Leis e pesquisas ajudam a tornar os carros nacionais menos poluentes
Desde a década de 1980, a emissão de poluentes por veículos nacionais caiu 99%
Arquivo –
Notícias mais buscadas agora. Saiba mais
Desde a década de 1980, a emissão de poluentes por veículos nacionais caiu 99%
Quando um motorista gira a chave de um carro fabricado há três ou mais décadas, o motor anuncia num ronco grave a queima do combustível. Esse barulho era o principal componente da sinfonia que compunha a trilha sonora das grandes cidades: em tempos de combustível barato e da colheita dos frutos do milagre econômico, as ruas se enchiam de máquinas que deixavam para trás uma trilha de fumaça escura. Na época, a paisagem era banal. Mas até os mais apaixonados pelo charme dos carros antigos não podem sentir saudade do cheiro tóxico exalado pelos veículos do passado. Se antigamente a potência mandava no mercado, os modelos mais modernos ganham espaço na garagem com a ajuda de termos como flex e eco. São os novos tempos do transporte a favor da natureza.
A metamorfose verde do carro brasileiro teve início nos anos 1980, quando uma interferência do governo colocou um basta na fumaceira. A ordem veio por meio do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), em 1986. Desde então, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece fases gradativas de restrições a serem atendidas pelos fabricantes e importadores de veículos. Se o carro poluir mais do que o limite determinado, não é liberado para venda.
Essas medidas amenizam o impacto ambiental do aumento da frota no Brasil, que somente na última década cresceu 120%. Desde o início do projeto, que está na sexta fase, a restrição reduziu a emissão de poluentes automotivos em até 99%. Se um carro produzia em média 28,7g de monóxido de carbono por quilômetro rodado em 1985, um veículo novo em folha libera hoje apenas 0,25g do poluente ao circular a mesma distância. O programa também reduziu a emissão de hidrocarbonetos totais em 95%, além de cortar a produção de óxidos de nitrogênio em 98% e dos aldeídos em 96%.
Desafios
Essas cotas serviram como incentivo para a modernização da indústria automotiva, que se viu obrigada a reinventar o modelo de produção para fabricar um produto mais verde. “Hoje, um veículo a diesel, em termos de particulado, polui menos do que a fumaça de um cigarro”, compara Sidney Oliveira, vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). “As montadoras, sem dúvida, se adaptaram. A legislação tem que acontecer, porque senão a gente ainda estaria na era do carburador. Se você não forçar através de leis, de novos desafios, você fica onde está”, avalia Oliveira.
Durante esse período, modelos que chamavam a atenção pela potência deram lugar no mercado a versões mais compactas e econômicas, e marcos como a popularização da injeção eletrônica e o desenvolvimento do motor flex mudaram o mecanismo de carros de luxo e populares no Brasil e no resto do mundo. “Foram 13 anos de desenvolvimento até o primeiro veículo flex fuel ser lançado, em 2003. Mas é uma tecnologia nossa”, ressalta Sidney Oliveira, que trabalhou no desenvolvimento da tecnologia na Bosch. Atualmente, o sistema passa por uma nova revolução com a implementação do sistema de partida a frio, que elimina uma fonte de poluentes do motor, o tanquinho de gasolina reservado para ligar o carro abastecido a álcool.
Grande parte desse avanço ecológico vai andar de mãos dadas com o interesse do bolso do consumidor. “Há uma relação direta entre reduzir o consumo de combustível e reduzir o consumo de CO2”, ressalta o engenheiro Clayton Zabeu, membro da Comissão Técnica de Motores Ciclo Otto da Sociedade de Engenheiros Automotivos do Brasil (SAE Brasil). As mudanças que podem poupar o tanque variam desde pequenos ajustes no motor até sistemas inteligentes, que monitoram a pressão dos pneus e alertam para o momento da passagem da marcha. Enquanto algumas dessas tecnologias são rapidamente adotadas pelo consumidor justamente pela economia que elas representam, outras acrescem uma quantia alta ao valor do veículo, e ainda não fazem parte dos carros da maioria das pessoas, apesar do seu potencial ambiental. “Essas tecnologias precisam da aceitação do cliente, e à medida que elas vão ganhando escala, vão ficando mais baratas de produzir e acabam virando série”, analisa Zabeu.
Detalhes
O processo de adaptação do mercado é lento, mas algumas das tecnologias que antes eram exclusividade dos veículos feitos lá fora começam a chegar timidamente às pistas brasileiras. A maior delas provavelmente é o sistema start-stop, que desliga o motor quando ele não é necessário. O mecanismo é acionado automaticamente sempre que o veículo está parado, e retoma o funcionamento do carro assim que o motorista coloca o pé no acelerador. A função, que promete reduzir o consumo em até 20%, está disponível em modelos populares nacionais e sua adoção pelos fabricantes pode fazer a diferença em metrópoles onde o engarrafamento é regra.
De acordo com um estudo divulgado pela Agência Internacional de Economia, a simples adaptação do modelo existente até 2050 poderia evitar a liberação de 2 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera. “Podemos fazer uma comparação com um regime. No primeiro mês, você perde 5kg ou 10kg. Depois, passa a perder só 1kg, ou alguns gramas. Nessa questão, eu acho que é a mesma coisa. Temos um efeito muito grande no começo, que dá esse embalo, e agora os avanços estão restritos à casa decimal”, analisa a consultora ambiental Fabiana Avelar.
Notícias mais lidas agora
- Polícia investiga ‘peça-chave’ e Name por calúnia contra delegado durante Omertà
- Ex-superintendente da Cultura teria sido morto após se negar a dar R$ 200 para adolescente
- Suspeito flagrado com Jeep de ex-superintendente nega envolvimento com assassinato
- Ex-superintendente de Cultura é assassinado a pauladas e facadas no São Francisco em Campo Grande
Últimas Notícias
Com feira de adoção e desfile de pets, ação em shopping de Campo Grande reforça combate ao abandono animal
Evento foi realizado no shopping Bosque dos Ipês, na tarde deste sábado (14)
Grupo especializado em roubo de camionetes é ligado a facção e usava codificador de chaves
Investigações mostram que ordens de furtos vinham de presídio de Mato Grosso
Lula segue internado e fará exames de sangue, diz boletim médico
Alta está prevista para a próxima semana
Banco Central leiloará US$ 3 bilhões na 2ªfeira para segurar o dólar
Dinheiro das reservas será vendido com compromisso de recompra
Newsletter
Inscreva-se e receba em primeira mão os principais conteúdos do Brasil e do mundo.