Dia do Sertanejo: falar de MS sem este ritmo musical é como citar Campo Grande e esquecer do tereré

Neste dia do sertanejo, comemorado todo 3 de maio, vamos falar um pouquinho desta cultura sul-mato-grossense, rica, multifacetada e NOSSA

Graziela Rezende – 03/05/2024 – 07:00

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(Nathalia Alcântara/Jornal Midiamax)

O sertanejo é aquele tio que cresceu ouvindo umas modas em casa, falando que ama viola caipira. É seu amigo que sempre leva um violão para os churrascos. É aquele caboclo que viveu na roça e é saudoso com os costumes e tradições. É aquela comidinha caipira, com “cheiro de vó” e que ela mesmo aprendeu enquanto morava no mato. Neste dia do sertanejo, comemorado todo 3 de maio, vamos falar um pouquinho desta cultura sul-mato-grossense, rica, multifacetada e NOSSA.

O multi-instrumentista, compositor, arranjador e professor de acordeon, Gerson Douglas Martins Oliveira, de 47 anos, que tocou na Banda Tradição por 13 anos e apresentou ao mundo a cultura sertaneja, ganhando, inclusive, CD e DVD de Ouro no Faustão, ao lado de Michel Teló, além de fazer turnês internacionais e escrever a canção A Brasileira, em 1999, ao qual abriu as portas e levou o hit até a fronteira no Paraná, interior de SP e aí por diante, conversou com o MidiaMAIS sobre o ritmo musical.

“A vida e a música sertaneja entraram na minha vida através do meu pai, Carlito, saudoso Carlito, sanfoneiro. Meu pai já vinha de uma família com música sertaneja também e hoje também já passei para o meu filho, o Lucas Gabriel, então, tem muita importância na minha vida. Realizei vários sonhos através da música sertaneja e hoje, posso dizer, que sou um músico realizado. A música sertaneja, abaixo de Deus, me deu isso. E eu amo, a música sertaneja é minha vida abaixo de Deus e da minha família”, disse Gersão, como é conhecido.

(Gerson Oliveira/Arquivo Pessoal e Redes Sociais)

Para o Estado, o artista diz que, graças a música sertaneja, aqui ganhou fama e também “exportou” artistas de renome nacional, como o Grupo Tradição, João Bosco e Vinicius, Luan Santana, Jads e Jadson e Ana Castela, um dos maiores sucessos do Brasil atualmente. Ou seja, a música sertaneja enriqueceu e divulgou Mato Grosso do Sul para o mundo.

“Essa canção A Brasileira que eu fiz, por exemplo, foi muito importante para o sertanejo e abriu portas para a nova geração, sem falar na porteira que abriu para o Tradição. Na época, saímos do Estado e a canção entrou em duas novelas da Globo, a Sabor da Paixão e América, além de ter sido regravada por vários grupos musicais”, alegou.

Assim, através do Tradição e da música sertaneja, Gerson diz que o grupo foi um “divisor de águas” e deixo um legado grandioso para várias pessoas e músicos. “Eu falo mais pelos gaiteiros, já que dou aula. E sempre tem, são centenas de gaiteiros que chegam falando que se inspiraram no meu trabalho, no nosso grupo. E esses dias foi uma alegria imensa ver uma aluna minha ganhar em primeiro lugar em um festival de acordeon, em Dourados. Eu brinco que estamos fabricando, no bom sentido, muitos sanfoneiros. E no meu caso, em particular, ainda tem o meu filho Lucas Gabriel. Meu pai faleceu antes dele nascer e hoje eu o vejo também como um multi-instrumentista. É um orgulho danado”, finalizou.

Grupo Acaba em 1982 (Arquivo Pessoal)

O produtor cultural, pesquisador e um dos fundadores da Banda Acaba, Moacir Lacerda, de 72 anos, fala do “Brasil rural” que vivemos, que dominou por séculos e séculos nossa economia, sociedade e cultura. “Passamos há pouco mais de 60 anos por uma população urbana maior que a rural. Mesmo assim, as influências rurais na musicalidade urbana continuam fortes e significativas. Quando iniciei minha carreira artística, como compositor e fundador do Grupo Acaba, nos anos 60, em Campo Grande, mais precisamente no bairro Amambaí, conviviam conosco grandes estrelas da música sertaneja de Mato Grosso do Sul”, relembrou.

Entre os vizinhos e amigos estavam as “raízes da música sertaneja”. “Délio e Delinha, Amambai e Amambaí, Zé Correa, Ivo de Souza, Florito, Quarteto Lira, Jandira, Franquito, Castelo e Queiroz, Beth e Betinha, Arley, Zacarias Mourão, Sergio Dutra, e até João Pacífico, entre outros saudosos nomes. Posso assegurar que também a saudável influência fronteiriça, advinda do Paraguai, aliada aos pioneiros de nossa música sertaneja do Brasil e de Mato Grosso do Sul, formaram nossas personalidades artísticas para fazer uma música urbana com essas raízes rurais”, argumentou.

De forma quase geral, as raízes culturais sertanejas estão presentes em toda musicalidade e cultura de Mato Grosso do Sul. “Eu sempre peço que nossos gestores de cultura possam elaborar projetos que visem valorizar os artistas sertanejos, os quais vivem em vulnerabilidade, e que possam registrar em museus, monumentos e espaços culturais, esses baluartes da nossa música sertaneja e urbana”, opinou.

(Facebook/Reprodução)

O diretor do CLC (Circuito de Laço Comprido), Abeldes Junior, conhecido como Pitiço, ressalta que o sertanejo é uma das marcas da cultura sul-mato-grossense e fortalece o que vivenciamos, diariamente, na lida do campo e manejo do gado. Em muitos momentos, as músicas refletem a vida de quem vive esse mundo caipira e, na opinião dele, ainda mais quem é do Laço Comprido.

“Essa união do sertanejo e Laço comprido sempre deu muito certo. Teremos, em breve, mais uma festa, que poderá ser vivida de 8 a 16 de junho, no CLC, com uma festa bruta de boa, que terá tudo o que gostamos nesta vida sertaneja. Agora, teremos mais uma marca da importância do sertanejo em nossas vidas e no Laço Comprido, com a realização do Tributo ao João Carreiro, um artista ímpar que cantou em suas músicas a paixão, a cultura e desafios da vida no campo”, disse.

Neste tributo, Pitiço fala que o João Carreiro, um ícone da música caipira e um artista completo, mais de 15 artistas de diversas gerações, entre eles Sergio Reis, Jad e Jadson e outros, farão participações.

Culinária caipira

Arroz carreteiro (Arquivo Pessoal)

De forma geral, os hábitos indígenas têm forte influência na prática alimentar caipira. Tudo começava com o café e, em seguida, os sertanejos partiam para a roça levando almoço e merenda, com mais café.

Como saíam muito cedo, o almoço geralmente era consumido entre 8h30 e 9h, sendo a merenda consumida por volta das 12h. O consumo incluía arroz, feijão, farinha, além de misturas com ovo, pão, carne e verduras.

No decorrer do tempo, houve muita transformação no meio de vida e o caipira migrou para a cidade. Mas, a vontade de comer aquela comidinha, com gostinho caseiro, sempre esteve presente…

Algumas das receitas são frango caipira com purê de mandioquinha, mexido caipira, farofa caipira, feijão-tropeiro, torta de frango, bolo caipira com aveia, frango com quiabo, arroz carreteiro, doce de abóbora, entre outros.

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