Pode parecer uma eternidade, mas só são dois meses desde que Mato Grosso do Sul confirmou os primeiros casos do novo coronavírus. Eram dois pacientes de , que colocavam fim às especulações e mostravam que Mato Grosso do Sul não estava incólume à pandemia declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) apenas três dias antes.

Dois meses que parecem mais. Isso porque, de lá para cá, tudo mudou. O boletim epidemiológico passou a ser diário e dali a alguns dias a Capital adotaria a recomendação pela quarentena e isolamento social. Campo Grande experimentaria dias de fechamento total do comércio, restrição na circulação de ônibus e temor por desabastecimento de supermercados. Com as semanas, as medidas foram sendo afrouxadas, mas o uso das máscaras se tornaram recomendados, mesmo as caseiras.

Mudaram, também, outras dinâmicas sociais. Abraços, beijos, apertos de mão passaram a ser desincentivados. Sair de casa para comprar comida passou a ser seguido por um ritual de limpeza dos itens adquiridos. Cada dia, uma nova informação: junto ao desempregos e colapso na economia ocasionados pelas medidas de contenção, a ciência descobria que o vírus era mais forte do que se imaginava.

Em Mato Grosso do Sul, o que se viu desde então foi o crescimento dos casos e nada do achatamento da curva de transmissão. Segundo o último boletim epidemiológico da SES (Secretaria de Estado de Saúde), publicado na manhã da quarta-feira (13), Campo Grande contava com 162 casos – 37,67% dos 430 confirmados com a em Mato Grosso do Sul. Os gráficos mostram a curva ascendente, com crescimento acentuado. Ainda na quarta-feira, o titular da SES descreveu a situação como “escalada progressiva”, que confirma as previsões matemáticas sobre o aumento de casos no país.

Somente de domingo (10) para cá, quando deu início a 20ª semana epidemiológica do coronavírus, foram 68 novos casos – 16 confirmações no domingo, 23 na segunda-feira (11), 20 na terça-feira (12) e mais 25 nesta quarta-feira. Junto aos números, um apelo.

“Nós queremos pedir a contribuição de vocês para esses dias. Fiquem em casa. Se forem sair, por necessidade, usem máscaras, mantenham distância e lavem as mãos sempre. Não toquem o rosto antes de lavar as mãos ou usar o álcool em gel nas ruas”, disse Resende, durante transmissão ao vivo que se tornou uma espécie de tradição para quem acompanha as mudanças nos números oficiais.

Primeiros casos

Há dois meses, em 14 de março, a situação era a seguinte: Mato Grosso do Sul havia recebido desde 25 de janeiro 40 de casos suspeitos, dos quais 37 foram desconsiderados e um, em Três Lagoas, foi considerado suspeito. As duas confirmações foram em Campo Grande: uma mulher de 23 anos atendida na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Leblon no dia 12 de março, contagiada após contato com um caso positivo no Rio de Janeiro; e um homem de 31 anos que esteve na UPA Coronel Antonino, no mesmo dia, após chegar de Londres, além de manter contato com um paciente positivo em São Paulo.

Ambos ficaram em isolamento domiciliar e já receberam alta clínica. Até então, vale lembrar, os exames era coletados aqui, mas enviados para São Paulo, onde eram executados pelo laboratório do Instituto Adolf Lutz. Posteriormente, o (Laboratório Central) recebeu tecnologia e treinamento para que os testes fossem executados no local.

O primeiro óbito ocorreria cerca de duas semanas após a primeira confirmação: em 31 de março, a aposentada Eleuzi Nascimento, de 64 anos, faleceu em decorrência da Covid-19. A idosa era moradora de Batayporã e teria supostamente contraído a doença em Mato Grosso, enquanto visitava uma filha, em março. Ela tinha histórico de doença pulmonar crônico e inicialmente teria sido internada em Nova Andradina, com notificação feita no dia 24 de março, sendo transferida para Dourados dias depois, onde veio a falecer.

Em dois meses, Mato Grosso do Sul já contabiliza 14 óbitos, três deles nos últimos três dias. Na última quarta-feira (13), o Jornal Midiamax preparou uma lista com o perfil de todos os pacientes que morreram em decorrência da doença (clique AQUI). A morte mais recente foi de um paciente de 38 anos, em Campo Grande, que apresentava obesidade, hipertensão e diabetes como comorbidades.

Futuro

Futuro continuou uma palavra adequada para descrever incertezas. As projeções matemáticas mais otimistas apontam que não haverá trégua do vírus antes de setembro, com possibilidade das recomendações de quarentena acabarem somente em dezembro. Outras, trazem que o combate à pandemia pode durar até cinco anos. Em qualquer das perspectivas, 2020 é um ano perdido, principalmente porque a exposição ao vírus segue grande. Por semanas Mato Grosso do Sul – que ironicamente tem a situação mais favorável em relação a número de leitos e contágios – apresentou a menor taxa de isolamento social.

O desrespeito às novas regras sanitárias é sistêmico. A ponto de se enxergar, atualmente, a interiorização da doença no Estado. Pior: para áreas onde não há atendimento de alta complexidade adequado (como UTI e leitos com respiradores mecânicos). O futuro segue incerto, mas continua reflexo das próprias escolhas, das decisões práticas, porém complexas, do atendimento à frase que mais se ouve por aí: fique em casa.

* Atualizada às 10h para atualização de informações