Família que nasceu da adoção é arruinada por incêndio e doações são a única esperança
A fita amarela e o portão de ferro escondem a dimensão da tragédia que assolou a família da dona Zulema da Silva Pereira de Arruda, de 62 anos, na tarde desta sexta-feira (4), na rua Abias Batista Filho, na Vila do Polones, em Campo Grande. Em meio às chamas, além das memórias, objetos pessoais e […]
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A fita amarela e o portão de ferro escondem a dimensão da tragédia que assolou a família da dona Zulema da Silva Pereira de Arruda, de 62 anos, na tarde desta sexta-feira (4), na rua Abias Batista Filho, na Vila do Polones, em Campo Grande. Em meio às chamas, além das memórias, objetos pessoais e móveis, uma vida: o filho autista, de 8 anos, estava dormindo no sofá quando foi socorrido com 90% do corpo queimado.
Ainda buscando explicação sobre o incêndio que consumiu a residência da família, os olhos da dona de casa Zulema filmam incrédulos as paredes e todos os pertences de uma vida inteira que viraram cinzas em poucos minutos.
“Minha casa queimou toda, tia.” É sob o alerta inocente de João Pedro que a reportagem é recebida pelo filho adotivo mais novo, de 7 anos. Zulema, Reginaldo, os filhos adotivos Pedro Henrique e João Pedro, além de dois sobrinhos, são os moradores do pequeno imóvel, forrado com pinho, construído pelas mãos de Reginaldo em 1993. O local foi palco de uma tragédia jamais registrada aos arredores do bairro: um incêndio que pode ter sido provocado pela criança mais nova, portadora de deficiência intelectual.
O pedreiro e a esposa são uma família como qualquer outra que luta diariamente pelo sustento da casa. Com um diferencial, o amor pela vida inocente fez com que o casal adotasse 3 crianças de abrigos na Capital. Atualmente com 8 e 7 anos, os dois filhos mais novos sofrem de deficiência intelectual e precisam de cuidados especiais. A mais velha, hoje com 17 anos, teria “fugido com o namorado aos 15”.
O destino da família, na última sexta-feira, parecia estar trilhado rumo à dor. No início da tarde, Reginaldo recebeu a ligação da irmã, moradora de Corumbá, informando que o marido havia falecido vítima de um derrame.
Para prestar condolência aos familiares, o pedreiro saiu por uns minutos da residência e, quando voltou, encontrou o lugar interditado pelo Corpo de Bombeiros. Na calçada, os gritos de dor do pequeno Pedro Henrique anunciavam aquilo que seria o maior sofrimento dos pais, as queimaduras causadas pela inércia da criança em meio às chamas.
Sem saber explicar com detalhes, dona Zulema narra em voz doce e vocabulário carente o que supostamente pode ter acontecido. Os relatos surgem em frente à casa da vizinha, onde foi acolhida e acordou horas depois do incêndio.
“Estou só com a roupa do corpo, mas o que está mais me doendo é meu filho na Santa Casa.”
O conformismo vem chegando a partir do momento que a ficha também vai caindo. Por uma questão de segundos, o irmão mais novo pode ter incendiado a casa e queimado o mais velho.
“Estava costurando quando vi que o pequenininho (de 7 anos) estava brincando com o isqueiro e tirei da mão dele. O problema é que o de 8 anos (autista de grau grave) estava dormindo no sofá e quando eu percebi já estava queimando tudo e eu não consegui correr para tirar ele do sofá.”
A vida foi salva com a ajuda de anjos sem asa. Uma força-tarefa entre vizinhos nasceu do desespero ao ouvir os berros da criança. Apesar do clamor, o garoto ficou estático no meio do fogo, o que dificultou na hora do socorro. “Não sei se porque tinha acabado de acordar ou porque ficou com medo, mas ele ficou estático, paralisado, como se não estivesse correndo perigo. Nisso, o fogo já estava em todo o corpo dele”, relatou um dos jovens que colaborou no resgate.
A dificuldade chega agora, em um sábado cinzento. Sem roupas, alimentos, brinquedos, móveis, ou eletrodomésticos, a família vai contar com a solidariedade para voltar a viver. A casa deve ser demolida nos próximos dias e, sem renda fixa, o casal precisa de todos os tipos de doações.
“Meu marido está doente e vai passar pela perícia neste mês. Ele estava recebendo pelo INSS, mas cortaram, agora vai tentar aposentadoria.”
O garoto segue internado na Santa Casa de Campo Grande, entubado em estado grave, aos cuidados do pai. Enquanto as horas vão passando, as orações e esperança de um amanhã melhor são o que ainda acendem a força de dona Zulema.
Quem quiser ajudar pode ir até a rua onde a família morava ou entrar em contato com Reginaldo pelo telefone (67) 99159-8512
Veja também as imagens gravadas pelo vizinhos Vilmar da Cruz Arenales na hora do incêndio:
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