Bilhete enviado por escola municipal revoltou pais de alunos na última semana em Campo Grande ao reclamar do ‘chulé e cecê’ das crianças e adolescentes. Além do tom hostil, o fato de que a cidade enfrenta uma onda de calor extremo aumentou a polêmica.

Em Campo Grande, muitas salas de aula são abafadas e pouquíssimas têm ar-condicionado. Em muitas, nem os ventiladores funcionam direito.

Além disso, a capital de Mato Grosso do Sul reclama do péssimo serviço de transporte coletivo e os passageiros, como os alunos, enfrentam lotação e calor nos ônibus a caminho da escola.

Assim, a queixa contra o ‘chulé e o cecê’ foi considerada ofensiva e cruel por alguns pais.

‘Chulé e cecê’: mau cheiro causando enjoo nos alunos

O recado pede aos responsáveis pelos estudantes reforço na higiene pessoal das crianças e adolescentes por causa do suposto mau cheiro que estaria tomando conta de algumas salas.

“As salas de aula estão ficando com um cheiro de chulé e cecê muito forte, causando enjoo nos alunos. A higiene pessoal corporal é fundamental para a convivência com as demais pessoas e evita constrangimentos para quem está com falta dela”, traz trecho do bilhete enviado.

No entanto, o tom da mensagem não foi bem recebido. Além de pedir aos pais para orientarem os filhos a tomarem banho, passar desodorante, escovar os dentes, cuidar dos pés e pentear os cabelos antes de ir à aula, o aviso geral deixa implícito o risco de ‘constrangimento’.

Assim, alguns pais não gostaram da forma como o assunto foi abordado no recado. “Não tem cabimento a forma de se expressar”, reclama denunciante ao Jornal Midiamax. “Como eles enviam isso de uma forma geral sem garantir outras condições?”, diz.

Calor, brincadeiras no intervalo, educação física e calorão: receita para o ‘chulé e cecê’

O responsável por um aluno garante que as salas de aula contam apenas com ventiladores para controlar a temperatura do espaço. Vale ressaltar que nas últimas semanas Campo Grande enfrentou uma onda de calor com os termômetros beirando os 40ºC.

Para o denunciante, a unidade deveria tratar o caso de forma individual. “Afinal eles são a continuação da formação das crianças”, opina à reportagem.

Confira o recado polêmico:

escola
Recado da escola (Fala Povo, Jornal Midiamax)

O ensino fundamental compreende as idades entre 6 e 14 anos e é comum que os menores brinquem de correr durante o intervalo com os colegas. Afinal, são crianças. Mas por conta disso, voltam do intervalo pingando suor.

Além disso, as aulas de educação física, mesmo em quadra coberta, deixam as crianças suadas por conta da atividade física. Outro fator que não ajuda neste assunto, os ônibus lotados já foram chamados até de lata de sardinha em Campo Grande.

Ou seja, como muitas crianças e adolescentes dependem do transporte coletivo para ir até a escola, nos dias quando a temperatura já está beirando os 30ºC às 7h, não há desodorante que resista.

Por fim, também é moda entre as crianças o uso de casacos, mesmo com temperaturas mais altas em Mato Grosso do Sul.

Secretaria Municipal não viu exposição

Em nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) afirma ao Jornal Midiamax que os alunos reclamaram para a direção sobre o mau cheiro dentro da sala de aula. A pasta ressalta que o regimento interno diz que “é dever do aluno manter os hábitos de higiene em seus objetos, corpo e vestuário”.

“Portanto, para nenhum aluno ser exposto, a direção da unidade mencionada decidiu enviar um recado geral, principalmente devido a onda de calor que Mato Grosso do Sul enfrenta”, diz a resposta.

O verão acabou oficialmente na quarta-feira (20), mas as altas temperaturas devem continuar no outono.

Conforme prognóstico do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e Clima de MS) para a estação neste ano, a previsão indica que o frio das manhãs e as massas de ar polar da estação devem demorar um pouco para chegar e a influência do El Niño manterá atmosfera aquecida. O calor e a umidade continuam com as máximas acima dos 30 graus e umidade relativa acima de 65%.