Com lobo-guará ou ‘vira-lata caramelo’, nota de R$ 200 preocupa comércio pela falta de troco

Nova cédula de real lançada nesta quarta-feira agrava problema da falta de troco nas lojas, segundo comerciantes de Campo Grande.

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Não importava se fosse o lobo-guará, animal que acabou escolhido, ou o vira-lata caramelo, como clamaram as redes sociais. O problema com a nota de R$ 200, lançada nesta quarta-feira (2) pelo Banco Central do Brasil e com início de circulação imediato, ao menos para os comerciantes de Campo Grande, está no troco para pequenas compras, comuns na maioria dos estabelecimentos.

O uso da nova cédula em algumas lojas visitadas pela reportagem do Jornal Midiamax pode fazer o comprador levar consigo dos locais, além dos produtos, um “zoológico de bolso”: uma compra de R$ 3 obrigaria o lojista, por exemplo, a entregar de troco uma garoupa (que estampa a nota de R$ 100), uma onça pintada (R$ 50), um mico-leão dourado (R$ 20), duas araras vermelhas (R$ 10), uma garça (R$ 5) e uma tartaruga de pente (R$ 2).

O exemplo acima supõe uma loja que tenha cédulas diferentes disponíveis para movimentação de caixa (obviamente, algumas podem se repetir). E não menciona o uso das moedas –de R$ 0,05, R$ 0,10, R$ 0,25, R$ 0,50 e R$ 1– que, a exemplo de alguns dos animais que ilustram as notas, são consideradas espécies em extinção nos caixas do comércio.

“Já sofremos com o troco agora. Com a nota mais alta vai ficar pior”, previu o empresário Ibrahim Sírio, 46, proprietário de uma lanchonete na Rua Cândido Mariano, no Centro. “Moeda ‘moeda’, mesmo, já é difícil de achar. Dou um salgado para quem traz R$ 100 em moedas”, prosseguiu.

Ibrahim também faz uma análise mais profunda sobre o lançamento da nova cédula: para ele, a apresentação de notas mais altas são indício de que “a moeda perdeu o valor”. Pelo lado bom, ao menos, espera que incidentes envolvendo falsificações com as notas de R$ 200 sejam menos frequentes. “Com a de R$ 20 tem bastante falsificação”, alerta.

A situação é diferente da feita pela empresária Kety Motta, 32, que administra uma loja de roupas que funciona há 25 anos na Rua 14 de Julho. “Dia sim, dia não, temos notas falsificadas de R$ 50 ou R$ 100”, afirmou, já prevendo que precisará de tempo para treinar os funcionários a identificarem as cédulas de R$ 200 para evitar receberem falsificações. “Vou até comprar uma caneta para identificar notas falsas”, comentou.

Kety, contudo, concorda com Ibrahim ao prever problemas para dar troco aos clientes. “Trabalhamos com preços promocionais, como R$ 25, e o comprador pode vir com uma nota de R$ 200. Se atendermos 5 clientes e todos vieram com notas de R$ 200, ficaremos sem recursos para dar R$ 175 de troco para cada cliente”, advertiu.

A essa dificuldade, a empresária soma os obstáculos para conseguir trocar cédulas no sistema bancário. “Os bancos não estão facilitando. Tem de agendar horário com o gerente e isso dificulta”.

Da mesma forma, a gerente de uma loja de utilidades na 14 de Julho, que pediu para não ser identificada, mostrou preocupação em como atender aos clientes na hora de voltar o troco. “A pessoa vai comprar um produto de R$ 3 e eu vou ter de devolver R$ 197”, ilustrou, citando que o preço médio dos itens no local é de R$ 3 a R$ 10.

A gerente, ao menos, viu um ponto positivo no lançamento da nova cédula –que, curiosamente, acaba por “passar o problema adiante”. “O lado bom é que vai diminuir o volume para realizar pagamentos”.

A possibilidade de a nova cédula permitir o ocultamento de dinheiro –como nas famosas cenas de cédulas escondidas em maletas ou encontradas pela polícia espalhadas por residências– foi um dos fatores que motivaram críticas para seu lançamento.

Ao anunciar a nova integrante da família de cédulas brasileiras, o BC informou que o lançamento visa a atender ao aumento da demanda por dinheiro em espécie identificada durante a pandemia de coronavírus –causado pelo “entesouramento”, isto é, a manutenção do dinheiro em casa, já comum com as moedas.

A nova cédula não será a maior da família: repetirá o tamanho da nota de R$ 20, que integra a Segunda Família (ao lado da cédula de R$ 2). Mantendo a tradição de homenagens à fauna, trará o desenho do lobo-guará –algo que já atiçou a criatividade dos internautas, traduzida em uma série de memes.

Só neste ano, devem ser impressas 450 milhões de cédulas de R$ 200, o equivalente a R$ 90 bilhões em valor de face. O dinheiro será colocado em circulação automaticamente pela rede bancária.

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