Quem usa diariamente o transporte público de Campo Grande sabe das limitações que o serviço tem e muitas vezes presencia ônibus quebrado, roda se soltando, ar condicionado estragado, portas caindo e outros dilemas. No entanto, os problemas vão além de defeitos técnicos ou mecânicos, pois chegam a causar sequelas para a vida dos passageiros.

Em 2019, o Consórcio Guaicurus foi processado 16 vezes e requerimentos são por parte de passageiros que se acidentaram durante o trajeto dentro dos ônibus, vítimas de atropelamentos e até familiares que buscam por justiça após morte de parente. Vale ressaltar que o número de petições protocoladas no TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) é 77,7% maior que em 2018, quando 9 manifestações foram registradas e pedidos de indenizações, atualmente, somam cerca de R$ 1,9 milhão.

A maioria das manifestações contra a empresa é por conta de queda de idosos dentro dos veículos. Como por exemplo, uma passageira que caiu durante viagem no ônibus da linha 070 – Terminal Morenão/Bandeirantes – e, devido às fraturas que sofreu após incidente, pede na Justiça uma indenização por danos morais de R$ 154 mil.

Em outra ocasião, uma senhora foi arremessada dentro do ônibus durante um acidente ente o veículo e um caminhão semirreboque. Depois do ocorrido, a moradora ficou com sequelas incuráveis, de acordo com o processo, e pede reparação de R$ 199 mil.

Jovem morto em terminal

Em outubro de 2018, o jovem William Cano Ferreira, de 18 anos, morreu após ser atropelado por ônibus no Terminal General Osório. As testemunhas na época do incidente disseram que o rapaz correu para tentar entrar em um ônibus que já estava saindo da plataforma.

Ao tentar se segurar em uma barra de ferro na lateral do coletivo, o motorista arrancou com o ônibus e ele perdeu o equilíbrio, caindo embaixo do ônibus. Na época, o Jornal Midiamax conversou com os passageiros e muitos apontaram a falta de segurança no terminal.

A família de William culpa o Consórcio Guaicurus pela morte precoce do rapaz e, como reparação, pedem uma indenização de R$ 400 mil. A defesa da empresa se quer se manifestou nos autos e processo ainda corre na Justiça.

Criança atropelada na calçada

Em março deste ano, um menino de 8 anos foi atropelado por um ônibus que fazia linha no Bairro Ramez Tebet, em Campo Grande. De acordo com a petição, a criança estava brincando na calçada de casa, quando de repente, o veículo invadiu o meio fio e atingiu o menino.

Conforme o processo, o motorista teria parado o veículo e desceu para dar bronca no menino. Após o ‘puxão de orelha’, não prestou socorro e continuou o trajeto. A mãe do menino somente percebeu o acidente depois, quando a criança entrou em casa chorando. Socorrido por um vizinho até uma unidade de saúde, foi identificado que ele teve um trauma na cabeça com o impacto e também havia perdido completamente a visão do olho direito.

Internado na Santa Casa desde julho de 2019, o menino chegou a ter três paradas cardíacas. Os advogados da mãe do menino pediram com urgência na Justiça o pagamento das despesas médicas o menino para o Consórcio e, além disso, pedem indenização de R$ 806 mil, pois criança teve sequelas que carregará para o resto da vida.

Vítimas arrastadas

Além das quedas dentro dos veículos, há processos que constam incidentes com idosas que, devido à falta de mobilidade e agilidade para descer do ônibus, acabaram sendo arrastadas pelos ônibus.

Segundo os autos, uma passageira foi arrastada por 20 metros dentro do Terminal Morenão por veículo que fazia linha 087 – Terminal Guaicurus/General Osório. Ela chegou a ficar prensada e devido às fraturas físicas que ficarão pelo resto da vida, decidiu acionar a Justiça quatro anos depois do acidente.

Em outro caso peticionado e semelhante, uma senhora de 70 anos foi arrastada por ônibus. O caso aconteceu em 2018 e a vítima faleceu meses depois de ter diversos ferimentos pelo corpo. A família culpa da empresa pela perda e, na Justiça, pedem indenização de R$ 15 mil.

Em 10 meses, Consórcio 'coleciona' ações por acidentes e indenizações somam R$ 1,9 milhão
Acidente com a idosa aconteceu em setembro e ela perdeu a perna esquerda | Foto: reprodução

Um dos casos mais marcantes envolvendo acidentes com veículos do Consórcio Guaicurus em 2019, mas que não consta nos autos, foi o atropelamento da dona de casa Maria da Assunção Oliveira, de 71 anos, que perdeu a perna no momento em que tentava embarcar em um ônibus na Avenida Calógeras entre a Barão do Rio Branco e Dom Aquino, no Centro.

Internada na Santa Casa, ela passou por cirurgia para amputar a perna esquerda na altura da coxa. A dona de casa chegou a ficar em coma durante nove dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital. A família de Maria pediu ajuda ao Consórcio Guaicurus para os custeios da fisioterapia da idosa, mas empresa não prestou apoio. 

A reportagem procurou a assessoria de imprensa do Consórcio Guaicurus, mas empresa não se manifestou até a publicação da matéria.