Superpopulação de aves: Fungo da ‘doença do pombo’ é encontrado em escolas da Capital

A superpopulação de pombos faz acender mais um sinal de alerta na Capital. Uma pesquisa realizada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) identificou a presença do fungo Cryptococcus neoformans, presente no excremento de pombos, em escolas da Reme (Rede Municipal de Ensino). Apesar da doença acometer pessoas com algum tipo de deficiência […]

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A superpopulação de pombos faz acender mais um sinal de alerta na Capital. Uma pesquisa realizada pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) identificou a presença do fungo Cryptococcus neoformans, presente no excremento de pombos, em escolas da Reme (Rede Municipal de Ensino).

Apesar da doença acometer pessoas com algum tipo de deficiência imunológica (como portadores de HIV, transplantados, diabéticos e hipertensos), a criptococose é uma doença perigosa e pode até matar.

Superpopulação de aves: Fungo da 'doença do pombo' é encontrado em escolas da Capital
Visão do fungo no microscópio (Foto: Reprodução)

Assim como outras infecções causadas por fungos, ela é frequentemente negligenciada, isso porque o diagnóstico costuma ser mais difícil em estágios iniciais, pois os sintomas se parecem muito com outras doenças mais comuns. Logo, o quadro clínico pode seguir evoluindo até agravar-se.

As lesões mais específicas da criptococose – que são nódulos e abcessos nas membranas pulmonares e até mesmo nas cerebrais – aparecem nos estágios mais avançados, justamente quando o espectro de medicamentos utilizados no tratamento diminui. Por isso, ela é tratada como uma doença de consequências fatais, caso não seja identificada a tempo.

Fezes de pombos

As informações integram parte do resultado preliminar de pesquisa desenvolvida por Dario Corrêa Junior, biólogo e mestrando do programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS. No levantamento, sob a orientação da professora Marilene Rodrigues Chang, Corrêa realizou a coleta de fezes de pombos em 60 das 85 escolas municipais de 1º a 9º ano e identificou o fungo causador da criptococose em 3 delas.

Na fase de levantamento de dados, que durou cerca de 8 meses, Corrêa coletou amostras dos excrementos com autorização da Semed (Secretaria Municipal de Educação). Nas amostras que acusaram o fungo, foi feita a identificação do tipo de Cryptococcus e, posteriormente, uma análise mais aprofundada no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, permitiu identificá-los como do gênero neoformans.

Superpopulação de aves: Fungo da 'doença do pombo' é encontrado em escolas da Capital
Dario Corrêa e sua orientadora no mestrado (Foto: UFMS | Divulgação)

“A criptococose é causada pelo fungo Cryptococcus, que tem algumas variações. O Cryptococcus gattii, está presente principalmente em madeira em decomposição e pode acometer pessoas com sistema imunológico saudável, mas é bem mais rara. Já o tipo identificado é o Cryptococcus neoformans, que é associada a excrementos de pombos. Ele afeta pessoas imunossuprimidas. A maior parte das pessoas que adoecem são em decorrência deste gênero do fungo”, explica.

O problema abre a discussão sobre mais uma doença que pode ser causada pela infestação de pombos na cidade, um problema que ultrapassa Campo Grande. São ao menos cinco zoonoses associadas a pombos: a criptococose, a salmonelose (infecção bacteriana), encefalites (infecções virais), toxoplasmose (infecção por protozoários) e E. Coli (bactéria).

Agrava o quadro o fato que as infecções fúngicas, via de regra, costumam ser negligenciadas e não são de conhecimento público. Além disso, praticamente toda família tem algum tipo de imunossuprimido, seja por ser portador de HIV, seja por tratar diabetes ou pressão alta.

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Pesquisador coletou amostras de fezes de pombos em mais de 80 escolas da Capital (Foto: Divulgação | UFMS)

“Encontrei o fungo em escolas, mas isso é um indicativo de que pode haver em outros lugares, pois os pombos são migratórios, fazem ninhos em vários lugares, estão por toda a cidade. Quer dizer, existe uma preocupação que precisa ser vista”, aponta Corrêa.

Segundo ele, o alerta serve para toda a população. “Todos nós convivemos com pombos e ignoramos os riscos que podem surgir. Seguimos alimentando-os, não protegemos telhados e lugares onde eles podem fazer ninhos. As pessoas devem ter o conhecimento desses riscos”, detalha.

Escolas atentas

Para a titular da Superintendência de Gestão e Normas da Semed, Alelis Izabel de Oliveira Gomes, a pesquisa chancela a hipótese de que os pombos são algo a serem combatidos, sobretudo nas escolas.

“Esta é uma preocupação recorrente. Atualmente, cada gestor escolar tem feito o controle da presença de pombos de uma maneira, é algo que é muito discutido. Mas, a Semed está se organizando para telar todos os locais que podem servir de ninhos. É a primeira vez que vamos investir sistematicamente no combate aos pombos”, detalha.

Atualmente, escolas já são orientadas a ensinarem os estudantes a não alimentar o pombos, um dos fatores que atrai as aves às escolas. “Notamos, por exemplo, que durante os recessos escolares, pombos saem em busca de outras moradias. Temos experimentado algumas soluções, umas eficazes e outras nem tanto. Mas tudo passa, também, pela orientação de que não devemos alimentar esses animais”, explica a superintendente.

No fim de janeiro, diretores escolares deverão passar por mais um treinamento no qual o assunto voltará à tona. “Neste dia, já vamos orientar para começar uma campanha com o alunado. Como professores, sabemos que o conhecimento vem das pesquisas e por isso queremos aproveitar essas informações para que a conscientização seja levada à sério na comunidade escolar”, finaliza.

Cartilha

 

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Material educativo foi produzido para projeto de extensão da UFMS (Foto: Divulgação | UFMS)

A pesquisa de Corrêa também previu a criação de um projeto de extensão da UFMS na qual fosse possibilitada a produção de material didático para orientar professores (clique AQUI para fazer o download). De acordo com a UFMS, cerca de 180 professores, de 85 escolas municipais, passarão por treinamento no projeto.

“A ideia é abordar a parte ambiental, enquanto a professora (médica infectologista) Anamaria Mello Miranda Paniago explicará sobre o diagnóstico clínico da criptococose e minha orientadora (farmacêutica-Bioquímica), professora Marilene Rodrigues Chang, mostrará como é feito o diagnóstico laboratorial dessa doença”, conclui Corrêa.

*Matéria alterada às 11h39 para correção de informações.

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