Após a manobra dos empresários do transporte coletivo para ‘inflar' votação em assembleia de motoristas, a negociação sobre o reajuste dos motoristas de ônibus foi encerrada. A proposta de reajuste de 3,5% foi aceita e o salário base dos motoristas passa de R$ 2.087 para R$ 2.160. O reajuste dos motoristas ficou abaixo da projeção da inflação de 2019, que é de 3,86%. A proposta ainda inclui a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de 9% e o vale alimentação de R$ 125. 

O presidente do STTCU (Sindicato dos Trabalhadores em Urbano de ), Demétrio Freitas, afirma que a negociação foi encerrada e os motoristas devem receber o reajuste retroativo de novembro, que era a data-base para negociação salarial. A proposta inicial dos motoristas era de um reajuste de 13%. Se tivesse sido aceita, o salário base dos trabalhadores passaria a R$ 2.358,31.

Demétrio explica que além do salário, os motoristas recebem um cartão alimentação no valor de R$ 125 e vale gás mês sim, mês não. Ele ainda afirma que os motoristas recebem um acréscimo de 2,5% sobre o salário a cada cinco anos e que têm uma comissão sobre os usuários que passam pela catraca.

“Eles têm comissão sobre o passageiro que passa na catraca, de 1,5% nos ônibus convencionais e 2% nos articulados. É uma comissão sobre todo passageiro pagante, seja com uso do cartão ou com dinheiro”, explica.

Atuação do sindicato nas negociações

A categoria não está satisfeita com a atuação do sindicato nas negociações. “Um dos integrantes da diretoria do sindicato foi favorável à opção 1, que era contra o desejo da categoria. Isso demonstra que o sindicato não nos defendeu como deveria. Se o sindicato que nos representa está contra o desejo do trabalhador, fica difícil de confiar”, opinou um dos líderes no movimento dos motoristas de ônibus.

Outro motorista, que não quis se identificar, comenta que a categoria não ficou satisfeita com o reajuste e nem com a atuação do sindicato. Segundo ele, o sindicato poderia ter feito mais. “[Da nossa proposta], unica coisa que conseguimos foi a PL (Participação nos Lucros) mantida, não estamos satisfeitos. Acho que o sindicato não fez à altura. Agora, infelizmente temos que ficar quietos. Ninguém está satisfeito com o Consórcio, nem com o sindicato”, disse.

O motorista ainda ressalta que, além de levar trabalhadores de outros setores para a negociação, o diretor do Consórcio ainda teria participado, o que acabou ‘pressionando' os trabalhadores a votar na opção defendida pela empresa.

A assembleia dos motoristas

Os empresários usaram manobra para ‘inflar' assembleia que votou o reajuste dos salários dos motoristas em Campo Grande. A estratégia usada pelo Consórcio foi de levar funcionários de outros setores das empresas, como administrativo e manutenção, para votar. Os motoristas acabaram ficando em minoria, já que a maioria deles estava trabalhando pela manhã. O resultado da votação foi pelo reajuste de 3,5% com vale alimentação de R$ 125, opção que já era defendida pelo sindicato.

Para os motoristas, a votação foi injusta. Segundo eles, 60% dos motoristas trabalha pela manhã, ou seja, não pode comparecer à assembleia. “Eles pegaram o pessoal do administrativo e manutenção, que também estavam trabalhando, e trouxeram para cá. Já que era para trazer os trabalhadores, por que só uma parte deles? Por que deixaram os motoristas trabalhando normalmente?”, questiona o motorista Fernando de Sá.

Entenda a negociação salarial

Após faltar reunião com os trabalhadores e o sindicato, o pediu uma audiência de conciliação no TRT. Na segunda rodada de conciliação, a empresa apresentou duas propostas. O diretor-presidente da empresa, João Rezende, disse que o reajuste salarial dos funcionários poderia impactar o valor da tarifa do transporte público.

Durante a audiência, a empresa propôs a manutenção da PLR (Participação nos Lucros e Resultados), aumento de R$ 15 no vale alimentação, que iria para R$ 125 e o reajuste salarial em 3,5%. A segunda proposta é a extinção da PLR, reajuste de R$ 185 no vale alimentação, que seria de R$ 295 e o reajuste salarial de 3,5%.

Vale lembrar que na primeira rodada de negociações, o sindicato dos motoristas pediu reajuste de 13% no salário e o Consórcio reagiu afirmando que a porcentagem poderia encarecer o “passe” de ônibus na Capital. Os empresários ganharam o contrato de concessão do transporte coletivo urbano de Campo Grande em 2012, no último mês do último mandato de Nelson Trad Filho como prefeito, e lucraram R$ 12,2 milhões em 2018, conforme informações contábeis que forneceram à Justiça.

Funcionários demitidos

Dois motoristas que lideravam paralisação e manifesto por reajuste salarial foram demitidos pelo Consórcio Guaicurus. Sem o apoio do STTCU (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Campo Grande), que considerou a manifestação ilegal, os funcionários foram demitidos por justa causa.

Os funcionários da Viação Campo Grande e Viação Cidade Morena, Carlos Eduardo Ferreira da Silva e Thiago Martins de Souza, respectivamente, afirmaram ao Jornal Midiamax que as demissões são uma retaliação das empresas para inibir e intimidar os demais funcionários que planejam participar da paralisação. O movimento iria acontecer nesta sexta-feira, mas após reunião motoristas decidiram adiar o ato.