Depois de meses de pandemia, com comércios fechados, pessoas desempregadas e milhares de mortes por covid, as vacinas eram o item mais desejado de toda a população de no início de 2021. Vistas como esperança para o fim da pandemia, elas chegaram na segunda quinzena de janeiro ao Estado e transformaram o panorama de casos e mortes por coronavírus. Se em janeiro a média era de 18,4 mortes por dia, passando para uma média de 56,7 mortes em abril, agora Mato Grosso do Sul finaliza o ano com uma média de 2,4 óbitos diários — uma queda de 95%.

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Lançamento da campanha ocorreu no HRMS. (Foto: Divulgação/SES)

A campanha de vacinação começou no dia 18 de janeiro em Mato Grosso do Sul, com o lançamento no HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul). O lançamento foi marcado por um ato simbólico, quando quatro sul-mato-grossenses tiveram a oportunidade de receber a primeira dose da vacina aplicada no Estado. No lançamento, foram vacinados dois profissionais da saúde, uma indígena e uma idosa moradora de asilo. 

Foram imunizados o médico Márcio Estevão Midom, que atuava no Hospital Regional, referência no tratamento da covid no Estado. A primeira integrante do grupo de idosos a receber a vacina foi a dona Maria Bezerra de Carvalho, de 83 anos, moradora do Asilo São João Bosco. Também foram imunizados a indígena Domingas da Silva, da aldeia Tereré, e a auxiliar de enfermagem Sandra Maria de Lima. 

Na época do início da vacinação, Mato Grosso do Sul marcava cerca de 2,6 mil mortes por covid. Atualmente, são 9,7 mil vítimas da doença. “Nosso pedido é que a gente despolitize a vacina. Não importa de onde venha, desde que salve vidas”, salientou o governador (PSDB) no lançamento da campanha. 

Fake news atrapalharam vacinação

A fala do governador remete a uma das dificuldades enfrentadas ao longo de toda a campanha contra o coronavírus. Seja por opiniões políticas ou pela disseminação das fake news, houve uma certa dificuldade de avançar com a campanha de imunização. Por conta do coronavírus ser uma doença ainda nova e envolta de dúvidas da população, as informações falsas acabaram se disseminando. Por isso, os secretários Geraldo Resende e a adjunta Crhistinne Maymone, da SES (Secretaria de Estado de Saúde), passaram meses tentando conscientizar a população durante as lives que eram promovidas diariamente.

Além das fake news, as informações exageradas sobre os efeitos adversos provocados pela vacinação também prejudicaram a campanha, um trabalho de conscientização que perdura até hoje. No início de dezembro, as secretarias de Saúde e Educação lançaram uma campanha com foco nos adolescentes, que também ainda não tinham alcançado o índice de cobertura vacinal desejável. 

A campanha voltada aos jovens surgiu com o objetivo de promover atividades pedagógicas, conscientizar sobre a imunização e ainda levar a vacina até as escolas. “Hoje nosso maior desafio é vacinar os estudantes com 12 anos de idade ou mais. A vacinação dos adolescentes é um alvo muito fácil para a desinformação, porque decidir pelos filhos é ainda mais difícil do que decidir por si. Isso pode fazer com que as pessoas fiquem mais hesitantes e, portanto, mais vulneráveis às fake news. Sites maliciosos e influenciadores divulgam notícias falsas sobre as vacinas, exagerando ou mesmo inventando mortes e reações adversas graves”, disse o secretário Geraldo Resende. 

Demora e falta de doses

A demora nos primeiros meses de campanha e a falta de doses também foi um entrave para a imunização em Mato Grosso do Sul. A campanha começou em janeiro, mas foi só em abril que Campo Grande saiu dos grupos prioritários e começou a vacinar a população abaixo dos 59 anos, por exemplo. 

Lentamente, a campanha foi avançando por faixa etária. Em agosto, a vacinação contra covid em Campo Grande chegou à faixa etária dos 18 anos. Apesar da campanha ter começado no início de 2021, foi só com a vacinação do público mais jovem e em idade ativa no mercado de trabalho — como as pessoas de 18 a 30 anos principalmente — que os números começaram a cair.

Porém, para chegar a este ponto, Mato Grosso do Sul enfrentou dificuldades. Um dos problemas foi a falta de doses ao longo da campanha. Em abril, a falta de doses da vacina Coronavac interrompeu a vacinação nas principais cidades de Mato Grosso do Sul. O problema aconteceu depois que o Ministério da Saúde autorizou que os municípios utilizassem todas as vacinas armazenadas como primeira dose. As vacinas foram aplicadas e depois faltaram imunizantes para aplicação da 2ª dose.

Em setembro, faltaram doses da vacina Astrazeneca em MS. Diversos municípios ficaram sem estoque da vacina por conta do atraso na produção do IFA (ingrediente farmacêutico ativo).

