De folga, bombeiro que salvou idoso em incêndio no Centro só foi embora depois que todos foram resgatados

“Peguei nele e falei: tio, tio, como o senhor está, você está bem? Foi quando ele abriu os olhos, depois de 40 minutos”, lembra o subtenente

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A história do salvamento do idoso de 73 anos, que estava acamado e não conseguiu sair do apartamento pegando fogo, em um prédio no Centro de Campo Grande, na última quarta-feira (9), assemelha-se a do filme “Até o último homem”. É como descreve o subtenente do Corpo de Bombeiros, Air Dione Lopes, responsável pelo resgate. “Foi um presente, pois estava completando 24 anos de carreira”, conta.

O subtenente relatou ao Jornal Midiamax que, na ocasião do incêndio que parou a região central de Campo Grande, o 1° Grupamento de Bombeiros estava em reforma. Segundo ele, os armários estão amontoados e os militares têm o costume de deixar a roupa de salvamento no Quartel. “Senti no coração. Deus falou comigo: pega suas coisas e coloca no carro”, disse. Foi quando ele colocou todo equipamento de incêndio em seu veículo e foi embora descansar.

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(Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Air conta que não tem o costume de atender números desconhecidos, mas que, dessa vez, atendeu a uma chamada. Era um companheiro de profissão dizendo que o Edifício XV de Novembro estava pegando fogo, com muita gente no local, e que os moradores teriam subido no terraço. “Estão querendo se jogar lá de cima e parece que tem um óbito”, teria dito o amigo.

“Ai, Deus tocou no meu coração novamente: pega suas coisas e vai”, ressalta Air que, sem pensar duas vezes, foi até o local do incêndio. “Chegando lá, me apresentei e já comecei a ajudar. Perguntei quem poderia ir comigo, pois trabalhamos em duplas, caso um se machuque ajuda o outro. Mas, todos os Bombeiros estavam exaustos”, lembrou.

Um militar teria se apresentado para subir com ele. Foi quando Air colocou a roupa de proteção e encontrou um cilindro de ar com no máximo 100 Bar, que já teria sido usado. “Coloquei nas costas e subi. A cena que vi foi dois Bombeiros exaustos ao extremo e de um terceiro com seu cilindro apitando, pois, já estava abaixo dos 50 Bar”, contou.

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(Foto: Vinicius Santana)

O socorrista relembra que ao chegar ao condomínio, os colegas ainda realizavam o resgate de vítimas.

“Um dos Bombeiros disse que a situação estava crítica e que havia um óbito no local e quando abriu a porta veio aquela fumaça preta — conhecida como lufada. Ali, se não fosse controlado o incêndio, as chamas poderiam ir para outros apartamentos através da fumaça”, relata.

“Entrei no apartamento com o intuito de ventilar, porque se quebra as janelas, a fumaça sai e fica mais fácil trabalhar”, disse o subtenente. Porém, apesar de bater com uma panela no vidro, ele não quebrou. 

Air lembra que três equipes já haviam entrado no local em busca da vítima, mas não a encontraram. “Em uma situação dessa, priorizamos quem está vivo”, ressalta. Com o cilindro de oxigênio de seu companheiro acabando, Air ficou sozinho no apartamento e começou a ventilar. “Veio uma coisa no meu coração e Deus disse, vai e busca”. Ele conta que parou de ventilar e foi em busca do idoso.

“Decidi procurar, fui em um cômodo, nada. Fui em outro, visibilidade zero. Senti uma cama e pensei: ele está aqui. Foi quando o encontrei. Era ele, era o vôzinho que estava ali”, comentou. “Pelo menos vou entregar o corpo sem queimaduras para a família”, pensou Air. “Mas, para ter certeza, peguei nele e falei: tio, tio, como o senhor está, você está bem? Foi quando ele abriu os olhos, depois de 40 minutos”, lembra, com os olhos cheios de lágrimas.

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(Foto: Henrique Arakaki/Midiamax)

Inundado por esperança, Air disse que tiraria ele do local e começou a chamar apoio e avisou todos através da comunicação que o idoso estava com vida. “Fui arrastando ele até a entrada do apartamento e outro militar veio ajudar. Levamos ele até a escada de incêndio”, fala.

“Que sensação maravilhosa”, comenta, emocionado, o veterano do Corpo de Bombeiros. O idoso foi atendido intubado e levado para a Santa Casa. Depois retornei junto de militares extremamente qualificados e combatemos o incêndio”. E assim como no filme “Até o último homem”, só depois que todas as vítimas foram resgatadas o subtenente foi embora.

Air disse que essa foi a primeira experiência em incêndio que encontrou alguém com vida. Ele, que esteve combatendo o incêndio no Paulistão, No antigo Planeta Real, no Atacadão e na Tapeçaria próximo à antiga rodoviária. “Entregar ele vivo para seu filho, não tem melhor sensação”, afirma.

Vítimas

O idoso resgatado por Air foi intubado no local e encaminhado para o Hospital Santa Casa de Campo Grande em estado grave. A vítima segue internada no hospital. O quadro é estável. Três vítimas foram resgatadas do prédio em chamas pela escada mecânica do Corpo de Bombeiros, um com auxílio de uma prancha.

Uma idosa, de 88 anos, deu entrada às 17h33, no pronto-socorro da Santa Casa. Conforme o boletim do hospital, a vítima inalou grande quantidade de fumaça ocasionada pelo incêndio. Ela realizou exames de imagens e laboratoriais e recebeu alta médica na manhã de quinta-feira (10).

Já uma mulher de 59 anos, deu entrada às 18h34 de quarta, após inalar a fumaça. Ficou em observação no Pronto-Socorro consciente, orientada e estável. Recebeu alta médica na manhã quinta.

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