O jornalista e pesquisador Helton Costa acaba de concluir uma pesquisa sobre a realidade do jornalista on-line em Mato Grosso do Sul, com um enfoque voltado para os sites de notícias das regiões sul do estado e fronteira com o Paraguai.

Helton afirmou que atualmente em Dourados existem 21 sites de notícias em Dourados o equivalente a um deles para cada dez mil habitantes.  A pesquisa de Costa revela que o jornal eletrônico de Mato Grosso do Sul, Midiamax é o que mais tem pautado os sites de Dourados e região.

Na avaliação do pesquisador, os sites locais acabam tendo o Midiamax como fonte para as principais notícias sobre Mato Grosso do Sul e, principalmente, Dourados. Costa também faz uma análise sobre a relação dos jornais virtuais com o Poder Público que financiam estes projetos e a necessidade de se produzir notícias locais como forma de dar uma identidade própria aos sites de Dourados.

Helton Costa atualmente cursa o mestrado em Comunicação Midiática na UNESP, campus de Bauru onde deverá apresentar até o final do primeiro semestre de 2011 a sua pesquisa intitulada: “Exército do Povo Paraguaio-EPP: realidade ou imagem construída pelo Mercosul News?”.
 
Midiamax: O que motivou você a pesquisar o jornalismo on-line de Mato Grosso do Sul?
 
Helton Costa: Na verdade eu estudo o jornalismo on-line desde a graduação, quando comparei jornais locais e a abordagem que deram a assuntos relacionados à participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Depois na pós-graduação em Estudos da Linguagem estudei as construções vocabulares do jornalismo on-line que estão presentes em nosso idioma e agora, no mestrado, na UNESP, sob a orientação do professor Mauro Ventura, estudo construção da imagem do EPP (Exército do Povo Paraguaio) em um site de notícias de Ponta Porã.
Em meio a tudo isso, surgiu à oportunidade dessa análise quantitativa em Dourados. Antes que falem que alguém pagou pela pesquisa ou que os críticos a tentem desmerecê-la, continuo um pesquisador quebrado, sem dinheiro, ok? (risos). Tinha feito algo semelhante com os doze jornais da fronteira e os resultados foram apresentados no Intercom desse ano em Caxias do Sul/RS. Digo que os resultados não foram muito diferentes.
 
MIDIAMAX: E quais foram os resultados?
 
Helton Costa: Nesse sobre Dourados, descobri que há 21 sites em Dourados, mais de um site para cada 10 mil habitantes da cidade, que hoje tem uma população de mais de 196 mil pessoas. Caberia uma análise, mas, acredito que Dourados pode ser uma das cidades com mais sites proporcionais ao número de habitantes do Estado, mais até que a Capital. Não posso afirmar com certeza. Caberia um estudo.

Bom, desses 21 sites, peguei todas as notícias que eles haviam publicado no dia 30 de novembro. Fiz a busca com as ferramentas que os próprios sites ofereciam.

Foram analisadas 457 notícias, das quais, apenas 65 foram produzidas pelos próprios sites. O restante foram copiadas na integra ou levemente modificadas de Assessorias de Imprensa, principalmente do Poder Público, que produziram mais de 38% do total de notícias. Outros sites do Estado e do Brasil contribuíram com mais de 28% das notícias e o restante vieram de sites como UOL, Folha de São Paulo, G1 entre outros.

MIDIAMAX: E aqui no Estado, quais os principais?
 
Helton Costa: Aqui no Estado, com uma leve vantagem, o Mídiamax tem pautado os sites de Dourados (19 notícias) em relação ao Campo Grande News (15). O Correio do Estado on-line, acredito, será um grande concorrente dos dois em um futuro muito próximo, pois, constatei que nesse momento específico analisado apareceu algumas vezes como fonte dos jornais.

MIDIAMAX: Mas esse volume de notícias dos outros é bom ou ruim?
 

