Você já se perguntou como a sua alimentação afeta a sua qualidade de vida e saúde? Em comemoração ao dia do nutricionista celebrado nesta quarta-feira (31) em todo o Brasil, o Jornal Midiamax conversou com alguns profissionais da área para traçar um panorama da profissão no Mato Grosso do Sul, o peso que uma boa alimentação tem na vida das pessoas, desvendar mitos e as perspectivas de futuro para a categoria.

Atuando no mercado de trabalho durante o antes e pós-pandemia da Covid-19, o nutricionista Emerson Duarte, 37 anos, sentiu melhoras em vários aspectos do atendimento clínico.

“Vale a pena e eu vejo um mercado cada vez mais valorizado, a população Campo-grandense está cada vez mais focada na busca de uma alimentação saudável, independentemente da todo mundo está se cuidando. Posso dizer pelo meu consultório e a pandemia trouxe isso, as pessoas saíram de casa mais preocupadas com seus hábitos alimentares”, disse ele.

Em um analise cirúrgica, o profissional traçou um paralelo entre 2018 e 2022. “A procura quadruplicou e são pessoas entre 16 e 65 anos, são pais se preocupando com a merenda dos filhos, se preocupando com a procedência do alimento. O que faz atividade física e quer se alimentar bem. Quem está fisicamente fraco e procura um profissional”, explicou.

Dica para novos profissionais

Para quem pretende ingressar no mercado de trabalho a dica é se dedicar. “O mercado não está aturando maus profissionais, tem que estudar, estudar e estudar muito. Foi o tempo do nutricionais que ficam somente calculando dieta, ele tem que entender da doença do paciente, de vitaminas, minerais e o medicamento que ele usa”, detalhou.

Áreas de atuação

No hospital, Emerson Duarte relatou que o nutricionista atuará através da alimentação do paciente, para conseguir acelerar o processo de tratamento, melhora e cura. “Isso vai deixar esse paciente mais forte para tomar uma medicação e ter uma alta. O nutricionista de hospital consegue controlar as patologias (doenças) através da alimentação. Uma boa alimentação é muito importante para evolução clínica do paciente”, comentou Emerson.

Nutrição, nutricionista, Mato Grosso do Sul
Emerson Duarte durante atendimento (Foto: Emerson Duarte / Arquivo Pessoal)

Nas escolas públicas, o nutricionista conseguiria melhorar a alimentação das crianças e adolescentes para formar uma geração mais saudável. “Com as crianças comendo de forma saudável a gente consegue ter adultos saudáveis, com menor chance de desenvolver doenças e serem diabéticos”.

O impacto também seria sentido em uma cozinha industrial de uma grande empresa. “Com um nutricionista acompanhando a alimentação do trabalhador, a empresa terá trabalhadores mais nutridos. Eu consigo evitar que ele tenha uma dor de barriga, eu consigo trazer uma melhor qualidade de vida para o meu funcionário. Se for um trabalhador braçal, o nutricionista consegue entender o gasto energético, e traçar um perfil para que ele tenha uma condição melhor para trabalhar”, explicou.

É caro comer bem?

De acordo com Emerson ser bem nutrido não é manter hábitos caros, mas sim saber comer. “Algumas pessoas acham que vão gastar mais e que o nutricionista só vai passar coisas caras. Tendo em vista o preço do tomate e da , é possível ter uma alimentação nutritiva e saudável com as coisas que tem dentro de casa. É preciso Fazer substituições e ter cuidado na escolha e preparação”, disse ele.

“Alimentação saudável exige um pouco mais de investimento em um arroz integral, em uma carne mais magra, mas a gente consegue fazer que o paciente tenha até mais economia. Porque vamos ensinar o que ele tem que comprar e quanto ele tem que gastar no supermercado. A nutrição não é a mesma que corta alimentos, mas sim oferece”, pontuou.

Nutrição esportiva

Kamila Bernal de Souza, de 26 anos, é nutricionista clínica e pós-graduada em nutrição esportiva. Na sua visão de mercado, o início de carreira é um pouco mais complicado, mas uma especialização pode abrir novas horizontes. “No começo não foi fácil, melhorou depois da especialização em nutrição esportiva. É um área que está crescendo muito seja por estética, saúde ou obesidade. Diabetes e hipertensão são doenças que assolam o século, as pessoas também estão buscando para ter uma melhor qualidade de vida”, disse ela.

Pensando no ingresso de novos profissionais no mercado, a sugestão de Kamila é focar em uma área desde o começo. “Foquem no seu nicho, eu não tinha um nicho definido no primeiro ano. Eu queria me tornar nutricionista oncológica e comecei na clínica. Engrenei quando surgiu oportunidade de fazer a pós. A dica é focar no que você quer e depois estudar mais, procurar uma pós-graduação ou curso”, disse ela.

