Luxemburgo diz que Corinthians é ‘canhão’ e nega estar ultrapassado: ‘Sempre me modernizei’

Técnico foi finalmente apresentado após já comandar treinos e estrear com derrota; Luxemburgo promete usar jogadores da base e pede que torcida ‘abrace’ o Timão

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Luxemburgo
Luxemburgo é o atual técnico do Corinthians. (Rodrigo Coca, Ag. Corinthians)

Vanderlei Luxemburgo já deu treinos em sua terceira passagem no Corinthians, comandou a equipe na Copa Libertadores e, nesta sexta-feira (5), se apresentou. Com o bom humor e a autenticidade que lhe são peculiares, o técnico afirmou que o clube é um “canhão”, pediu que a torcida cesse os protestos contra a diretoria, fez a promessa de resgatar a essência da equipe e discursou por longos minutos sobre as transformações pelas quais o futebol tem passado.

Divertido e um pouco vaidoso em alguns momentos da entrevista de quase uma hora, Luxemburgo fez reflexões sobre o futebol atual e respondeu aos críticos que o consideram ultrapassado.

“Eu continuo com o mesmo pensamento e reconhecendo que muitas das coisas que têm hoje foi o Luxemburgo que trouxe. Eu acho que eu já vinha como vanguarda”, afirmou o treinador.

Assim, ele reconheceu que o Corinthians é um “canhão” que marcou positivamente a sua vida. O técnico foi campeão brasileiro pelo clube em 1998, ano de sua primeira passagem. Na segunda, em 2001, ganhou o Campeonato Paulista. Ele acredita que a terceira passagem também pode ser vitoriosa. “Voltei para o Corinthians para conquistar títulos novamente”, declarou.

“Em 98 vim e meu objetivo era a Seleção Brasileira. Eu direcionei para mostrar que eu tinha qualidade para ser técnico da Seleção, e o Corinthians me proporcionou isso, até trabalhei nos dois ao mesmo tempo. Em 2001, o Corinthians me abriu as portas, eu vinha de uma CPI, onde perdi o cargo. Já falei, meu problema era com o Imposto de Renda, que eu resolvi. Eu fiz o Refis e fui execrado publicamente, perdi o cargo da Seleção”, recordou.

Luxemburgo fala sobre modernidade

Como já havia dito ao Estadão no ano passado, o veterano disse que seu plano é “resgatar a essência do futebol brasileiro”, afirmou que domina todos os conceitos do futebol atual e não é contra a transformação pela qual passou a modalidade.

“Gosto que existe a modernidade, mas que não prostitui o atleta brasileiro. Não brigo contra a modernidade. Eu trago a modernidade para o futebol”.

“O que mudou no futebol? A terminologia? Marcação-pressão, time reativo, sei todos os nomes. Mas temos uma essência. Qual diferença tática? Nenhuma. O que mudou foi estrutura. A modernidade é ter um atleta melhor preparado em campo”, questionou o técnico, bem-humorado.

No ano passado, ele havia aberto uma cruzada contra as novas terminologias do futebol nacional porque entende que o novo vocabulário, com termos como “extremos desequilibrantes” em vez de “pontas dribladores”, não representa modernidade. Dessa forma, na sua visão, o jejum de títulos mundiais da Seleção Brasileira tem a ver com a ideia de copiar os europeus.

“Eu olho como alguém que sempre modernizou. O Brasil foi campeão do mundo em cima das nossas características, da nossa essência. O europeu tinha medo da gente. A partir do momento que queremos jogar que nem a Europa, ficamos iguais a eles e perdemos a diferença que nos fazia ganhar”, refletiu. “A modernidade reside aonde? Na base? Só se preocupar com a tática, esquecendo que o jogador é empírico”.

Atualizado

O treinador assegurou também que está atualizado. Então, deu recado aos que dizem que o Corinthians tê-lo escolhido é um retrocesso. “Muita gente fala que tenho que me atualizar e estou buscando me atualizar”, sustentou. Ele avalia que o momento de sua carreira, aos 70 anos, é bom, ainda que tenha sido dispensado do Cruzeiro e tenha ficado um ano e meio desempregado.

“Entendo que é um momento muito bom do profissional Luxemburgo. A oportunidade de fazer de novo um grande trabalho e ressurgir novamente com o Corinthians, com o Luxemburgo”, acredita.

“As pessoas acham que a idade chegou e acabou. Muito pelo contrário, até porque estou bem saudável para buscar as coisas aí”, completou o técnico, a cinco dias de completar 71 anos. Ele contou ter recebido convite de uma seleção, cujo nome não revelou, recentemente. Mas recusou em nome do Corinthians. “Eu preciso do Corinthians e o Corinthians precisa de mim”.

