A casa, no bairro Coophasul, região norte da cidade, faz qualquer um parar ou reduzir a velocidade para ser observada. Se for ao entardecer, então, sugere uma imagem até um pouco assustadora: são centenas de macas hospitalares na varanda, além de cadeiras de roda, andadores e suportes de soro. Mas, o que chama a atenção de quem passa por ali é algo longe de ser ruim. É o ambiente de quem se doa, diariamente, consertando estes objetos e doando ou emprestando para quem precisa.

A reportagem chegou ao local em um dia da semana comum, quando um veículo adaptado entrou de ré pela garagem, já que em instantes uma cadeira de rodas seria colocada e levada ao destino.

Enquanto isso, os voluntários se entendiam com as ferramentas e arrumavam, minuciosamente, parafusos, rolamentos e até a pintura. Segundo eles, quem recebe sempre se depara com um objeto, incluindo também “amor e carinho” na doação.

“Faço trabalho voluntário aqui durante meio período, diariamente. Fazemos toda a reforma dos objetos, ficam novinhos e prontos para uso. Faço isso há cerca de oito anos e é muito bom quando vemos o quanto as pessoas que recebem ficam felizes. É o que nos move”, afirmou ao Jornal Midiamax o empresário de 62 anos, que prefere não se identificar.

‘Cama era em caixas de cerveja empilhadas'

Há menos tempo no projeto, porém, com o mesmo empenho, está a assistente social Amanda Côrrea Borges, que contabiliza histórias consideradas tristes e, ao mesmo tempo, emocionantes. “Nestes dois anos, sempre fazemos o nosso relatório das visitas, para realmente entender a necessidade de cada paciente, de receber aquela cama hospitalar, por exemplo, porque a nossa preferência é sempre para quem realmente precisa”, contou.

Assim, o que era para ser um dia comum se tornou um dia para ficar marcado em sua história como profissional. “Recebemos a solicitação de uma maca e aí fomos fazer as visitas rotineiras para o nosso relatório. Antes de chegar, já vi que o senhor estava em estado terminal, necessitando muito. E aí me deparei com o paciente deitado em uma cama improvisada, que eram caixas de cerveja empilhadas e uma porta de madeira por cima. Eu nem saí da casa, liguei na hora na Associação e disse que era urgente”, relembrou a assistente social.

(Graziela Rezende, Midiamax)

Segundo Amanda, ao ver a extrema necessidade do idoso, ela pediu que fosse levada a maca no mesmo momento. “Este atendimento me marcou muito. A família ficou extremamente grata, não sabia mais o que falar e fazer naquele momento. Esta história me marcou muito, mas, temos várias aqui. Sou extremamente grata por este trabalho. Tem pessoas que usam a maca há 10 anos já e aí temos que fazer também”, comentou.

Ao entender todo o processo, desde a sucata até o objeto pronto, a assistente social fala que é uma transformação que leva qualidade de vida para as pessoas. “Recebemos muitos relatos nas redes sociais também, é inexplicável este sentimento, fazer a diferença na vida das pessoas. E o pessoal que trabalha aqui se doa muito, não tem nem o que dizer, é uma realização profissional muito grande para nós, mas, para eles, é muito mais. É muito gratificante”, argumentou.

Macas eram sucatas de hospitais e ‘ganham vida' na Associação

De acordo com a assistente social, a varanda da casa abriga as macas que eram sucatas de hospitais, depois foram arrematadas em ferros-velhos e, por último, são adquiridos e ganham vida na Associação. Ao todo, cerca de 100 macas já foram doadas e 800 emprestadas desde o início do projeto.

De lá, vão para a sede da AFBFB (Associação Fazer o Bem Faz Bem), na Rua Januário Barbosa, n° 366, ao lado do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) da Vila Nasser, mesmo endereço onde muitas pessoas também levam doações, sejam elas objetos não mais utilizados ou enxoval para mães carentes.

Doação também inclui enxoval para mães carentes

Neste caso, a ação voluntária ganhou o nome de ‘Projeto cuidada: Kit maternidade com amor', que iremos adquirir com destinação de emenda parlamentar. Quem recebe tem acesso a produtos de higiene, shampoo, cotonete, algodão, sabonetes, roupinhas RN e fraldas RN e P e a banheira.

“Eu peguei o kit quando estava de sete a oito meses de gravidez. Fui até lá perguntar sobre doações de roupas, quando fiquei sabendo do kit. Fiz o cadastro e, em menos de um mês, levaram em casa. Na época, comentei com outras pessoas e achei tudo muito bom. São coisas que, muitas vezes, não temos condições de comprar. E o pouco, muitas vezes, vira muito”, afirmou a dona de casa Leidy Laura Moraes da Silva, de 34 anos.

Atualmente, o está com um ano e sete meses. “Eu sou muito grata ao projeto. Fez o bem para mim e muitas pessoas que conheço. E fora isso tem o principal né, em que eles doam cadeiras de rodas para quem precisa. É uma corrente do bem, que tomara que continue por muito tempo”, ponderou.

Objetos reformados e enviados para doação. (Associação Fazer o Bem Faz Bem/Reprodução)

No caso da dona de casa Aline Mendes Moraes, de 34 anos, a doação fez total diferença na vida dela e na da filha mais velha, Aghata Cibelly Mendes, de 4 anos.

Com paralisia cerebral, a mãe lutava há dois anos por melhorias e inclusive disse que andava pela cidade com a menina no colo, visitando entidades e buscando apoio.

“Fiz vários pedidos, até que a diretora da creche me apresentou a associação. Por conta da dificuldade na locomoção e tudo o que se passa na nossa rotina, eles abraçaram a minha causa. Isso ocorreu há um mês e, desde então, mudou muito. Ela já estava um pouco pesada para carregar e agora tem mais conforto e segurança”, argumentou.

Por fim, Aline diz que este é um projeto “realmente solidário”. “Senti a atenção deles [voluntários] desde o início. Me atenderam super bem e vieram entregar a cadeira de rodas. Sou mãe solteira, moro na comunidade invadida e tenho mais um nenê, então realmente preciso. Agora estou na luta por fraldas e leite”, finalizou a mãe.

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