Trombose é muito rara em mulheres saudáveis

Diversos casos de trombose associada ao uso de anticoncepcionais já viralizaram na internet, mulheres “vítimas da pílula” reúnem nas redes sociais alertas e depoimentos sobre as consequências do uso contínuo do medicamento, estudos confirmam que o risco é real. Essa onda de novas informações fez muitas mulheres abandonarem os anticoncepcionais. Mas, e quem não quer ou não pode? Corre risco?

Além da orientação médica, as mulheres contam com exames genéticos que detectam com precisão a predisposição à trombose e podem ajudar na hora de decidir qual método contraceptivo usar. São exames caros e, por isso, nem sempre pedidos pelos ginecologistas antes da prescrição da pílula.

O que os exames detectam é a trombofilia, doença que altera a coagulação do sangue e aumenta a formação de coágulos e a obstrução dos vasos sanguíneos (trombose). Ela pode ser genética (herdada dos pais) ou adquirida, como nos casos de mulheres que usam a pílula.

Segundo a biomédica Gabriela Becker, especialista em exames que traçam a trombofilia, a doença decorre de uma mutação nos genes ligados ao processo de coagulação — a alteração no fator 5 aumenta de três a oitenta vezes a chance da trombose cerebral e no gene da protrombina torna o risco sete vezes maior.

“É importante que todas as mulheres que vão começar a tomar pílulas contraceptivas façam um exame genético para trombofilia, mas há uma resistência dos médicos em prescrever estes exames”, afirma Becker. 

As entidades médicas alegam que estes exames não precisam ser oferecidos para todas as mulheres que tomam pílula, porque a predisposição à trombose é considerada rara. Além disso, a pílula já é desaconselhada para mulheres fumantes, obesas, hipertensas, diabéticas, com lúpus ou histórico de trombose em parente com menos de 50 anos. 

“A trombose é muito rara em mulheres saudáveis e em idade reprodutiva. As que tiverem com algum fator de risco serão orientadas a não tomar a pílula em hipótese alguma”, diz o ginecologista Denis José Nascimento, diretor da comissão de gestação de risco da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia). 

Ele culpa a orientação médica mal feita e o uso da pílula sem prescrição pelo aparecimento de casos de trombose em mulheres aparentemente saudáveis. “A pílula é extremamente importante, porque inibe a gravidez indesejada e doenças ginecológicas. Mas ela deve ser indicada por um ginecologista que vai investigar os fatores de risco na anamnese”, afirma.

Uma alternativa para garantir a investigação minuciosa do risco sem gastar muito é pedir os exames aos poucos, sugere o hematologista Valdir Furtado, diretor do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba (PR): “Como os exames são caros, o que se pode fazer é investigar em três etapas. A primeira é investigar os fatores de risco. Se houver, encaminhar para exames de sangue e só em último caso pedir os exames genéticos.”

Caro, quanto?
Segundo levantamento feito pelo UOL em alguns dos principais laboratórios do país (Hermes Pardini, Delboni Auriemo, Lavoisier, Alta, Fleury e A+ Medicina Diagnóstica), os exames custam entre R$ 900 e R$ 3.000.

São sete exames que compõe o painel da trombofilia: proteína C ativada; proteína S; homocisteína; antitrombina 3; gene fator 5; gene da protrombina; mutação do gene metilenotetrahidrofolato redutase C677T e A1298C.

Eles não possuem cobertura do SUS, mas podem ser parcialmente cobertos por alguns planos de saúde — de acordo com a ANS (Agência Nacional de Saúde) apenas os dois últimos não têm cobertura obrigatória dos planos.