Após disparada de casos e baixo isolamento, Saúde de MS foca em frear pandemia

Titular da Secretaria de Estado de Saúde cobra da população e de prefeitos engajamento; transmissão da Covid-19 ocorre de forma sustentada.

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

A terça-feira (23) começou com dois recordes negativos da pandemia de coronavírus em Mato Grosso do Sul: o de casos positivos em um dia (329) e de óbitos (8) até o fim da manhã –já sendo confirmadas novas mortes a serem anunciadas no dia seguinte. Tal panorama, para as autoridades de Saúde, vêm da falta de comprometimento da população com as ações de enfrentamento à pandemia e colocam as ações na fase de mitigação do avanço de casos.

“[Os números] representam a pouca colaboração que a população tem dado, o pouco valor que os sul-mato-grossenses estão dando à vida, a baixa adesão ao isolamento social. Representa que, apesar de decretos e apelos pelo uso de máscaras, isso não está sendo feito. E, mais uma vez, a população mostra, como em outras doenças que também assolam Mato Grosso do Sul há muito tempo, que é pouco colaborativa em atitudes fundamentais para a contenção”.

As aspas acima são um desabafo do secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, que diariamente participa de transmissões ao vivo por redes sociais para atualizar os dados da pandemia em Mato Grosso do Sul. E, em todas as vezes, faz apelos à população para que não saia de casa, pois o isolamento social é, até aqui, a medida mais eficaz para frear a pandemia.

Conforme o titular da SES, a falta de participação popular no combate à pandemia “está ajudando a desconstruir” o trabalho iniciado em janeiro. “O Estado era referência no enfrentamento à Covid-19. Todos os outros questionavam nossa receita de sucesso, mas, ultimamente, entendo que a população quer contribuir para que entremos em colapso na rede de Saúde”, disse o secretário.

A artilharia contra a população é focada especificamente na falta de participação no isolamento social. Autoridades do setor consideram que a orientação para se ficar em casa é eficiente para conter o espalhamento da doença quando 60% da população a segue. As médias estaduais têm sido próximas –ou, mais frequentemente, inferiores– a 40%, sendo que alguns municípios chegaram a ficar abaixo de 20%, conforme monitoramento da consultoria In Loco.

Geraldo ainda é categórico quanto ao resultado do baixo isolamento –registrado, pelo menos, desde o final de abril. “A tendência é piorar. Vamos viver dias terríveis no fim do mês e no mês de julho, acredito”, afirmou. O secretário de Saúde também cobra empenho maior das prefeituras, seja para fechar os casos em aberto ou rastrear os casos suspeitos como, ainda, tomar medias mais enérgicas para ajudar a frear o avanço do coronavírus.

“Se municípios pequenos, com estruturas mínimas, como Brasilândia e Guia Lopes da Laguna deram conta de fazer o enfrentamento, por que os melhores estruturados, com maior quantitativo de servidores, não conseguirão fazer isso?”, questionou. Dourados e Campo Grande lideram em volume de casos no Estado.

MS deixou a etapa de surtos e trabalha com a mitigação do coronavírus

Infectologista da SES, Mariana Croda lembra que a composição do total de casos de coronavírus no Estado envolveu os vários surtos registrados no interior, como em municípios como Três Lagoas, Guia Lopes da Laguna e, agora, na Grande Dourados; ou vinculados a atividades específicas, como no setor frigorífico.

“Agora não tem mais essa realidade. Trabalhamos com a fase de mitigação, onde já se caracterizou de fato uma transmissão comunitária e não se identifica a grande fonte [de contágios]”, explicou Mariana. Essas “fontes” começaram com viajantes, como em Campo Grande; passaram por núcleos familiares (como em Brasilândia); e envolveram atividades laborais.

“E agora não conseguimos mais identificar [a origem]. Temos a transmissão difusa. Houve aumento na região de Dourados, mas também em outros municípios”, afirmou ela, exemplificando que, ao longo de 2 semanas, o número de municípios que registraram casos de Covid-19 saiu de 52 (ou 65% do total) para 63 (80%).

“O avanço ocorreu em regiões que não tinham casos e muitos dos pacientes não conseguem identificar onde contraíram. Isso muito nos preocupa por caracterizar a transmissão sustentava, que normalmente é reflexo do que fizemos ao longo de duas ou três semanas”, lembrou a infectologista.

Da mesma forma, aquilo que foi feito hoje que pode influenciar no avanço do coronavírus –positiva ou negativamente– só refletirá em igual intervalo de tempo. “Nosso temor é que os municípios tenham assistido inertes o avanço. Medidas restritivas são necessárias e imediatas”, afirmou.

Nesta terça, Geraldo Resende explicou que a SES e a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) trabalham na implantação de um sistema de bandeiras, a fim de indicar a gravidade da pandemia de Covid-19 por região ou municípios, sendo apontadas medidas a serem seguidas pelos prefeitos para enrijecer as regras de contenção da doença ou a flexibilização das mesmas.

SES tem preocupação com avanço do coronavírus na Grande Dourados

Diante de um mapa que se torna cada vez mais vermelho –cor que indica os municípios com casos confirmados de coronavírus nos boletins oficiais da SES–, a Secretaria de Estado de Saúde segue com prioridade para a Grande Dourados, “porque o Conesul sempre foi a região mais problemática em termos de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano]”, explicou Mariana.

“Ali é onde está a população mais pobre, mais vulnerável, desde privados de liberdade, indígenas e refugiados, mas, principalmente, pela capacidade do serviço de Saúde”, emendou a infectologista. Ela comparou a região com Corumbá e Ladário, onde também há avanço da Covid-19 e pouca capacidade de leitos, mas se trata de uma área isolada.

“Dourados é referência para 33 municípios. Por isso olhamos o sul com mais preocupação que as demais regiões, que têm indicadores que favorecem o controle da epidemia”, complementou ela, citando a possibilidade de aquisição de leitos na rede privada –que já está saturada na Grande Dourados, diferente, por exemplo, de Campo Grande, que vive “uma segunda onda de contaminação ou quantas ainda vierem”.

Por fim, a infectologista reforça que a SES deixou de trabalhar com prognósticos sobre um fim para a pandemia –que já ressurge em outros países. “Até quando enfrentaremos isso? Só o coronavírus vai dizer”.

Conteúdos relacionados