Incentivo ao tradicional, intercâmbio entre comunidades e um alerta para a prática regular de atividades físicas. Assim foram as competições da 16ª edição dos Jogos Indígenas Urbanos, no Parque Sóter, em . Evento foi organizado pela Funesp (Fundação Municipal de Esportes).

O cacique Ribeiro Barbinio, 73 anos, comemorou o fato da comunidade do Inápolis levar o título campeão do arco e flecha para casa. No sol do fim de tarde, ressalta que esse esporte tradicional, que inclusive levou a vitórias durante embates na Guerra do Paraguai, precisa ser passado de geração em geração. “É uma cultura para nós, que não pode acabar”.

Para o pedreiro Roberson Mota, 39 anos, dividir espaço entre o futebol e o cabo de guerra foi um desafio tranquilo. Com a esposa Sirlene Oliveira, 28 anos, o filho de 10 meses e a sobrinha de 3 anos, ele analisou que eventos assim aproximam parentes e amigos”. “a rivalidade só no campo, depois se comemora junto tomando tereré”, comenta o atleta do Jardim Anache.

Josias Jordão Ramires, 37 anos, é cacique na Aldeia Urbana Marçal de Souza. Ao observar um grupo que se preparava para o cabo de guerra, ele relembra que o encontro esportivo mostra para a sociedade a importância da comunidade indígena urbana, mas que também consegue manter “seu espírito de resistência e cultura” vivos no cotidiano da cidade.

Mais saúde

O acadêmico de Direito Bryan Dias Soares, 22 anos, exibia com alegria o troféu de primeiro lugar conquistado nas disputas de vôlei 4×4. Morador da comunidade Marçal de Souza, no Bairro Tiradentes, destacou que dava sequência ao legado do pai, hoje treinador do time de futebol feminino. “Somos mais de 15 mil indígenas e esse evento dá visibilidade esportiva e cultural”, conta lembrando que os treinos semanais na quadra e areia fizeram a diferença.

E estar em movimento é um dos hábitos defendidas pelo técnico em enfermagem e cacique da Comunidade Indígena Vivendas do Parque, Adolfo Fonseca Loureiro. Ele explica que índices de diabéticos e hipertensos tem aumentado entre os indígenas, além das drogas serem uma real ameaça aos jovens.

“A gente quer que as pessoas tenham incentivo para praticar esportes não só para competir, mas para ter saúde e isso vai influenciar as crianças para que se cuidem também”, destaca Adolfo, que sonha com incentivos para a prática de lança, assim como arco e flecha. “Precisamos despertar o orgulho de ser indígena e, quem sabe, ter uma liga para competir em um mundial”.

Continuidade

De acordo com o diretor-presidente da Funesp, Odair Serrano de Oliveira, Campo Grande sai na frente ao promover os jogos indígenas, não apenas no sentido de promover o esporte, mas de reforçar a prevenção por meio dele a doenças como e hipertensão. A autarquia tem aguardado, inclusive, por sinalização do Governo do Estado por competições estaduais. Se isso ocorrer, “saímos na frente por ter equipes prontas a competir”.

Enquanto se sonham com outros jogos, Reginaldo Farias da Silva, de 10 anos, faz planos para competir no atletismo daqui uns anos. O menino sorri quando indagado se já está se preparando. Em seguida, acena de forma positiva e o cacique Adolfo, que o acompanha junto com outros 70 atletas, completa que essa é nova geração que da dança do bate pau, ou quipaé, a continuidade da língua terena fará com que a cultura tenha sua essência preservada e passada por gerações.

Sobre os jogos

Hoje mais de mil atletas de 19 das 24 etnias participaram do evento em Campo Grande. Houve entre as torcidas maior animação na competição feminina de futsal, onde Água Bonita fez 6 a 4 sobre a equipe Kadiwéu. Os participantes das oito modalidades tinham que ter mais de 15 anos e só indígenas eram aceitos nas equipes.

Homens e mulheres disputaram no atletismo, corrida, cabo de guerra e voleibol 4×4. Eles ainda competiram na lança, arco e flecha e futebol Society. Dentre as modalidades era possível que o atleta competisse no cabo de guerra, uma modalidade individual e outra coletiva.