Mesmo depois de reportagens sobre cortes de tabelas em linhas de ônibus e com o contrato do Consórcio Guaicurus sob suspeita de fraude, os problemas continuam para os usuários na Capital. Passageiros denunciam o aumento da espera pelos ônibus das linhas 214 (Campo Novo) e 414 (Nova Campo Grande). Há relatos até de linhas que ‘abreviam’ o caminho e deixam de fazer um trecho, como é o caso da linha 313 (Bonança).

Só nesta semana, o vigilante Jairo Lima já teve dor de cabeça com o Consórcio duas vezes. Ele relata que reparou o corte em uma tabela do ônibus 414 pelo menos cinco vezes no mês de julho. Nesta segunda (5) e terça-feira (6), aconteceu de novo e ele teve que esperar pelo transporte por quase uma hora para conseguir ir para casa.

“Saio do trabalho às 15h e de segunda a sexta-feira pego ônibus Nova Campo Grande que passa na Rui Barbosa às 15h20. O que acontece é que ele deixa de passar, aí temos que esperar o próximo, às 16 horas, que vem superlotado”, comenta.

A auxiliar administrativa Fernanda Seles passa por situação parecida. O ônibus da linha 214 deveria passar na rua Manoel José Lopes às 6h20, mas os passageiros precisam esperar pelo próximo veículo. “Tem um ônibus às 6h e o outro só passa às 6h30. Quem precisa chegar ao terminal para pegar um outro ônibus acaba se atrasando para o trabalho”, relata.

A reportagem do Jornal Midiamax checou as tabelas com os horários de ônibus detalhados na OS (Ordem de Serviço) da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação. De acordo com os dados, os ônibus que deixaram de passar eram reforços para as linhas. O que indica, que a frota regular continuou nas ruas, mas que o Consórcio teria retirado os veículos que serviriam para ‘desafogar’ a linha e evitar a superlotação.

Em outro caso denunciado por passageiros, o ônibus da linha 303 estaria ‘cortando’ caminho aos sábados. Em um dos primeiros horários do dia, às 5h40, o transporte deixa de fazer uma ‘volta’, quando deveria passar pela rua Napoleão Marques Siqueira. Entretanto, o veículo estaria seguindo da rua Litorânea direto para a rua Tenente Antônio João Ribeiro.

“Quem mora naquele trecho tem que andar até a rua Tenente Antônio João Ribeiro. O problema é que é perigoso, o caminho é cercado por um matagal, sem falar do perigo que é andar sozinha na rua antes do amanhecer”, relata uma usuária.

O Jornal Midiamax entrou em contato com o Consórcio Guaicurus e informou sobre as denúncias dos passageiros. A empresa orientou aos usuários que formalizem as reclamações pelo telefone 67 3316-6600.

Reportagens já denunciaram a ‘manobra’ do Consórcio para economizar ao cortar tabelas de ônibus e, assim, aumentar o tempo de espera de quem usa o transporte coletivo. Segundo motoristas, eles estariam sendo orientados e pressionados para ‘esticarem’ os intervalos nos ‘pontos finais’ durante os fins de semana. Com a medida, eles rodariam menos vezes que o previsto nas tabelas de cada linha, com consequente economia de combustível e desgaste de pneus, por exemplo, para as empresas. Em outra reportagem, o Jornal Midiamax denunciou o corte em pelo menos 20 linhas do transporte.

Suspeita de fraude

Vale lembrar que o Consórcio Guaicurus é alvo de investigação no MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). O Ministério instaurou um inquérito civil para investigar irregularidades no processo de licitação que culminou na concessão dos serviços de transporte público de Campo Grande ao Consórcio em 2012. O contrato estima faturamento de R$ 3,4 bilhões durante seus 20 anos de vigência.

O Consórcio também é alvo de denúncias no Paraná. Em acordo de colaboração premiada, o advogado Sacha Reck revelou um esquema de fraude em licitações do transporte coletivo que foi utilizado em 19 cidades do país, inclusive Campo Grande.

Um dos responsáveis pela formação do Consórcio Guaicurus, o advogado confirmou que houve direcionamento na licitação do contrato dos ônibus de Campo Grande, realizada em 2012, no final da gestão de Nelson Trad Filho (PSD) como prefeito. De acordo com investigações do Ministério Público do Paraná, o esquema funcionava de modo que tudo era combinado entre empresários, advogados e funcionários públicos. Eles definiam em conjunto como seria o texto dos editais de licitação para garantir a vitória das empresas que faziam parte da fraude.

Atualmente, até os órgãos municipais de controle e regulação, Agetran (Agencia Municipal de Transporte e Trânsito) e Agereg (Agência Reguladora dos Serviços Delegados), são suspeitos de atuar em favorecimento dos empresários, supostamente mudando regras do contrato e fazendo vista grossa.

(colaborou Richelieu Pereira)