RS: radialista transmite notícias sobre a Seleção em alemão

Com menos de 3 mil habitantes, a cidade gaúcha de Westfália é um recanto da Alemanha no Sul do Brasil. Durante a Copa, a junção de traços brasileiros e germânicos será ainda mais nítida. Os moradores que sintonizarem a rádio comunitária local ouvirão comentários e notícias produzidas e narradas em alemão. Apaixonado pelos microfones, o […]

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Com menos de 3 mil habitantes, a cidade gaúcha de Westfália é um recanto da Alemanha no Sul do Brasil. Durante a Copa, a junção de traços brasileiros e germânicos será ainda mais nítida. Os moradores que sintonizarem a rádio comunitária local ouvirão comentários e notícias produzidas e narradas em alemão.

Apaixonado pelos microfones, o radialista e agricultor Ido Ahlert, 57 anos, será o responsável por transmitir as novidades sobre a Seleção Brasileira. Para realizar o trabalho, o comunicador não sai de casa, pois o estúdio da Rádio Líder FM está instalado na própria residência. “Temos uma pequena Alemanha em Westfália. Cerca de 60% da população sabe falar ou entende a língua alemã. Há pessoas que não compreendem tão bem o português”, explica.

Ahlert, que além dos trabalhos com a rádio cultiva alimentos para o consumo familiar, demonstra-se orgulhoso com a oportunidade surgida em virtude da Copa. Perguntado se a sua torcida será para o Brasil ou para a Alemanha, ele não hesita e responde, com voz firme de locutor: “nosso coração é brasileiro. Não pode ser diferente”, resume.

Da lavoura aos estúdios

O vínculo do comunicador com os microfones se fortaleceu em 2005, quando passou a ancorar um programa radiofônico em Teutônia, município vizinho de Westfália, que fica a 115 quilômetros de Porto Alegre. Filho de um casal de agricultores, Ahlert fez da enxada seu principal instrumento de trabalho nos afazeres do campo até os 17 anos. Em seguida, atuou em uma empresa do ramo alimentício e como funcionário público. Porém, foi somente em outubro de 2009, com a aposentadoria, que ele deu início ao trabalho na emissora.

Em paralelo às atividades, ele encontrou no futebol uma forma de lazer. Durante duas décadas, além de torcer pelo Internacional, integrou equipes amadoras da região. Se fosse comparado a algum jogador brasileiro, guardadas as devidas proporções, o radialista seria um Thiago Silva ou um David Luiz, pelo fato de jogar na zaga. “Fui expulso somente uma vez”, orgulha-se.

Com a proximidade do Mundial, o comunicador ganhou notoriedade graças a um anúncio publicitário de um banco. Divulgada no último mês de maio, a campanha destaca a relação entre o trabalho de Ahlert e a Seleção.

O vídeo estrelado pelo radialista já soma quase 4 milhões de visualizações. “Não imaginava uma repercussão tão grande. As pessoas falaram que a cidade ficou conhecida mundialmente”, revela, sem esconder o sorriso.

A herança alemã

Os primeiros imigrantes alemães chegaram a Westfália a partir de 1869. Pelas ruas, é perceptível a herança: na praça da cidade, um grande par de sapatos de pau é transformado em monumento.

Vindos especialmente da região alemã da Vestfália, fato que originou o nome da cidade, os imigrantes tinham o costume de usar esse tipo de sapato, que é produzido com madeira. Passados 145 anos desde o início do período de colonização, o calçado é símbolo do município.

Além dele, outra marca presente no DNA westfaliano é o dialeto Plattdüütsch. Disseminado entre a maioria da população, a linguagem originou-se no norte da Alemanha, mas é bastante semelhante ao holandês. Os moradores, entretanto, chamam o dialeto de sapato de pau.

O secretário de Educação de Westfália, Gustavo Sieben, 35 anos, observa que o dialeto também guarda semelhanças com a língua inglesa. De acordo com ele, o sapato de pau é difundido entre a parcela da população com mais de 40 anos. “Minha avó fala mais esse dialeto do que português”, comprova.

Conforme Sieben, os estudantes do município frequentam aulas de alemão e de inglês durante todo período escolar. Quando começou a estudar, aos 6 anos, o radialista Ahlert sabia falar apenas o sapato de pau.

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