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Especial

‘Sempre foi minha maior inimiga’: o que comemorar quando você cresce com uma mãe narcisista?

Filhos de mães narcisistas contam como passam o Dia das Mães, data considerada ‘sagrada’ mundo afora
Evelin Cáceres -

Mariana* apanhou da mãe quando tirou sua primeira nota 9 na escola, porque não era o 10 habitual. Sentia-se sozinha, sem saber como se vestir ou se pentear, porque nunca estava conforme o que a mãe gostava. Quando levou o primeiro namorado para apresentar à família, ouviu: “Mas você gosta dela? Porque eu nunca consegui gostar”. Anos depois, descobriu que foi criada por uma mãe narcisista.

Sempre teve a sensação de que a mãe era a sua maior inimiga. Desde cedo, ela culpava Mariana por engordar na gestação, por largar o emprego para cuidá-la. Culpava a filha até mesmo por ser criança e, com isso, ter mais a atenção do pai do que ela tinha nos tempos livres dele.

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Quando cresceu, Mariana se deparou com uma postagem na que enumerava os comportamentos de uma mãe narcisista e, de pronto, se identificou. Começou a ler sobre o assunto e fazer terapia para entender de onde vinha tanta mágoa da mãe contra ela.

Esta reportagem integra a série especial do Jornal Midiamax em alusão ao , celebrado no domingo (11). Ela apresenta parte de um espectro conhecido, mas invisibilizado em meio às celebrações e canonizações comuns ao papel materno e abre debate sobre comportamentos recorrentes e perpetualizados, a traz luz ao debate sobre como romper esse ciclo de violência.

Mãe narcisista: controle em 1º lugar

Tudo o que uma mãe narcisista deseja é se manter no controle da vida do filho para sempre. Para isso, distorcem a realidade, usando manipulação e vitimização. “Elas convencem a todos ao seu redor da sua ‘bondade’, enquanto os filhos sofrem em silêncio. Na infância, divide os filhos entre ‘‘ – que são a extensão do seu ego – e os bodes expiatórios, alvos de críticas e abusos”.

É o que explica a psicóloga Antonia Maria de Brito Fernandes no trabalho intitulado “Função Materna Narcisista: o impacto no desenvolvimento psíquico”, publicado em 2022 pelo Centro Universitário Unigran Capital. O estudo investiga como mães com traços narcisistas afetam a formação emocional de seus filhos, muitas vezes de maneira silenciosa e devastadora.

Motivada pela banalização do termo “narcisista” nas redes sociais, Antonia buscou compreender o TPN (Transtorno de Personalidade Narcisista) em sua complexidade clínica. “Muitos conteúdos simplificam o assunto, mas a realidade é mais grave, especialmente quando afeta a dinâmica familiar”, explica.

Filho dourado e bode expiatório

A psicóloga identificou um padrão frequente. “O ‘filho dourado’ é mimado, mas instrumentalizado; o ‘bode expiatório’ carrega o peso das frustrações da mãe”, detalha. Essa dinâmica, muitas vezes influenciada por gênero, perpetua ciclos de trauma. 

Sinais de ‘alerta’ para os filhos de que a mãe pode ser narcisista. No entanto, somente um profissional pode dar o diagnóstico (Ilustração)

“Essas mães, em muitos casos, repetem padrões que viveram na infância”, observa Antonia. Ao contrário do que se imagina, o narcisismo é um transtorno reconhecido, mas seu diagnóstico é difícil.

“Pessoas narcisistas raramente buscam ajuda, pois se veem como perfeitas”, explica a pesquisadora. Entre os sinais estão a grandiosidade, falta de empatia e reações agressivas a críticas

Apesar do comportamento abusivo, muitas não têm consciência do dano causado. “Elas justificam suas ações como ‘amor’ ou ‘proteção'”, diz Antonia. Para os filhos, romper esse ciclo exige terapia e, muitas vezes, distanciamento. 

E como ficam os filhos da mãe narcisista?

Para a neuropsicóloga, psicopedagoga e psicoterapeuta Keyth Gimenez, por muitas vezes a maternidade pode ser fonte de dor para um filho.

Nem toda mãe é boa por natureza. Algumas falham. E isso não as define como monstros, mas exige responsabilização.

Trabalhando há anos com vítimas de mães narcisistas, ela explica que o caminho para a preservação do filho pode ser o afastamento da cuidadora, considerada a principal pela sociedade.

“Mães narcisistas não conseguem exercer a maternidade de forma saudável. Em vez de acolher, competem com os filhos. Exigem que todos ajam conforme suas vontades, como extensões de seu ego”, conta.

Com isso, os filhos nunca são “suficientes”. A criança ouve desde cedo que “não atende às expectativas”. No consultório, Keyth relata que uma menina de quatro anos chegou a dizer para ela: “Não sou o filho que minha mãe esperava”. 

“Os filhos são levados a acreditar que devem amar incondicionalmente, mesmo quando são negligenciados ou abusados. Até o filho preferido sofre porque, superprotegido, também enfrenta dificuldades, como incapacidade de se desvincular e problemas emocionais graves”, relata.

A psicoterapia é um caminho para ressignificar a dor, explica Gimenez. “Não começou comigo, mas termina em mim”. Algumas estratégias incluem o autoconhecimento, entender que a falha não está no filho, mas no transtorno da mãe; o distanciamento saudável, já que se a relação machuca, é direito do adulto se afastar; e também uma rede de apoio, buscando outros cuidadores (pai, avós, terapeutas) para equilibrar a influência materna. 

Como lidar?

Melissa*, hoje com 28 anos, conta que não vive mais sob o mesmo teto, nem na mesma cidade que a mãe. “Sempre quando eu mais precisei, não pude contar com maturidade emocional da parte dela”, lamenta.

A mãe de Melissa sempre viu problema em todas as relações dela. “Tive um namorado e parece que ela gostava de me atingir quando ele estava próximo. Minhas amizades, nenhuma prestava. Ela falava que tinha certeza que esse namorado me traía e que eu tinha que fazer exames. Falava que não adiantava eu ser bonita, ficava sempre colocando inseguranças na minha cabeça”.

Ela conta que passou por um momento delicado de saúde mental na e que precisou de internação. Durante o período, a mãe apenas reclamava dos gastos excessivos com o hospital.

“Hoje em dia eu não quero nem que ela me entenda mais. Só quero que ela não atrapalhe a minha vida”, conta.

Melissa trata na terapia as questões relacionadas à mãe. “Não tem nada de errado comigo em não atender às expectativas dela. Consigo ver que ela é uma pessoa mais doente do que má, apesar de tudo o que ela me fez”.

E sobre o Dia das Mães? “Cansei de tentar comemorar. Sempre tem uma briga, uma indireta, uma necessidade de ferir. Prefiro nem lembrar que existe”.

(Mariana* e Melissa* são nomes fictícios para personagens que desejaram não se identificar – e nem se expor com as mães nesta data considerada especial para todos).

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