Há 36 anos raizeiro ganha a vida à sombra da árvore que plantou na Afonso Pena

Ele tem um pé de jamelão para “chamar de seu”

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Ele tem um pé de jamelão para “chamar de seu”

Há 36 anos raizeiro ganha a vida à sombra da árvore que plantou na Afonso Pena

A memória já não traz tantos detalhes, mas seu Sebastião lembra que naquele tempo, onde há uma grande loja, “tinha um galpão que fazia carroceria de caminhão”. Seu ponto de vendas era em frente à Morada dos Baís, quando ainda se chamava Pensão Pimentel. “Era um sol quente”, descreve. Mas para ter a tão desejada sombra, ele precisou ser persistente. “Plantei umas 15 mudas pra ficar uma, chegava de manhã e a árvore não tava mais aí”, relembra.

Seu Sebastião divide a sombra de seu pé de Jamelão com um ponto de moto-táxi na Afonso Pena.

 

Seu Sebastião proclama propriedade sobre a planta. “Ela está cadastrada na Prefeitura em meu nome. Se a Prefeitura quiser fazer alguma coisa, tem que falar comigo”. Em abril ela começa a produzir e “fica com penca cheinha de frutinha”, descreve.

Fazem bem

Tudo que ele sabe sobre as propriedades das plantas aprendeu com o pai, que era lavorista. Alguns dos itens mais vendidos são plantas de nomes não muito amigáveis, mas que, segundo seu Sebastião, fazem um bem danado para a saúde, como por exemplo, a rancorosa que é “boa para o sangue, limpa e afina”. A jataica ‒ também conhecida como macela ‒ é outra erva muito procurada que, de acordo com o raizeiro, “faz bem para o apêndice e a vesícula”.

Há 36 anos raizeiro ganha a vida à sombra da árvore que plantou na Afonso Pena

 

A diarista Rosilene Santos de Oliveira, de 49 anos, que normalmente compra as plantas medicinais no Mercadão, passou pelo local e comprou outra das mais pedidas com seu Sebastião: a algodãozinho. “É bom para o sangue, para inflamação. Sempre compro para colocar no chimarrão”, explica. “Às vezes cozinho os remédios e vou tomando como água. Cada um tem uma especialidade”, recomenda ela, que, mesmo utilizando as raízes e ervas vai ao médico, “mas nem comento, porque eles não gostam, nem toco no assunto”, completa.

Até a vinda de Cristo

Ser raizeiro foi o ofício que ocupou a maior parte da vida de seu Sebastião. “Já trabalhei como pedreiro e carpinteiro quando era moço, mas nem lembro mais”. Às 6h da manhã ele chega e retorna para sua casa, que fica no bairro Zé Pereira, por volta das 17h. Os produtos são colhidos da natureza. De tempos em tempos o raizeiro viaja de 70 a 100 quilômetros para coletar as folhas e raízes.

Com satisfação, seu Sebastião diz que pretende continuar vendendo raízes 'até a vinda de Cristo'.

 

Se ainda tem muita gente que compra raízes? “Vende mais que a farmácia, se brincar. Vende muito”, garante e conta que tem clientes fiéis. “Já atendi tanta gente que não me lembro mais. Tem gente que compra comigo há mais de 10 anos. Tenho uma aposentadoria, é de 1 cruzeiro, mas eu tenho. E se Deus permitir, fico aqui até a vinda de Cristo”, resume.

Com 3 filhos e 7 netos, seu Sebastião se orgulha em dizer que “estão todos criados. Todos moram na casa deles e eu tenho a minha”. Uma história de sucesso vinda de um tímido senhor que, de início não queria dar muita conversa, inspira e faz acreditar que felicidade e satisfação moram nas coisas pequenas e simples.

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