Obra de 600 páginas mostra a força da família Shinzato, uma das pioneiras da Imigração

Livro será transformado agora em E-book

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Livro será transformado agora em E-book

Dos baús de uma família, a história de todo um povo, inclusive a da nossa cidade. E antes que essa história se perdesse, foram cinco anos de pesquisas, intensas, vasculhando arquivos, memórias, papéis, fotografias, documentos, indo até São Paulo, Rio de Janeiro e Santos (SP), onde essa história teve capítulos. Foi assim que o professor, cientista político, escritor e jornalista Eron Brum construiu a obra “Uchinanchu, Cidadãos do Mundo – Sonhos e Ilustões de Um Visionário e uma Heroína”, há quase dois anos, e que agora será transformada em um e-book.

Neste sábado, o dia 18 de junho marca a data que comemora a imigração japonesa em nosso Estado, e não há como falar da questão sem lembrar da família Shinzato, cujo patriarca chegou ao Brasil em 1925, vindos de Okinawa, no Japão. Para Eron, o autor, é uma delícia lembrar desses pequenos fatos e datas. “Ao todo a família Shinzato tem 12 irmãos, distribuídos hoje em Campo Grande, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São José dos Campos (SP) e São Paulo”, afirma o escritor. Após dois anos da obra lançada, Eron ainda mantém contato com os irmãos Shinzato. “Eles fazem um encontro de família também a cada dois anos, eles realmente mantém aquela tradição japonesa de cultuar o conhecimento, a família, tudo aquilo que o pai (Guensei) trouxe para o Brasil em 1925”, explica.

 

Um dos retratos da família / Foto: Reprodução/Daiane Libero

 

“Uchinanchu, Cidadãos do Mundo – Sonhos e Ilustões de Um Visionário e uma Heroína” é um livro de mais de 600 páginas, com um rico acervo de imagens da família Shinzato, coroando uma história que ultrapassou muitas barreiras de tempo. Essa história caminha lado a lado com as histórias de outros imigrantes japoneses que chegaram na Capital e no Mato Grosso do Sul sem nada mais do que a roupa do corpo e o conhecimento de suas terras distantes, muitos para trabalharem como mão de obra na NOB (Estrada de Ferro Noroeste Brasileira). Pelas mãos deles se ergueram trilhos e se enterraram lembranças duras de duas guerras, que deixaram estigmas nos japoneses.

Um casal inusitado

Matsu, a noiva inusitada, e Guensei, quando se casaram / Foto: Reprodução/Daiane LiberoFoi assim com Guensei e Matsu, o casal que deu origem a toda uma linhagem de “japoneses sul-mato-grossenses”. Conforme conta Eron, o destino dos dois começou a ser traçado muito antes da chegada no Porto de Santos, em um navio vapor daqueles que levam meses e meses para cruzar o oceano. A primeira noiva prometida de Guensei foi picada por uma cobra e caiu doente.

“Percebendo seu fim ela chamou sua amiga Matsu e pediu que ela viesse ao Brasil encontrar seu noivo Guensei para se casar com ele. Matsu aportou aqui em 1932”, diz Eron. Começava assim a história dos dois okinawanos que formaram seus 12 filhos em faculdades renomadas tendo começado sem um tostão no bolso. “Eles foram guerreiros que eram lavradores, trabalharam na NOB, e conseguiram formar todos os filhos, alguns são médicos, engenheiros. É a história da nossa imigração”, pontua Eron.

Havia muito preconceito, segundo relatos, documentos e histórias, com os imigrantes. “A trajetória da Família Shinzato foi sofrida, marcada por forte preconceito devido à pobreza, à origem agrícola, à etnia e, ao mesmo tempo, fascinante e vitoriosa”, acredita Eron. Durante o governo de Getúlio Vargas, a famosa e difícil Era Vargas, o casal chegou a ser perseguido em Campo Grande. “Eles viviam em uma casa na Mata do Segredo, e uma vez um grupo militar invadiu a casa deles e levou embora todos os livros”, relata Eron. Em uma época em que os japoneses ficaram marcados em decorrência da aliança junto aos regimes do Nazifacismo, herdado de uma guerra devastadora, esses arroubos das autoridades não eram incomuns. “Só que nem eram livros políticos, eram livros de saúde. Matsu era enfermeira, parteira, ela estudava muito, ela fazia partos no Japão e fez isso por aqui também”, acrescenta Eron. A vida da família Shinzato, segundo mostra o escritor na obra, foi sempre agitada.

 

Livro tem 600 páginas e levou 5 anos para ser concluído / Foto: Daiane Libero

 

Livro virará E-Book

Neste momento, passado um tempo do lançamento (a estreia do livro foi no ano que comemorou o centenário da Imigração Japonesa no Estado, 2014), Eron está realizando uma adaptação da obra para o formato do E-book, para que mais pessoas possam ler o livro, que está esgotado em sua primeira edição. “Estamos trabalhando para não ficar muito pesado, já que são mais de 600 páginas, muitas fotos, mas em breve queremos lançar”, relata.

Além disso, há o projeto de traduzir o livro para o inglês e também resumi-lo em um dialeto okinawano. Mas os projetos aguardam o aval do autor e da família Shinzato. Esse amor pela literatura, perpetuado por Matsu e Guensei, foi o que uniu escritor e personagens reais para começar. “Os irmãos me procuraram querendo que eu escrevesse um folheto, uma pequena lembrança, com uma breve história da família, porque eles viam essa história incrível, todo esse material, e tinham medo que se perdesse. Sugeri um livro simples, que levaria um ano. Demoramos cinco e temos uma obra extensa e detalhada”, diz Eron. Basta ver as fotografias de uma das famílias mais importantes da Imigração, estampadas na obra, para ter certeza que valeu a pena. 

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