Racismo velado do público prejudicou Babilônia, afirma atriz

Racismo velado do público prejudicou Babilônia, afirma atriz

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Racismo velado do público prejudicou Babilônia, afirma atriz

O principal motivo da rejeição a Babilônia foi a homofobia de parte dos telespectadores, certo? Não, errado.

Quem discorda é ninguém menos que Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes do país e ‘vítima’ do levante contra a homoafetividade mostrada na novela.

A personagem dela, a advogada militante Teresa, e a de Nathália Timberg, a dona de antiquário Estela, foram tratadas por frações da imprensa e do público como culpadas pelo ibope baixo da trama.

Os dois beijos na boca entre as discretas senhoras, logo no primeiro capítulo, teriam selado a fuga dos noveleiros conservadores.

Porém, em entrevista ao jornalista Roberto D´Avila, na GloboNews, que será exibida à 0h05 desta madrugada de sábado para domingo (6), Fernanda Montenegro responsabilizou o racismo pelo desempenho sofrível do folhetim.

“É a primeira novela em que dois terços do elenco é de atores negros, que não são subservientes, que ascendem por um esforço próprio enorme, e que se casam de uma forma muito miscigenada”, argumentou a atriz.

“Então ficou tudo em cima da homossexualidade, mas eu tenho certeza que sobre essa zona da negritude tão ascendente e tão vitoriosa, sem subserviência, ninguém vai falar porque o preconceito de raça realmente dá cadeia, então querem ver o negro não sei onde, um caso aqui outro ali numa novela, mas uma frente de negritude ganhando espaço numa novela das nove? Nunca houve e ninguém fala isso.”

Babilônia teve personagens negros de destaque (a maioria em relacionamento com parceiro branco). A começar por Regina, uma das protagonistas. A atriz Camila Pitanga se define como negra. Uma pesquisa do Datafolha, anos atrás, mostrou que apenas 27% dos entrevistados viam a atriz como da ‘cor preta’.

Regina representou a ascensão social do negro no Brasil de hoje: a dona de barraca na praia se tornou proprietária de restaurante-antiquário e modelo de grife internacional. Saiu de uma casa simples no morro para morar num apartamento de classe média no ‘asfalto’. Trocou o ônibus por um carro importado. Casou-se com um advogado branco, Vinícius (Thiago Fragoso).

A gaúcha Sheron Menezes interpretou a advogada Paula. Moradora da favela no início da trama, ela terminou o folhetim num apartamento da zona sul do Rio, com o namorado branco (Bento/Dudu Azevedo) e uma filha adotiva negra.

O irmão de Paula, o esportista Ivan, papel de Marcello Melo Jr., viveu alguns episódios de racismo ao longo da história. Era discriminado por pitboys por ser negro e gay assumido. Teve final feliz, com direito a beijo na boca, com o executivo branco Sérgio (Claudio Lins).

Juliana Alves encarnou Valeska, uma versão do estereótipo da mulata sambista sedutora. No último capítulo, terminou numa relação a três com o chef de cozinha Norberto (Marcos Veras) e o desocupado Clóvis (Igor Angelkorte), ambos brancos.

Outros atores negros interpretaram personagens que, mesmo secundários, tiveram destaque em algum momento da trama escrita por Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.

Gilberto, aliás, escala artistas afrodescendentes para suas novelas desde muito antes de se falar em cota racial no Brasil.

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