Apesar de novas regras de fertilização, gravidez após os 50 ainda é arriscada

Novo texto não é orientação para mulheres adiarem gestação, diz especialista

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Novo texto não é orientação para mulheres adiarem gestação, diz especialista

Especialistas em reprodução humana alertam que a nova resolução do CFM (Conselho Federal de Medicina), que libera o tratamento de inseminação artificial para mulheres com mais de 50 anos, não pode ser interpretada como garantia de sucesso do procedimento para essa faixa etária.

Segundo o ginecologista Rui Ferriani, médico do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP), um dos 12 do país a realizar fertilização in vitro pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o novo texto que passa a valer nesta quinta-feira (24) é apenas uma correção do que ele chama de “ato inconstitucional”, previsto na normativa anterior.

“A resolução estava discriminando as pacientes só em função da idade. Nós já havíamos levantando essa questão, de que isso deveria ser corrigido. A gente deve aconselhar a paciente de acordo com a condição clínica. Se a gravidez for de risco, deve ser desaconselhado engravidar. Mas não é simplesmente a idade o fator limitante”, afirma.

De acordo com as novas regras divulgadas pelo CFM na terça-feira (22), as mulheres com mais de 50 anos não precisam mais de autorização dos conselhos de medicina para fazer o tratamento para engravidar, porém, precisam assumir junto com os médicos os riscos da fertilização in vitro.

Ferriani explica ainda que o texto – terceira atualização desde 1992, quando a resolução foi criada – não deve ser interpretado como recomendação para mulheres adiarem a gravidez, uma vez que os riscos da gestação com idade avançada continuam existindo, tanto para a mãe, quanto ao bebê.

“Quando a mulher adia a gravidez, as chances diminuem bastante. O que nós orientamos é que as mulheres tentem a gravidez espontaneamente, até sem tratamento, e quanto mais cedo, melhor. A idade ideal para engravidar é entre 30 e 35 anos”, diz o ginecologista.

 

Sem prioridade

O tratamento de reprodução humana é oferecido pelo SUS desde 2009, em 12 hospitais distribuídos pelo país, seguindo protocolos internacionais. No Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, no entanto, o procedimento é oferecido gratuitamente há mais de 20 anos. A fila chega a 300 mulheres e a espera é de três anos, em média, de acordo com Ferriani.

“Alguns serviços públicos existem, mas são poucos. Não atendem absolutamente a demanda”, afirma o ginecologista, destacando que, até por esse motivo, mulheres acima dos 50 anos não têm prioridade porque a chance de sucesso é menor. “Países desenvolvidos fazem dez vezes mais do que o Brasil. Então, a gente prioriza as que têm mais chance, que são as pacientes mais jovens”, diz.

A afirmação é compartilhada pelo ginecologista José Gonçalves Franco Junior, especialista em reprodução humana e chefe de uma das maiores clínicas particulares do país, localizada em Ribeirão. Ele explica que mulheres acima de 50 anos tem 60% mais chance de ter um bebê prematuro, além de desenvolverem problemas como hipertensão e diabetes durante a gestação.

“As mulheres que deixam para engravidar mais tarde, chegam na média com 34, 35 ou 36 anos. Excepcionalmente aparecem pacientes com mais de 50 anos tentando, ou com vontade de ter filhos. Nós já tivemos casos nesse sentido, com doação de óvulos, mas os riscos são maiores. A idade é um divisor de águas para esse tipo de tratamento”, alerta.

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