Para vacinar toda a população, equipes foram até os ribeirinhos e moradores da zona rural na fronteira de MS. – Divulgação/Julio Croda/Fiocruz

 

Estudo na fronteira

Com o objetivo de construir um ‘cinturão de proteção', cidades da fronteira de Mato Grosso do Sul receberam um estudo de imunização em massa em julho. As 13 cidades foram escolhidas para participar de um estudo com a vacina da . Com a pesquisa, as cidades receberam doses suficientes para imunizar toda a população de uma só vez.

A vacina americana da Janssen, inicialmente de aplicação única, foi utilizada para estudo epidemiológico conduzido pelo médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda. O estudo foi conduzido pelo infectologista através do grupo Vebra Covid-19 (Vaccine Effectiveness in Brazil Against COVID-19). Os municípios que fizeram parte do estudo de vacinação em massa foram: Mundo Novo, Japorã, Sete Quedas, Paranhos, Coronel Sapucaia, Aral Moreira, Ponta Porã, Antônio João, Bela Vista, Caracol, Porto Murtinho, Corumbá e Ladário.

Todos, acima de 18 anos, que ainda não tinham sido vacinados com outros imunizantes tiveram a oportunidade de receber a dose da Janssen. Os pesquisadores monitoraram o impacto da vacina em relação à imunidade coletiva. Em outubro, o resultado do estudo foi publicado: a vacina teve eficácia de 90% contra mortes por covid na fronteira de MS.

Para estimar a eficácia do imunizante, a pesquisa utilizou testes RT-PCR, que são considerados ‘padrão-ouro' para o diagnóstico da doença. A eficácia da vacina da Janssen contra casos sintomáticos de covid foi de 50,9% após 28 dias da aplicação. O estudo ainda aponta uma eficácia de 72,9% contra hospitalizações e 92,5% para internações em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). As análises ainda mostraram ótimos resultados sobre os efeitos da vacinação no caso de mortes por coronavírus, com uma eficácia de 90,5%. 

Vacinação dos jovens permitiu retomada na economia com mais segurança. (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

 

Jovens vacinados e retomada econômica

Foi só entre julho e agosto, com a vacinação do público mais jovem, que os números da pandemia começaram a cair expressivamente em Mato Grosso do Sul. Os dados comprovam que o avanço da imunização foi essencial para diminuir a transmissão. Em junho, MS registrou 44,6 mil casos confirmados de coronavírus, o pico da pandemia. Já o mês de julho fechou com 20,5 mil casos, ou seja, menos da metade do que o mês anterior. 

Em agosto, foram 12,6 mil casos registrados em MS. Os números continuaram caindo nos meses seguintes, com 4,3 mil infectados em setembro, 3,5 mil em outubro e 2,3 mil em novembro. Se calcularmos a média de casos diários em cada mês, MS saiu de 1.489 infectados por dia em junho para 77,9 casos por dia em novembro. 

Com o alto percentual de vacinados e a queda expressiva nos registros na pandemia, Mato Grosso do Sul iniciou uma retomada às atividades. Aos poucos, medidas restritivas foram sendo extintas, como o toque de recolher, as aulas remotas nas escolas e o limite de lotação nos estabelecimentos. 

Doses encalharam nos estoques

Depois de meses no topo do ranking nacional da imunização, a campanha de vacinação contra o coronavírus em Mato Grosso do Sul estacionou em meados de outubro e novembro. Com milhares de vacinas nos estoques dos municípios, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) pediu a liberação da 3ª dose para adultos.

Na ocasião, o secretário estadual de saúde, Geraldo Resende, comentou que a campanha de imunização não havia se desenvolvido como o esperado. O secretário de Saúde ainda disse que MS dispunha de uma grande quantidade de vacinas nos estoques. “Estamos cuidando o prazo de validade dessas vacinas”.

Nova dose para reforçar imunização

Com a maioria da população imunizada com a 1ª e 2ª dose, percebeu-se que as pessoas vacinadas há seis meses já não tinham a mesma resposta contra o coronavírus. Portanto, foi percebida a necessidade de aplicar a dose de reforço na população. 

A 3ª dose começou com a aplicação em idosos e profissionais da saúde. Os dois públicos foram os primeiros a serem vacinados na campanha, na época com a dose da Coronavac. Para reforçar a imunidade, a SES determinou que eles deveriam receber uma dose de reforço com a Pfizer. 

Em novembro, a 3ª dose foi enfim liberada para todos os adultos. A medida foi anunciada pelo Ministério da Saúde e já era aguardada em MS, diante da quantidade de vacinas em estoque nos municípios.

Ao longo de 2021, a campanha de imunização passou por diversos entraves, que foram da desinformação até a falta de doses. Porém, o ano termina com a sensação de ‘missão cumprida'. Atualmente, a população já pode tomar a dose de reforço e 100% dos adultos sul-mato-grossenses tomaram pelo menos uma dose, conforme o Vacinômetro. Com a imunização, a população se sente mais segura para retomar a vida ‘quase normal' e está pronta para iniciar 2022 com mais esperança.