As vendas da marca caem mais do que as de suas concorrentes e seus carros enfrentam seguidos recalls

O setor automotivo é o que melhor representa o apogeu e a queda da política econômica adotada pelo governo brasileiro nos últimos anos. De 2008 até 2012, época em que o Brasil ainda era visto como um investimento com retorno certo, as montadoras nadavam de braçada e batiam seguidos recordes de vendas. Há dois anos, no entanto, tudo mudou. O aumento da inflação, a alta dos juros e, mais recentemente, o fim da isenção do IPI derrubaram os números do setor. Somente em 2014, houve uma retração de 7,4% nos emplacamentos, e este ano promete ser ainda pior.

Nesse cenário, algumas montadoras têm sofrido mais do que outras. É o caso da francesa Citroën. O seu principal modelo, o compacto C3, há seis anos vem decepcionando nas concessionárias. De 2008 a 2014, as vendas caíram 19,8%, enquanto o mercado teve um crescimento de 24,6%, no mesmo período. O fraco desempenho do líder de vendas fez despencar a participação de mercado da marca, atualmente em 1,4%, ante 2,6%, em 2008. Não bastasse a derrapada nas vendas, a montadora se viu obrigada promover 16 recalls desde 2009 – seis deles somente no C3.

A maioria dos problemas, segundo a própria montadora, poderia ocasionar acidentes graves. “Os recalls mostram uma transparência da montadora”, afirma José Roberto Ferro, consultor automotivo e presidente do Lean Institute. “Mas, aos olhos do consumidor, tantos defeitos geram um efeito negativo.” Os franceses também têm sofrido com a concorrência interna dentro do grupo PSA, que controla, além da Citroën, também a Peugeot. As mudanças na chefia, que colocaram o executivo português Carlos Tavares no comando, deixaram a Citroën em segundo plano.

Isso porque a empresa definiu novos posicionamentos para as suas marcas. Enquanto a Peugeot busca passar uma imagem mais esportiva aos seus automóveis, focando nos consumidores da classe média-alta, e o segmento premium é atendido pela marca DS, recém-criada pelo grupo, restaria à Citroën, então, competir com os mais populares. Seus preços, no entanto, são considerados muito elevados se comparados aos carros de entrada. “O grupo PSA está apostando em uma reestruturação total e na criação de veículos que venham a atender uma demanda futura”, afirma Paulo Garbossa, diretor da consultoria paulistana ADK.

“E, finalmente, eles perceberam que precisam fazer carros com o sangue latino.” Para o especialista, o grupo pode ter rota parecida à tomada pela GM. Após a sua quase falência nos EUA, em 2009, a montadora renovou praticamente todo o seu portfólio no Brasil e resgatou parte do mercado perdido. Seu modelo Ônix é o terceiro mais vendido no País. A Citroën, por meio de nota, negou que o atual momento da companhia seja de crise, especialmente na subsidiária brasileira. Segundo a empresa, a queda nas vendas é um reflexo do atual momento conturbado pelo qual passa todo o setor, somado a uma busca do grupo por rentabilidade. Em relação aos recalls, a companhia alegou que os chamamentos para reparos “são consequência da própria busca pela qualidade.”