante.
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