Número de doentes pode ser maior em MS: o risco da subnotificação na guerra contra o coronavírus
As subnotificações de Covid-19, causada pelo novo coronavírus, são um obstáculo no enfrentamento à pandemia em Mato Grosso do Sul e em todo o país. Isso porque somente os testes – que existem de forma limitada – são capazes apontar quem tem ou não a infecção. Ou seja, os estudos de curva de transmissão do […]
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As subnotificações de Covid-19, causada pelo novo coronavírus, são um obstáculo no enfrentamento à pandemia em Mato Grosso do Sul e em todo o país. Isso porque somente os testes – que existem de forma limitada – são capazes apontar quem tem ou não a infecção. Ou seja, os estudos de curva de transmissão do Covid-19 podem não representar a realidade e muito menos o controle sobre a doença.
Uma estimativa do Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine, do Reino Unido, traz que os casos de coronavírus no Brasil seria 11 vezes maior que o registrado oficialmente, já que a testagem está obedecendo apenas os critérios clínicos, devido o número insuficiente de exames comprobatórios.
Ao Jornal Midiamax, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) já havia destacado que testes para coronavírus na rede pública são realizados apenas em casos considerados suspeitos – quando houve contato confirmado com pacientes comprovadamente com a doença, ou nos quais os pacientes apresentam SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). O mesmo critério é mantido para óbitos – apenas casos suspeitos ou que apresentem a condição clínica serão testados.
É onde mora o problema. Para o médico clínico geral e do trabalho Ronaldo de Souza Costa, a subnotificação de casos, seja de Covid-19 ou de outras doenças, elevam o riscos de novos casos e, no caso do coronavírus, de mortes.
“Estamos falando de um vírus que vive por dias em superfícies mortas. A única forma realmente eficaz de combatê-lo é, portanto, pela busca ativa. Tem que testar, isolar e tratar o paciente. O exame, portanto, é parte essencial. Só que não há para todo mundo”, aponta. “Uma pessoa pode permanecer assintomática e seguir transmitindo. Só o teste indicaria para ela o isolamento”, acrescenta.
A falta de exames, por sua vez, revelam o despreparo da rede pública para situações nem tão extraordinárias como o covid-19. A epidemia da dengue também sofre com a falta de testes de diagnósticos precoces. Segundo o médico, o critério é anacrônico, vai na contramão das recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), que são de testar todo mundo.
Aparelhamento da saúde
A dificuldade de ter testes à disposição para seguir com a recomendação da OMS passa por um cenário de aparelhamento dos laboratórios públicos, tanto em Campo Grande como no Lacen (Laboratório Central da SES), como em todo o país. Costa complementa, a propósito, que a subnotificação está amparada nos processo de desindustrialização da rede pública de saúde observadas nos últimos anos.
No caso dos países que se saíram melhor na redução da curva de infecção, como Coreia do Sul e Alemanha, os percentuais de casos diagnosticados seriam bem mais próximos do número real, respectivamente 88% e 75%, já que houve condições de testar a grande maioria de sua população – mesmo as que não apresentava sintomas. A partir dos resultados positivos, foram feitos os isolamentos.
“Nós não temos autonomia nem para fabricar máscaras. Poderíamos, mas não temos. Serão importadas da China. Ou seja, é tudo muito relacionado. Subnotificação não é novidade e também está acontecendo com várias outras doenças transmissíveis. No estado onde se toma tereré de forma compartilhada, até a tuberculose pode estar subnotificada. O exame que testa tuberculose é um teste que não temos suficientemente. A dinâmica de abandono de uma tecnologia mais elevada em saúde ocorre há muito tempo, não é de agora”, pontua.
Ronaldo cita o fechamento do Laboratório Central da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), na Avenida Calógeras e também a limitação do Lacen (Laboratório Central de MS), obrigando que parte de exames seja suprida por institutos particulares.
“Tudo isso passa pela necessidade de se fortalecer os laboratórios próprios de MS, sem compra dos serviços privados. Se houver agilidade e competência, o controle real de epidemias existiria, devido ao diagnóstico precoce”, conclui.
Mais testes
No último dia 21, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) pontuou que o governo havia realizado compra de 200 kits de testes de coronavírus, que possibilitariam a realização de 10 mil exames de detecção da doença. Além da compra emergencial, o Estado recebeu 20 kits, com capacidade de realização de 396 testes. Antes de realizar testagens no Estado, as amostras eram enviadas para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
Um procedimento emergencial também foi aberto para possibilitar a compra de mais 5 mil testes, com previsão de entrega nos primeiros dias de abril. Segundo a SES, novo processo de compra de exames deve garantir mais cinco mil testagem realizadas pelo Lacen.
Também para combater a subnotificação, a SES publicou resolução na última semana obrigando que laboratórios de análises clínicas de todo o estado notificassem os casos suspeitos e confirmados de coronavírus, levando em conta que a subnotificação de casos pode trazer prejuízos para o controle da epidemia de coronavírus. Na rede particular, os testes são realizados também obedecendo triagem.
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