Para Fred, planejamento é segredo de superação e cadeira de rodas é liberdade

Coach venceu obstáculos e hoje inspira outras pessoas

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Coach venceu obstáculos e hoje inspira outras pessoas

“Chegou a hora da virada. Algo novo começa de agora em diante”, diz o cartão de visitas do coach Alfredo Torres, 38. É o suficiente para entender que Alfredo, ou melhor, Fred, entende bastante de autoestima – ele é dono de uma empresa que auxilia pessoas a superar obstáculos e a alcançar sucesso em projetos pessoais. “A maioria das pessoas se boicota o tempo todo, meu papel é mostrar como isso ocorre e assim a pessoa consegue superar aquele obstáculo”, conta o coach.

Para Fred, planejamento é segredo de superação e cadeira de rodas é liberdade

O que o cartão de visitas dele não mostra, no entanto, é que para chegar até esse status de treinador (significado de coach, em inglês), Fred precisou superar os desafios que a vida lhe impôs. Há 13 anos, com apenas 24, ele era policial militar que, a caminho do trabalho, sofreu um grave acidente de moto. “Na queda, cai sobre a minha arma e tive uma lesão na coluna”, conta. “A partir daí eu vi minha vida se transformar, porque eu fiquei paraplégico”, completa Fred, que atualmente é policial militar reformado.

Por mais que a adaptação a uma nova realidade seja um processo difícil e, muitas vezes, longo, Fred conta que não lamentou nenhuma vez. Das cirurgias emergenciais, à reabilitação e aceitação da nova realidade, sobrou resiliência. “Tirei de letra. As pessoas falam que a gente fica preso a uma cadeira de rodas, mas não tem nada a ver, é bem o contrário disso. A cadeira nos dá liberdade de ir e vir, eu não estou preso a nada”, afirma o coach.

Vencendo os medos

Fred superou os medos e foi ao evento que tanto quis ir, em São Paulo (Arquivo pessoal)

.

Só tinha um ‘porém’, no entanto. Fred não conseguia se ‘transferir’, ou seja, efetuar o processo de mudar da cadeira para a cama ou da cama para a cadeira, por exemplo. E foi isso que fez, por muito tempo, com que a mobilidade dele não fosse maior do que poderia ser. “Eu nunca tinha viajado sozinho, porque eu ia precisar de ajuda para sair da cadeira, deitar na cama… Em casa fazia as transferências sozinho, mas com uma corrente adaptada ao teto. E eu percebi que isso fazia parte da minha autossabotagem”.

O medo da transferência é algo comum para pessoas cadeirantes em início de adaptação. Mas, no caso de Fred, durou quase 12 anos, porque ele evitou a fisioterapia e fortalecimento da região lombar por muito tempo. “Essa é a autossabotagem a que eu me referi. Se eu não tivesse largado a fisioterapia eu teria mais segurança”, conta.

Foi justamente aí que o medo de Fred cruzou com a vontade de descobrir um novo território, com o qual passou a se identificar muito. Após passar por uma formação de coach em Campo Grande, a vontade de imergir nesta área fez com que Fred passasse a repensar seus medos. “Eu queria fazer uma viagem e receber um treinamento em São Paulo. Mas como que eu iria sem saber transferir? ”, conta.

A solução era colocar em prática um de seus aprendizados, dentre eles, o planejamento. “Com planejamento eu conseguiria pensar em cada etapa e ir superando uma a uma”, conta Fred, que voltou para a reabilitação. “O que me falavam lá era para ter calma na transferência, mas eu ficava ansioso. Eu estava quase conseguindo, e a data da viagem estava chegando. E a ansiedade só aumentava”, conta.

Com o couch Geronimo Theml - superando desafios (Arquivo pessoal)Ele precisou de um plano B, caso não alcançasse sucesso na transferência. “Eu consegui um amigo que ia para o mesmo evento, e que ia dividir quarto comigo. E para falar a verdade eu viajei sem conseguir transferir. E até fiz as contas: eu ia tentar mudar para a cama do hotel, que era 100% adaptado para cadeirantes, e se eu não conseguisse e caísse, ia ficar no máximo umas duas horas no chão, esperando esse meu amigo chegar no hotel”.

Mas, não foi necessário.

“Eu fiz a transferência. Eu consegui me superar. Eu mentalizei o aprendizado, coloquei em prática o planejamento e mantive a calma. Foi quando eu mudei da cadeira para a cama. Eu consegui superar a única coisa me limitava. Eu tinha medo de viajar porque não queria cair, mas, a partir do momento em que eu me planejei para superar aquilo, foi como se um novo mundo surgisse diante de mim”, conta.

A viagem foi um sucesso, claro. Fred até conseguiu, dentre milhares de pessoas, atenção especial dos coaches que organizavam o evento. E superado o desafio, Fred preparou a mala mais uma vez. Já está na sua segunda viagem sozinho e planeja a terceira, agora, internacional. “Preciso me planejar mais, inclusive financeiramente. Mas agora eu me sinto mais preparado. Eu não tenho mais o fantasma da mobilidade. Me sinto livre”, conclui.

Conteúdos relacionados

sexta feira 13
cidade do natal familia de renas