Depois de nove anos, o publicitário e ex-seminarista Gil Rugai, 29 anos, vai a júri popular a partir desta segunda-feira, em São Paulo. Rugai é acusado pela morte do pai, Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e da madrasta, Alessandra de Fátima Troitiño, 33 anos, em março de 2004, na Zona Oeste da capital paulista. Ambos foram mortos dentro de casa, a tiros – Gil sempre negou a participação no crime. A sentença, que será dada pelo juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara da Capital, só deverá ser lida a partir de quarta-feira.

No dia 28 de março de 2004, um domingo, Luiz Carlos e Alessandra – que tinham um relacionamento de 10 anos – foram mortos entre as 21h e as 22h. De acordo com a investigação policial, Alessandra foi morta primeiro. Ao ouvir os tiros, Luiz Carlos teria se trancado em uma sala de TV, que foi arrombada. Ele foi morto, também a tiros, no corredor. De acordo com a polícia, não havia sinais de arrombamento no imóvel.

Após o crime, uma mensagem de Gil foi deixada na secretária eletrônica do casal, avisando que iria retirar alguns pertences seus da casa. Por conta de uma discussão entre pai e filho, Gil teria deixado a residência na semana que antecedeu os assassinatos. A acusação sustenta que a briga se deu depois de que o pai descobriu um desfalque de mais de R$ 100 mil na conta da produtora onde ambos trabalhavam juntos. Gil chegou a marcar uma missa de sétimo dia para as vítimas, mas como já estava com a prisão preventiva decretada, não compareceu.

Nos últimos nove anos, Gil passou dois períodos preso. Na primeira ocasião, ele esteve dois anos e 13 dias recolhido no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, entre abril de 2004 e abril de 2006. Ele recebeu um habeas-corpus do Supremo Tribunal Federal (STF) para aguardar o julgamento em liberdade. Dois anos e meio depois, em 2008, passou mais cinco meses detido, desta vez em Tremembé, no interior de São Paulo. Foi acusado de mudar de cidade sem avisar a Justiça. Desta vez, conseguiu a soltura por meio de decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O réu argumentou que se mudou para Santa Maria (RS) para prestar vestibular para medicina. Para o Ministério Público, o fato de ir para uma cidade mais próxima à fronteira com Argentina e Uruguai seria um “ato preparatório para uma eventual fuga”.

Para o promotor Rogério Leão Zagallo, responsável pela acusação de Gil Rugai, a única dúvida é saber quem é a pessoa que agiu com ele no dia do crime – já que a acusação acredita que os assassinatos foram cometidos por duas pessoas. “Não tem surpresa. A minha certeza decorre de alguns elementos que foram produzidos nas provas no processo”, disse. Para o promotor, o crime se deu depois que o pai descobriu desfalques superiores a R$ 100 mil na conta da produtora. “Isso desencadeou ira e sentimento de vingança. Foi um crime premeditado”, afirmou ele.

Segundo o advogado Marcelo Feller, que fará a defesa do réu ao lado de Thiago Gomes Anastácio, a inocência de Gil Rugai será provada. “Não queremos provocar dúvidas. Ele aguarda o julgamento há nove anos, acusado de matar o pai e descumprir alguns mandamentos da Bíblia ao mesmo tempo. Está com a vida parada, pendurada no varal”, afirmou.