Quase 10 anos após a paralisação das obras da UFN3, em Três Lagoas, um novo anúncio, a inclusão da obra no Novo PAC, reacende a esperança de ver a maior indústria de fertilizantes do Brasil em ação. Porém, o fantasma do pânico instalado no município, na época, ainda assombra empresários que vivenciam anos de prejuízo e reconstrução.

Em novembro de 2014, em meio a escândalos de corrupção na Petrobras, o cenário mudou completamente em Três Lagoas. As obras da UFN3 foram paralisadas com mais de 80% concluídas, milhares de trabalhadores demitidos e empresários acumularam dívida estimada em R$ 36 milhões, na época.

O ritmo frenético das obras deu lugar a protestos em frente ao canteiro de obras e em rodovias, filas gigantescas de ex-funcionários para tentar negociar os direitos trabalhistas, seguidos por reuniões, processos e prejuízo. Nove anos depois, a maioria dos cerca de 180 empresários que prestavam serviços para a UFN3 nunca recebeu.

“A Petrobras e o consórcio que tocava a obra da UFN3, formado pelas empresas Sinopec e Galvão Engenharia, foram responsáveis pela maior frustração da história econômica de toda a Costa Leste do Mato Grosso do Sul”, afirma o presidente da Aliança de Entidades de Três Lagoas, Fernando Jurado.

UFN3: da redenção econômica ao desespero

Em 2010, a Petrobras anunciou que construiria a maior fábrica de fertilizantes em Três Lagoas, o que na época era o maior investimento do país. O município sul-mato-grossense havia acabado de receber investimentos importantes, como a Votorantin, Eldorado, Sitrel, entre outros, mas viu no empreendimento uma oportunidade única.

O então presidente da Associação Comercial de Três Lagoas, Fernando Jurado, relembra que o anúncio foi motivo de muita euforia e, quando as obras começaram, o cenário da cidade mudou completamente.

“Isso transformou a rotina de Três Lagoas, era um movimento que a gente nunca tinha visto. Foi algo marcante na história econômica da cidade e quando a gente achou que estava terminando a obra veio a notícia da paralisação”.

Fila de funcionários demitidos da UFN3 para negociar rescisão (Foto: Perfil News/Arquivo)
Fila de funcionários demitidos da UFN3 para negociar rescisão (Foto: Perfil News/Arquivo)

Ele conta que por se tratar de uma obra federal, o governo honraria os contratos, o que não aconteceu. “A paralisação foi impactante para todos os elos da cadeia, vários empresários quebraram seus negócios e muitos não conseguiram se reerguer e até hoje se debatem”, conta.

Na época, a dívida foi orçada em R$ 36 milhões e, mesmo com tratativas e ação judicial, o pagamento nunca aconteceu. Apenas alguns empresários conseguiram acordo com a Sinopec durante processo de recuperação judicial.

‘Levei funcionários de Três Lagoas para o Sírio Libanês de avião’, lembra empresário

O empresário Issam Fares Junior viu sua empresa decolar na época da UFN3, devido a um contrato de prestação de serviço de saúde para atender todos os funcionários da obra. A equipe contava com médicos, enfermeiros, cinco ambulâncias com equipe montada a serviço deles e até transporte de avião em casos de urgência.

“Todo o atendimento médico dentro da obra, tanto alojamento oficial e no campus, era a gente que fazia. Primeiros socorros, remoção, implante, levei dois funcionários de avião para o hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Era uma estrutura enorme, até que as obras pararam”, conta Issam.

Ele lembra que, quando o anúncio de paralisação chegou, a empresa já acumulava faturas atrasadas. “A gente dependia da empresa para sobreviver, os 50 funcionários também, então o impacto foi gigante. A dívida deixada na época somava mais de R$ 1 milhão”, lembra o empresário ao dizer que os problemas permanecem até hoje.

Questionado se prestaria serviço novamente para a UFN3, numa possível retomada, Issam afirma que torce para isso, mas agora com cautela. “Na época eles retinham 10% da nota como um seguro caso nossa empresa quebrasse. Agora eu exigiria o seguro”.

UFN3 em estudo no Novo PAC

A retomada das obras da UFN3 foi listada pelo Governo Federal como ‘Estudo’ na lista de centenas de obras que serão retomadas ou iniciadas em todo o Brasil.

Ainda não há detalhes sobre a retomada da indústria de fertilizantes no que diz respeito a valores e prazos, no entanto, o deputado federal Vander Loubet (PT) afirmou na sexta-feira (11) que em novembro deve haver a definição sobre a retomada das obras.

“A UFN3 não está no pacote, vai ser incorporada. Tanto a UFN3, como a BR-262 que está em estudo ainda. Simone Tebet me disse que a UFN3 será incorporada em novembro”, assegurou.