Dividindo a carreira profissional entre e , Kamila Bernal de Souza atende diversos pacientes e pode estabelecer uma média de retorno.

  •  “Isso é subjetivo, tem gente que começa em busca de hipertrofia (massa muscular)  e tem resultado a partir de 4 ou 5 meses. Muita gente quer, mas é um processo lento e o treino está muito ligado”.
  • “Para emagrecer você vê o resultado mais rápido, 45 dias fica visível. Vai depender muito do objetivo, genética, rotina e se existe doença”.

Redes sociais e atendimento online

A profissional ressalta que as redes socais também desempenham um papel crucial nos dias de hoje, dando mais visibilidade ao trabalho e captando mais clientes. “Eu tenho muitas pessoas que me seguem e que não estão em Jardim ou Campo-Grande, consigo muitos pacientes via Instagram. É uma ferramenta a mais pra descomplicar, desmistificar que nutrição é feita só de comida cara, ou ‘frescura'. Antigamente era coisa de rico, é lá é um meio da gente tirar esse mito”, disse Kamila Bernal de Souza.

Nutrição, nutricionista, Mato Grosso do Sul
Kamila Bernal de Souza é nutricionista esportiva (Foto: Kamila Bernal de Souza / Arquivo Pessoal)

Sobre a funcionalidade do atendimento online, ela ressaltou que mantém a mesma qualidade no atendimento. “Ele é captado pelo Instagram, mas o atendimento não é efeito por lá. Conversamos pelo WhatsApp e através de videochamada, peço para tirar algumas medidas e me mandar as fotos, como se fosse uma consulta presencial. Utilizo o aplicativo webdiet com os pacientes e abro a dieta deles no celular, vou tirando dúvidas e orientado durante as refeições de cada um”, disse ela.

“Hoje, 40% dos meus atendimentos são online. Tenho paciente em Portugal, Suíça, Inglaterra e no Estado de São Paulo. Eu mando mensagem para os pacientes, olho as fotos e vejo se está tudo certo no prato, as proteínas, carboidratos e ter uma atenção para cada paciente. Aplicar a dieta e deixar ele se virar não funciona mais, o diferencial e olhar pra cada um como se fosse o único paciente”, concluiu.

Visão do sindicato sobre salário e ‘blogueiros' sem conhecimento

A nutricionista Marêza Mattioli, de 60 anos, é a presidente do Sindnutri – MS (Sindicato dos nutricionistas do Mato Grosso do Sul) e fez uma análise dos anos de pandemia para a categoria. “Parte dos consultórios foram afetados pelo não comparecimento presencial. Gente que podia fazer presencialmente e o mercado sentiu, mas teve situações que não. O conselho liberou o atendimento online durante esses anos de pandemia. É um conjunto de fatores, quem trabalha como nutricionista de eventos e buffets está vislumbrando o movimento melhorar”, explicou.

Como sindicalista, Marêza Mattioli destacou os riscos de seguir uma dieta baseada em dicas de blogueiros e pessoas sem conhecimento técnico. “Nas redes sociais todos são nutricionistas: blogueiros, artistas, influencers, no fritar dos ovos nenhum deles tem capacidade técnica e profissional para dar receita ou orientação. A gente vê um enxame de gente falando besteira e dando indicação errada, ou receita de bolo. É fitness, vamos fazer e não se preocupar com a saúde para emagrecer por emagrecer. Está errado, você tem que ver a parte nutricional do paciente”, disse ela.

E ligado a isso também ressaltou as consequências do uso de esteroides. “Saúde não é só peso e corpo, é bioquímica. Isso pode custar caro. Problemas renais, alteração tiroidianas, dependendo do que usa e quanto tempo usa. É um absurdo usar isso, tem como você tratar um paciente de forma segura para desenvolver massa muscular, com substâncias de alimentos que fazem bem ao corpo”, explicou.

A presidente do sindicato também estabeleceu parâmetros em relação ao salário da categoria. “Não temos o piso salarial coletivo, mas é uma luta que a gente está travando. Tem muita empresa que me liga, eu falo os valores em termos de mercado de trabalho e eles cumprem. Hoje, o salário base é de R$ 4,2 mil. Mas tem lugar que não oferece isso, e a nossa luta é para que os profissionais não aceitem, são 4 anos estudando e quem tem o compromisso com a saúde não pode parar de estudar. São 40 horas semanais, começamos a mexer para um acordo coletivo porque tem empresas grandes que exploram”, concluiu.