A subnotificação de casos de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, pode esconder que o número de casos no país e, respectivamente, nos demais Estados brasileiros, seja pelo menos 7 vezes maior que os números oficiais.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), admitiu que devido a impossibilidade de fazer testes em massa, é provável que o número de infectados seja bem maior. Não há uma estimativa oficial da subnotificação, mas nota do Ministério da Saúde aponta que o índice no país possa ser semelhante aos de Wuhan, na China, cidade onde o surgimento do vírus foi registrado.
Na cidade chinesa, um estudo oficial do governo daquele país aponta que ao menos 86% dos casos não foram detectados. Matematicamente, portanto, apenas 14% dos casos receberam comprovação por meio de testes, o que implica em um número de doentes 7 vezes maior que nas estatísticas
Assim como o Ministério da Justiça, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) também não possui uma estimativa. O titular da pasta, Geraldo Resende, também admitiu que o número de infecções é maior que as estatísticas oficiais.
“Discutindo as ações com o comitê técnico, analisamos que só está fazendo os testes em casos internados, casos que são graves. Os casos assintomáticos, que é acreditamos que seja em torno de 80%, são isolados em casa, mas não é feito o teste. O caso subnotificado é aquele que não tem como saber se a pessoa tem a doença. Acreditamos que o número de casos seja bem maior os que já registramos como suspeito”, destacou, na ocasião, acrescentando que pacientes assintomáticos também são vetores do novo coronavírus.
Nessa lógica, de apenas 14% dos casos reais entrando na estatística oficial, Mato Grosso do Sul teria aproximadamente 471 casos de Covid-19, com base nas 66 confirmações anunciadas na manhã desta segunda-feira (6). Em níveis nacionais, os cerca de 11,1 mil casos confirmados no país seriam até o domingo (5) na verdade, aproximadamente 80 mil caso a testagem fosse universalizada.
Riscos da subnotificação
As subnotificações de Covid-19 são um obstáculo no enfrentamento à pandemia em Mato Grosso do Sul e em todo o país. Isso porque somente os testes – que existem de forma limitada – são capazes apontar quem tem ou não a infecção. Ou seja, os estudos de curva de transmissão do Covid-19 podem não representar a realidade e muito menos o controle sobre a doença.
A SES já havia destacado que testes para coronavírus na rede pública são realizados apenas em casos considerados suspeitos – quando houve contato confirmado com pacientes comprovadamente com a doença, ou nos quais os pacientes apresentam SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). O mesmo critério é mantido para óbitos – apenas casos suspeitos ou que apresentem a condição clínica serão testados.
É onde mora o problema. Para o médico clínico geral e do trabalho Ronaldo de Souza Costa, a subnotificação de casos, seja de Covid-19 ou de outras doenças, elevam o riscos de novos casos e, no caso do coronavírus, de mortes.
“Estamos falando de um vírus que vive por dias em superfícies mortas. A única forma realmente eficaz de combatê-lo é, portanto, pela busca ativa. Tem que testar, isolar e tratar o paciente. O exame, portanto, é parte essencial. Só que não há para todo mundo”, aponta. “Uma pessoa pode permanecer assintomática e seguir transmitindo. Só o teste indicaria para ela o isolamento”, acrescenta.
A falta de exames, por sua vez, revelam o despreparo da rede pública para situações nem tão extraordinárias como o covid-19. A epidemia da dengue também sofre com a falta de testes de diagnósticos precoces. Segundo o médico, o critério é anacrônico, vai na contramão das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que são de testar todo mundo.