‘Nova Miner’ é vista por especialistas como restart, comum em esquemas de pirâmide

A empresa , que é investigada pela Polícia Federal por suposto esquema de pirâmide financeira, afirmou que ainda neste mês de janeiro deverá divulgar um plano de quitação para os saques de rendimentos que ainda não foram compensados. Relatos enviados por associados apontam que desde outubro pagamentos solicitados não chegaram a ser compensados pela empresa.

Um comunicado oficial também foi entregue a todos os associados, na última quarta-feira (10), com orientações para recadastramento em uma nova plataforma, a Miner.360. Segundo a empresa, este recadastramento é necessário para que uma auditoria seja feita com todos os investidores que têm passivos a receber. Desde então, um arquivo de áudio, confirmado pela assessoria de imprensa da Minerworld como sendo de Cícero Saad, ex-CEO da empresa, está sendo compartilhado em grupos do aplicativo reforçando as orientações (ouça abaixo).

 

 

Todavia, a prática do recadastramento está sendo apontada por associados como ‘restart’, ou seja, uma estratégia para se impor sobrevida à empresa que seria bastante comum em esquemas de pirâmide financeira. Entidades e movimentos que se dedicam a denunciar crimes contra a economia popular, como a GAP Anti Ponzi, também reforçam que a criação da Miner.360 poderia caracterizar um restart. Na prática, o temor entre associados que investiram na empresa na esperança de enriquecerem a partir da mineração de bitcoins só aumenta.

A migração a nova plataforma também institui que os pagamentos sejam obrigatoriamente feitos em Mcash, uma criptomoeda criada pela Minerworld (ainda sem cotação de valores comprovada), e não em créditos de bitcoin. Este é outro fator que alimenta desconfianças, já que novas criptomoedas também foram criadas em esquemas confirmados de pirâmide financeira que atuavam com suposta mineração de bitcoin, como a WS Corporate.

Outros indícios

Além da criação de uma nova plataforma, os relatos de saída de muitos investidores de alto nível na empresa para outros negócios de criptomineração, inclusive com publicação de vídeos em redes sociais, também pressupõem eventual desmantelo do negócio Minerworld. 

Por fim, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a partir do processo 19957.005648/2017-58, teria publicado parecer que também indica crime contra a economia popular – caracterizado pela exigência de pagamento inicial, promessa de retorno financeiro extraordinário, bônus por indicação de novos investidores, complementado pela falta de clareza sobre a natureza da empresa – a partir do qual foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Mato Grosso do Sul para as medidas cabíveis.

Por meio de nota, a empresa declarou à reportagem que ainda não foi notificada quanto ao parecer da CVM, mas destacou que a referida entidade “não possui competência material, uma vez que a Minerworld não oferece valores mobiliários e sim locação de hash de mineração, e territorial, uma vez que a Minerworld é uma empresa paraguaia que por meio de contratos internacionais atende pessoas do mundo todo, inclusive brasileiros”.

Vale lembrar que, em outubro de 2017, o órgão equivalente à CVM no , a Comissão Nacional de Valores (CNV), ligado ao governo paraguaio, contestou afirmação da Minerworld de que a empresa tenha sido habilitada a operar no país, ao contrário do que havia sido anunciado pela empresa nas redes sociais.

Na época, a Minerworld destacou que a empresa interpretou erradamente em relação a uma resposta da entidade, referente à “consulta anterioremnte submetida” e que estaria tomando “todas as providências necessárias para resolver a questão regulatória no Paraguai”. Ainda não houve pronunciamento da empresa referente a eventual obtenção de registro na CVM.