Estado reconhece direitos de mulheres vítimas da ditadura
O Dia Internacional da Mulher teve um significado diferente para 15 mulheres que tiveram seus processos de anistiadas julgados nesta segunda-feira, 8, na sessão especial da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. A sessão foi marcada por emoções fortes, lembranças das torturas, dos estupros e do terror sofrido pelas mulheres que se colocaram contrárias […]
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O Dia Internacional da Mulher teve um significado diferente para 15 mulheres que tiveram seus processos de anistiadas julgados nesta segunda-feira, 8, na sessão especial da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. A sessão foi marcada por emoções fortes, lembranças das torturas, dos estupros e do terror sofrido pelas mulheres que se colocaram contrárias ao regime ditatorial (1964-1985).
“Ser anistiada lavou a minha alma”, disse Celeste Fon, ao receber a sentença. Funcionária concursada do Banespa, ela foi presa junto com o pai e o irmão no final dos anos 1960. Na empresa foi perseguida, vigiada pelo regime, impedida de ter contato com outras colegas do banco, mesmo após a anistia de 1979.
Maria Alice Albuquerque Saboya também foi anistiada. Antes da proclamação, ela leu e entregou à Comissão de Anistia uma carta endereçada aos jovens, contando o que passou nos anos de ditadura e no exílio. Maria Alice foi presa aos 20 anos, junto com o marido, acusada de contribuir para formação de um partido político contrário ao regime. Foi torturada e viu colegas sendo torturados.
“É muito pior ver tortura que ser torturada. Tenho gravada em minha memória a vez de um prisioneiro que pedia: ‘Pelo amor de Deus, me matem’, disse Maria Alice. Ela divulgou uma carta aos jovens pedindo para que eles lutem em defesa do Plano Nacional de Direitos Humanos, proposta do governo que prevê a criação da Comissão da Verdade para apurar os crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura.
“Essa história não é minha, essa história não é nossa. É a história de um país que precisa ser contada para que aprendamos com ela”, afirmou.
Para a psicóloga fluminense Vitória Lúcia Martins Pamplona, sua anistia significou “uma vitória simbólica de todas as mulheres”. “Que não se repita jamais o que aconteceu conosco durante a repressão”, disse Vitória, que foi demitida da Infraero, presa e torturada na década de 1970.
Além de Vitória, Celeste e Maria Alice, mais 12 mulheres foram declaradas anistiadas políticas e receberam desculpas do governo brasileiro. Esta foi a terceira vez que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça homenageou as mulheres no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher.
Também tiveram seus direitos de anistiadas reconhecidos pelo Estado: Ana Lima Carmo Montenegro, Celeste Fon, Maria Cândida Raizer Cardinalli Perez, Isa Mariano Macedo, Maria Beatriz de Albuquerque David, Maria da Glória Lung, Denise Fraenkel Kose, Vera Lúcia Marão Sandroni, Elizabel Maria da Paixão Couto, Vera Lucia Carneiro Vital Brazil, Vitória Lúcia Martins Pamplona Monteiro, Maria Inêz da Silva, Maria Albertina Gomes Bernaccio, e Helena Sumiko Hirata.
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