Agências reúnem cerca de 300 pessoas por dia em busca de uma vaga

 

O Primeiro de Maio é uma celebrada em quase todo o mundo em alusão às lutas e conquistas do trabalhador. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro costumam ter grandes atos políticos em função da data, e costumam reunir milhares de pessoas em manifestações por melhores condições de trabalho. Em 2016, entretanto, o clima dos protestos será mais tenso, tendo em vista a crise econômica e o desemprego que alcançou índices assustadores após um período de clara prosperidade e de quase pleno emprego.

No último trimestre, por exemplo, a taxa de desemprego atingiu o índice de 10,9% – 1,9 % acima do trimestre anterior, o que configura a maior taxa registrada pela PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua) desde 2012, quando a coleta dos dados teve início.

A estatística, claro, torna o tema nebuloso e atrai fantasmas e clima de pessimismo. Todos os perfis, entretanto, encontram-se diluídos nas longas filas das agências de emprego, que chegam a alcançar a marca de 300 atendimentos diários. São nelas, a propósito, que identificamos o locus de tantas opiniões divergentes, desdes os que militam por uma mudança aos que não creem num horizonte mais favorável a curto prazo.

À procura

Há 3 meses desempregado, o capataz de fazenda Carlos Henrique de Oliveira Matos, 59 anos, está e tem se virado com o seguro desemprego para sustentar a família – filho e a esposa, também desempregada. “Na fazenda onde eu trabalhava teve uma grande parada e muita gente foi demitida. Desde então não consegui trabalho. A culpa disso é dessa bagunça no governo, e essa situação ainda vai piorar”, diz.

Sonhadores, pés no chão e pessimistas, na fila por empregos há em comum a expectativaNa mesma situação, o servente de pedreiro José Pereira da Silva, 31 anos, também reclama dos tempos difíceis. Desempregado há 8 meses, ele mora com a esposa Rafaela de Andrade Barbosa, 24 anos, dona de casa, e com os dois filhos: um de 5 anos e outro de 2 anos. Para a agravar a situação, José e o filho mais novo têm epilepsia e precisam tomar remédios controlados. “Estamos nos virando com os bicos que aparecem, apesar do serviço muitas vezes não durar nem um mês. Mas, o pouco que entra, a gente coloca em casa. Eu preferia um emprego fixo, mas está bem complicado”, afirmou José.

A esposa de José, Rafaela, tenta ajudar no orçamento como pode. “Estou lavando roupas para fora, para ajudar nas despesas, só que aqui no bairro a maioria é bem pobre, então fica difícil ter uma clientela fixa. Além disso, moro numa região bastante afastada e isso atrapalha também. Muitas vezes já precisamos até pedir ajuda aos vizinhos para comprar o gás de cozinha”, revelou.

A dificuldade de oportunidade chega também a quem tem diploma. Graciely Ferreira, 32 anos, é formada em Direito e tem se virado como freelancer nos finais de semana para ajudar nas despesas da casa, que divide com a mãe – também sem emprego fixo – e uma irmã adolescente. “Tá difícil encontrar até mesmo emprego em uma outra área para que eu consiga não só ajudar nas despesas da casa, mas também custear a continuidade dos meus estudos. Fazer uma pós-graduação não é barato e com o que ganho nos fins de semana consigo apenas arcar com as contas básicas de casa”, diz.

Perspectivas

Todavia, também há aqueles que acreditam numa melhora. São trabalhadores que, apesar do longo período em busca por postos de trabalho, seguem confiantes de que irão conseguir algo em breve – alguns creem até em empregos ainda para este mês de maio.

“Eu era cozinheira numa fazenda e pedi para sair do meu último emprego porque queria voltar para Campo Grande. Mas, desde que voltei para cá, tem sido difícil achar uma vaga na minha área. Mas, a gente tem que comemorar (o Dia do Trabalhador), né? Afinal, as coisas vão melhorar. Eu acredito”, revelou Eleontina Costa, 50 anos, cozinheira que divide a casa alugada com as duas filhas, também desempregadas.

Próxima a Eleotina, estava sua amiga, Jussara da Silva, 49 anos, também cozinheira. Ela largou o emprego para cuidar da filha, que estava nas últimas semanas de gestação e que precisou de um repouso forçado. “Uma filha minha faleceu e minha neta ficou morando comigo, e essa que estava gestante e a filhinha moram em casa também. Eu estou distribuindo bastante currículo, e estou aceitando qualquer vaga. Pode ser cozinheira, copeira, serviços gerais… São 4 pessoas em casa, e muitas vezes tenho que procurar ajuda na igreja que frequento, porque faltam os alimentos. A gente tem que ter fé, tem que acreditar que vai melhorar. Eu não posso desistir enquanto não encontrar um emprego”, afirmou.

(Texto com supervisão de Guilherme Cavalcante)