Sucuris fizeram Juliana mudar de cidade em Mato Grosso do Sul: ‘não é fácil’
Juliana conta por que precisou mudar de cidade por causa das sucuris e detalha a relação direta que tem com as cobras dessa espécie ao longo dos últimos 8 anos
João Ramos –
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O interesse pelas sucuris, aliado a uma necessidade, fizeram uma sul-mato-grossense mudar de cidade. Juliana de Souza Terra, de 34 anos, é bióloga e precisou trocar de endereço para ficar bem pertinho das sucuris-verdes em Mato Grosso do Sul. Em entrevista ao Jornal Midiamax, a profissional explica o passo a passo da decisão e detalha sua história com as sucuris.
Natural de Campo Grande, Juliana se formou em biologia pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) em 2009 e fez doutorado em Ecologia na USP (Universidade de São Paulo).
“Sou daqui, saí pra fazer o doutorado em Ecologia, mas a área de pesquisa é por aqui mesmo. O foco da minha pesquisa é em sucuris-verdes, a Eunectes murinus“, inicia a bióloga, que é uma das maiores referências do assunto no país.
E foi justamente para estudar as sucuris que Juliana se mudou para Bonito, depois de um vai e vem sem fim. Ela conta à reportagem que desenvolve um projeto de estudos com as sucuris, em parceria com a UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) na região.
“Estou morando em Bonito. Vim para o projeto, por causa do projeto”, confirma.
O que ela faz com as sucuris?
A trajetória da bióloga com as sucuris teve início oficialmente em seu doutorado, em 2015. Mas, antes disso, ainda na faculdade, o olhar apurado fez a campo-grandense entender que precisava descobrir mais sobre essas serpentes.
“Comecei a estudar sucuris no meu doutorado, mas ele terminou e nós mantivemos o trabalho, que é sobre o estado natural da espécie. Observamos o uso do ambiente, atividade, alimentação, reprodução, tudo no estado natural do animal, na natureza”, detalha.
Outro objetivo do trabalho é avaliar o risco de extinção das sucuris diante das mudanças climáticas. “Nós observamos que uma espécie pode ser extinta e outra reduzida e, por termos poucas informações desses animais na natureza, iniciamos essas análises em estado natural para termos dados e pensarmos em maneiras de conservação a longo prazo”, explica Juliana.
Interesse por sucuris surgiu no início da graduação: “não é fácil”
Ao Jornal Midiamax, Juliana conta que passou a se especializar em répteis na época em que cursava biologia na UFMS. “Quando você começa a se especializar num grupo você lê muito sobre ele. E percebendo que existiam pouquíssimos dados sobre sucuris na natureza, além dos conflitos com seres humanos de forma direta ou indireta, então eu tive interesse em estudá-las espécie justamente para abordar essas questões ecológicas”, conta.
“Ao mesmo tempo que fui tendo a percepção da importância que seria pesquisar as sucuris na natureza, identifiquei aqui na região de Bonito uma área de potencial muito grande para estudar esse animal”, comenta ela.
São vários os motivos pelos quais Bonito foi avaliado como um bom local para colher dados científicos da Eunectes murinus, apesar das dificuldades em pesquisar e observar uma cobra de tal porte, cheia de mitos e com poucos documentos sobre seu comportamento na natureza.
“Não é fácil de estudar essa espécie, mas aqui temos essa facilidade, é um lugar de fácil acesso, tem bastante bicho, água cristalina… por tudo isso percebemos a oportunidade de examinar a população de sucuris em estado natural nesse lugar”, elenca.
Mudança e o trabalho com as sucuris em Bonito
Juliana mora em Bonito há 4 anos. Antes disso, ela ficava entre Campo Grande, Bonito e São Paulo, indo e voltando por conta do projeto. “Vim de fato mesmo em 2019. Antes, em 2017, alugamos casa, tudo pra facilitar o trabalho, não ficar pagando hotel, hospedagem, porque eu precisava vir todo mês. A vinda pra cá foi mesmo por causa do projeto, das sucuris”, afirma.
E sim, a bióloga vai a campo se encontrar com as sucuris, mas essa parte da pesquisa se concentra no inverno, época de seca. “É quando conseguimos encontrar esses bichos, porque no verão, basicamente, elas não saem da água. Em junho, julho, até outubro, os bichos saem diariamente dos rios e lagos e aí começam os nossos trabalhos de campo, coletando informações”, explica ao MidiaMAIS.
“Não é longe, não demoramos horas pra chegar. São localizações acessíveis, até por conta do turismo. A gente encontra o animal e anota todas as variáveis: o que o animal está fazendo, onde está, qual é o horário do dia, a temperatura, se está se alimentando, se reproduzindo, como está sendo a reprodução. Até porque a reprodução delas é bem característica, elas fazem um bolo, e esse é um foco muito importante do nosso estudo”, pontua Juliana.
Vem por aí…
Por fim, ela adianta ao Jornal Midiamax os próximos passos de sua pesquisa, por meio do Projeto Sucuri. “Vamos iniciar, provavelmente este ano, a parte subaquática, porque tudo o que se sabe sobre sucuri é sobre ela fora da água, embora seja um animal aquático”, revela.
“Dentro da água é muito difícil estudar as sucuris e a maior parte do território que elas vivem são águas escuras. Por isso é tão importante começar esse estudo. Vamos iniciar também a parte da área de vida, que é a área que o animal precisa para manter a atividade”, finaliza a bióloga.
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