Helton Costa: Depende de como você vê isso. Dourados não foi diferente dos demais “interiores do Brasil”, porém, não é por isso que esses jornais deixam de ser importantes, afinal, do seu jeito, transmitem informações, ainda que de outras fontes, para a população que vive na área de influência deles. O douradense pode ficar informado do mundo pelo seu site local. Isso é bom.
Por outro lado, é preciso repensar esse fazer jornalístico na cidade. Hoje a pessoa não acessa só o site da cidade. A Internet abre essa janela para a pessoa acessar o que quiser. Se ela quiser ler sobre os confrontos no Rio de Janeiro, ela vai entrar em um site da cidade do Rio ou simplesmente digitar no Google.

Talvez fosse interessante, investir mais na produção de matérias locais, da cidade, porque essas, não estariam disponíveis em qualquer lugar da Rede. Notei que o pessoal se importa muito em sempre ter conteúdo sobrando, em quantidade e nessa busca, colocam muita coisa no site que talvez pudesse ser deixada de lado em detrimento de conteúdo próprio e local. A qualidade talvez fosse mais importante que a quantidade.

Se bem que hoje em dia, o papel do jornalista está mudando. Devido ao grande número de notícias, ele está se transformando muito mais em um “organizador” de conteúdos, do que em um produtor dos mesmos, mas, isso não é um desculpa racional.
 
MIDIAMAX: Mas, ao que se deve essa falta de produção local?
 
Helton Costa: Encerro trabalho no campo das hipóteses. A minha hipótese é de que talvez faltasse estrutura para alguns sites desenvolverem um trabalho ainda melhor. Uma máquina fotográfica, um carro, uma Internet melhor, mais rápida, um telefone. Na maioria das vezes, não é culpa do jornalista. Quero acreditar que a maioria dos profissionais não sai de casa pensando em copiar o maior número de notícias possíveis. Ele sai para fazer jornalismo de verdade, mas, às vezes quando chega à redação a única coisa que o espera é um velho computador mais lento que uma lesma. Aí ele desanima, sem contar que pode acontecer dele trabalhar sozinho na redação, da falta de equipe mesmo.

Gostaria de ressaltar, que o trabalho é um recorte temporal daquele dia específico. Pode ser que no dia seguinte o site analisado tenha caprichado e melhorado a produção local ou que as matérias que fez foram tão importantes que suprimiram o alto índice de cópias. Mas, não deixa de ser um quadro real.

MIDIAMAX: Você colocou uma parte onde aparecem sites com patrocínios do poder público. Por quê?
 
Helton Costa: Foi só um dado complementar para que futuros pesquisadores quem sabe se aprofundem. Essa relação do Poder Público com a imprensa merece uma investigação mais aprofundada. Encontrei sites respeitáveis em Dourados, reconhecidos pela seriedade de seu trabalho, como as transmediações de “O Progresso”, do “Diário MS”, o Dourados News que foi pioneiro, o Dourados Informa, entre outros com esses anúncios e em contrapartida, encontrei sites que entraram no ar não faz nem uma semana e já ostentavam anúncios publicitários do Poder Público.

Esse dinheiro poderia ser mais bem investido, afinal é público. Penso ainda que os Poderes Públicos deveriam publicar em seus sites institucionais quanto investem e onde investem a publicidade oficial. Se isso acontecesse, o contribuinte poderia consultar onde está indo o dinheiro de seus impostos e não haveria dúvidas. Mas, aí já estamos falando de políticas públicas para comunicação, um assunto que não é muito minha área de atuação. Merece um estudo específico.
 
Veja o link dos dois trabalhos do autor na íntegra para download:
 
24h de jornalismo on-line: o que é notícia nos sites da fronteira Brasil/Paraguai do Mato Grosso do Sul (http://www.4shared.com/document/yufv8CVi/Helton_Unesp_GP_AL.html)

24h de jornalismo on-line: Sobre as fontes dos sites de Dourados, MS (http://www.4shared.com/document/1pyzLHWs/24h_de_jornalismo_dourados.html)