Dólar cai 1,22% e fecha abaixo de R$ 5,60 com dados fracos de emprego nos EUA

O real apresentou nesta quinta o melhor desempenho entre as moedas mais relevantes

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Agência Brasil

O dólar apresentou queda firme na sessão desta quinta-feira, 5, e voltou a fechar abaixo da linha de R$ 5,60. O real se beneficiou da onda de enfraquecimento da moeda norte-americana em relação a divisas fortes e emergentes, após dados fracos do mercado de trabalho nos Estados Unidos.

Falas do diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, sugerindo que há possibilidade de seja iniciado neste mês um ciclo de elevação da taxa Selic contribuíram para aprofundamento das perdas do dólar no mercado doméstico ao longo da tarde.

O real apresentou nesta quinta o melhor desempenho entre as moedas mais relevantes, seguido de perto pelo rand sul-africano. Operadores ressaltam que havia espaço para uma recuperação da divisa brasileira, que acumula perdas expressivas no ano e fechou na quarta-feira praticamente estável.

Com mínima a R$ 5,5701, o dólar à vista terminou o dia em queda de 1,22%, cotado a R$ 5,5711 – abaixo de R$ 5,60 no fechamento pela primeira vez desde 28 de agosto (R$ 5,5555). Com a queda desta quinta, o dólar passa a apresentar desvalorização de 1,13% nos quatro primeiros pregões de setembro.

Pela manhã, o relatório ADP dos Estados Unidos mostrou geração de 99 mil vagas no setor privado norte-americano em agosto, bem aquém das expectativas dos analistas, que previam criação para 141 mil vagas. Na quarta-feira, o relatório Jolts já havia revelado abertura de postos de trabalho menor que a esperada em julho.

O head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa, observa que as leituras fracas de Jolts e ADP foram de certa forma contrabalançadas nesta quinta por indicadores do setor de serviços, que ajudaram a “reduzir, ao menos por enquanto, os temores de uma recessão” nos EUA.

O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços norte-americano, divulgado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM), subiu de 51,4 em julho para 51,5 em agosto, enquanto analistas previam queda para 51,1. Leituras acima de 50 mostram expansão da atividade.

As expectativas se voltam agora para a divulgação na sexta-feira do relatório mensal de emprego (payroll) de agosto. Falas recentes de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do próprio chairman Jerome Powell mostram que o BC americano passou a dar mais peso aos riscos de deterioração do mercado de trabalho em suas decisões.

“Se o payroll vier abaixo das expectativas podemos ver um aumento das apostas de que o Fed corte os juros em 50 pontos-base neste mês. Isso levaria o dólar a se desvalorizar contra outras moedas, beneficiando o real”, afirma o head de banking e câmbio da EQI, Alexandre Viotto, para quem a taxa de câmbio no nível atual ainda embute prêmios elevados associados ao risco fiscal.

À tarde, o Tesouro Nacional informou que o Governo Central apresentou déficit de R$ 9,283 bilhões em julho, mais forte que a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (-R$ 7,135 bilhões). O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que, se necessário para cumprimento da meta de resultado primário, o governo vai apresentar medidas adicionais para ampliar as receitas. Ceron acrescentou que em 2025 o governo dará mais atenção às despesas e que medidas para ampliara a arrecadação serão pontuais.

Para Viotto, da EQI, caso não fosse a perspectiva de queda de juros nos EUA, conjugada a expectativa de alta da taxa Selic, o dólar poderia estar mais perto de R$ 6,00. Ele acredita que a provável ampliação do diferencial de juros interno e externo pode trazer um alívio adicional para o real, com a taxa de câmbio voltando a girar na casa de R$ 5,40. “Se o governo colaborar, podemos ter um quadro um pouco mais tranquilo para o real”, afirma.

Em evento nesta quinta, o diretor de Política Econômica do BC reiterou que a instituição está desconfortável com a desancoragem das expectativas de inflação e que há forte compromisso com a busca da meta, embora tenha repetido que as próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) dependem dos indicadores correntes. Um eventual ciclo de alta da Selic, se vier, será gradual, disse Guillen.

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