Para eles, Enem significa mudança de vida e acesso, enfim, à universidade
Confira os depoimentos
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Passar em uma universidade pública nem sempre é tarefa fácil. Mas com a chegada do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), ampliou-se o acesso às instituições e hoje e os vestibulandos podem concorrer a vagas de qualquer universidade do Brasil. Com a mobilidade gerada pelo exame, muitos estudantes viram a oportunidade de mudar de vida a partir do ingresso no ensino superior.
O estudante de Jornalismo, Iago Porfírio, sentiu na pele esta oportunidade quando saiu da favela do Pantanal, em São Paulo, onde morava, rumo à Campo Grande, porque tinha passado na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), em 2013, por meio de cotas.
Seu pai era um lavrador de canas do sertão pernambucano e sua mãe, doméstica e lavadeira do interior de Minas Gerais, ambos analfabetos. Ele, o primeiro da família do pai a entrar em uma universidade. “E não é em qualquer uma: em uma Universidade Pública”, afirma.
Segundo ele, o interesse pelos estudos vieram desde cedo e a necessidade de entrar em uma faculdade veio como uma reação às constantes violações de direitos que aconteciam naquela região, uma das maiores favelas de São Paulo. “Nós tínhamos que omitir o endereço (que não tinha) para ter acesso aos serviços públicos. Vivia sem saneamento básico. Polícia subindo a favela sempre com desrespeito, quebrando nosso portão de madeira. Assistindo àquilo tudo, um abandono, percebi que devia contornar a situação”.
Durante seu caminho, teve que sair várias vezes da escola para trabalhar e ajudar em casa, o que atrasou os seus estudos. Encontrar pessoas com ensino superior naquela região era raríssimo. Mas no último ano de seu ensino médio, decidiu desafiar a si mesmo a entrar na universidade. “Eu saí do emprego e passei um ano estudando em casa para o Enem. Trabalhava finais de semana como garçom para comprar apostilas e seguia estudando. Passei e saí de São Paulo”, diz.
Estudos na maior idade
Nunca é tarde para recomeçar e correr atrás dos próprios sonhos. É este o lema do bancário aposentado João Maria de Faria, que após passar a vida inteira trabalhando em outra área, decidiu fazer o curso que desejava desde adolescência. Determinado, o homem prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aos 53 anos e conseguiu ser aprovado no curso de Letras.
“Quando completei o ensino médio, fiz o vestibular e minha segunda opção de curso era Letras. Mas como eu passei na primeira opção, eu deixei esse sonho de lado. Me formei em Contáveis e fiz até uma pós graduação em Gestão de Negócios. Trabalhei por mais de 30 anos no ramo financeiro, em bancos, mas agora que aposentei, decidi fazer Letras”, explica.
No meio de tantos rostos jovens, de gente com não mais de 18 anos e que acabara de sair do ensino médio, seu João não se acanhou. Ao contrário, não conseguiu nem disfarçar a empolgação de finalmente poder dar aulas, e escapar um pouco do pragmatismo do ramo financeiro para se debruçar numa nova forma de ver o mundo.
Ao ser questionado se pretende trabalhar na área quando se formar, João Maria não demora a dizer: “Claro! Pretendo dar aulas de imediato. Eu já ingressei no Pibid no meu segundo ano porque eu não via a hora de entrar em sala de aula, estava muito ansioso”, diz se referindo ao Programa Institucional de Iniciação à Docência, projeto que oferece bolsas aos alunos de licenciatura para que exerçam atividades pedagógicas em escolas públicas.
De acordo com a psicóloga Dorvany Alves, especialista em Orientação Profissional, existe uma pressão social para entrar numa universidade muito cedo e na maioria das vezes os ‘calouros’ chegam ao ensino superior sem a maturação e vivência necessárias para melhor absorção dos conteúdos ensinados.
Por isso, é sempre benéfico a troca de experiências entre as pessoas mais jovens e mais velhas. “Aos que ingressam com idade maior e naturalmente com maior vivência, a sugestão é não se afastar deste grupo com menor idade, pois essa troca é sempre positiva. Um grupo traz a experiência, a vivência; enquanto que o grupo mais novo traz uma outra visão de mundo – essa troca é sempre saudável”, conclui.
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