Protestos

Luxemburgo tem a missão de reanimar os atletas e pacificar também a relação com a torcida. Antes do clássico com o Palmeiras, Róger Guedes admitiu que o clima estava pesado. Tudo em virtude de resultados ruins e da passagem breve de Cuca, demitido após a pressão de parte da torcida motivada pela condenação por violência sexual contra uma jovem de 13 anos em 1987, na Suíça.

Assim, o episódio causou fraturas até na equipe feminina, que passou a sofrer ameaças por protestar contra Cuca.

Duílio Alves e Luxemburgo, com a '10': novo técnico pediu que a torcida abrace o Corinthians. (Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)
Duílio Alves e Luxemburgo, com a ’10’: novo técnico pediu que a torcida abrace o Corinthians. (Rodrigo Coca/Ag. Corinthians)

O técnico passou um recado à torcida, que tem protestado contra a diretoria, sobretudo contra o presidente Duílio Monteiro Alves, e marcou uma manifestação para este sábado (6). Seu pedido é que os torcedores “abracem” o time.

“Eu peço ao torcedor, que eu conheço, que entenda o momento. Se voltando contra nós, vai só separar. Essa torcida é fantástica quando abraça o time. Precisamos ser abraçados nesse momentos”, pediu.

Então, ele prometeu que a essência do Corinthians será resgatada e a equipe dará uma resposta positiva aos torcedores. “A resposta vai vir com o trabalho. Vamos trabalhar para não ter protesto. Vou cobrar a essência do Corinthians nesses jogadores”, afirmou. “Se eu puder mandar a mensagem, é para esquecer o protesto de amanhã [sábado], vem junto com a gente. Vai ser um processo interno, duro e com muito trabalho”.

O treinador prometeu que alguns dos treinos no CT Joaquim Grava serão abertos à imprensa. Dessa forma, mudou uma medida que a maioria dos clubes tem adotado. “Já falei com a assessoria, vamos colocar isso gradativamente, os jogadores vão ter que se adaptar a isso e entender que quando a imprensa estiver, vai ter que tomar cuidado, a imprensa vai ter respeitar o espaço, dá para sincronizar isso bem”.

Vida fora do futebol

Demitido do Cruzeiro em dezembro de 2021, o “Pofexô” passou mais de um ano longe da bola. Nesse hiato, disse ter ficado com a família e dado atenção aos negócios. Ele tem empresas no Tocantins e, entre seus principais empreendimentos, está a TV Jovem, afiliada da TV Record.

“Eu sou dono de uma TV, fui âncora de um programa. Qual o problema que tem disso aí? Nenhum. Qual o problema de empreender em outras áreas? Nenhum. Eu não deixei de ser um cidadão. Nós pertencemos à sociedade brasileira, não deixamos de ser. Eu vejo com uma visão um pouco diferente, me incluindo na população brasileira, onde fui bem-sucedido no futebol, a oportunidade que tive”.

“Não fiquei fora da bola porque quis. Muito pelo contrário. Eu tive propostas, uma boa para ir, mas o Corinthians falou mais alto. Não era algo que me atraiu, que poderia preparar minha saída do futebol de outra maneira”, acrescentou, justificando sua escolha pelo Corinthians.

Elenco

Luxemburgo falou rapidamente sobre a dependência que o time tem de Renato Augusto, meio-campista que sofre com lesões em série. A princípio, o maestro do time se recupera de um problema no menisco.

“A dependência não é ruim, é boa. Ele não vai ser eterno, isso faz parte do processo. Tudo vai acontecer, mas eu não vou te falar, você vai ter que noticiar. Você vai ter que ver o que vai acontecer”.

Além disso, fez uma avaliação do elenco e comentou que irá aproveitar a base ao máximo, como fizera no Palmeiras. “Uma coisa que todos sabem é que eu aproveito muito jogador da base, que tem a essência do clube, é mais aceito pela torcida e isso facilita abrir o espaço deles. Aqui no profissional abrimos esse espaço para o jogador de baixo ver que tem espaço em cima. Isso vai acontecer no Corinthians”, salientou.

“Os da base terão espaço no elenco profissional, fazendo parte, mas sendo dos jogadores da base. Jogou aqui, mostrou qualidade, fica. Não aproveitou, volta para continuar treinando e voltar. Sem fechar as portas. Nessa faixa etária, o jogador precisa jogar. Tenho visto no futebol brasileiro muitas competições na categoria, e isso é fundamental, jogar o ano todo”.

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