A República Centro-Africana se torna o segundo país do mundo a adotar o Bitcoin

A República Centro-Africana (RCA) fez história ao se tornar a primeira nação africana a adotar a criptomoeda Bitcoin (BTC) como moeda corrente legal – e a segunda nação do mundo a fazê-lo.  A RCA segue os passos de El Salvador, que aceitou formalmente a moeda como oficial em 2021. O estado da América Central sofreu […]

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Foto de André François MacKenzie, disponível no Unsplash

A República Centro-Africana (RCA) fez história ao se tornar a primeira nação africana a adotar a criptomoeda Bitcoin (BTC) como moeda corrente legal – e a segunda nação do mundo a fazê-lo. 

A RCA segue os passos de El Salvador, que aceitou formalmente a moeda como oficial em 2021. O estado da América Central sofreu vários problemas desde a decisão, incluindo problemas técnicos e casos de roubo de identidade.

Apesar de o lançamento da moeda na RCA ter sido recebido com entusiasmo, muitos apontaram que a estrutura instável de um dos países mais pobres do mundo poderia facilitar o uso do BTC por criminosos para atividades ilícitas. 

 A popularidade crescente do Bitcoin

O governo da RCA tem enfrentado críticas por adotar a criptomoeda, mas, em sua defesa, poderia facilmente citar o crescente uso do Bitcoin em todo o mundo ocidental. 

O comércio de BTC percorreu um longo caminho nos últimos 10 anos: agora os usuários possuem listas de trocas criptográficas para escolher e usar da mesma maneira em que poderiam escolher entre uma lista dos melhores sites de loteria ou sites de busca de voos. 

Junto com o aumento do uso do bitcoin veio um aumento de preço meteórico: o valor da moeda passou de pouco mais de US$ 5.000 antes da pandemia para US$ 60.000 no final de 2021, embora o preço tenha se estabilizado em torno da marca de US$ 40.000 desde então. 

Quando El Salvador se tornou o primeiro país a fazer do BTC uma moeda oficial, ele estava no auge de seu valor. A mudança foi imediatamente criticada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), no entanto, que afirmou que ela contribuiu para a instabilidade financeira em uma economia que já era volátil. Há também receios de que El Salvador tenha atraído mais comércio ilícito para dentro de seu território, por causa da natureza confidencial e descentralizada da criptografia. 

A combinação de reconhecimento e críticas torna o Bitcoin uma opção financeira tentadora, porém arriscada, para países como a República Centro-Africana, que estão procurando maneiras de tornar sua economia mais forte. 

‘Unanimidade’

A situação da RCA é paradoxal. Apesar de possuir reservas de minerais preciosos como diamantes, ouro e urânio, ela é uma das nações mais pobres do mundo, classificada em 154º lugar no mundo de acordo com dados de 2021 do Credit Suisse. Sua economia está em frangalhos, destruída por uma guerra civil que dura uma década. 

Não é nenhuma surpresa, portanto, que seus governantes estejam desesperados por qualquer tipo de ajuda financeira. A decisão de adotar o Bitcoin recebeu voto unânime na Assembleia Nacional, e o presidente afirmou que essa adoção fez da RCA um dos “países mais ousados e mais visionários do mundo”. 

Apesar de tamanha positividade, a utilização prática da BTC dentro da RCA está cercada de dúvida. Segundo dados do World Data, somente 4% da população tem acesso à internet. Portanto, o uso do Bitcoin provavelmente beneficiará a elite rica, que tem smartphones e será capaz de realizar transações com moedas diferentes da local, extremamente desvalorizada (franco centro-africano ou FCA). 

Especula-se também que a adoção do Bitcoin é uma forma de minar o FCA pensada por agentes afiliados à Rússia, que disputam o controle da área com o ex-colonizador França. 

Qual o impacto na vida do cidadão comum?

O efeito do Bitcoin sobre o cidadão comum da RCA depende de vários fatores. Para aqueles que possuem smartphones, seus negócios diários se tornarão muito mais fáceis: será mais simples comprar certos produtos e converter o BTC para outras moedas. Ver pessoas carregando malas de francos para compras pode se tornar menos comum.

No entanto, outros apontam para questões mais urgentes. O acesso à água potável, à educação e à segurança no país é limitado, e assumir o BTC diminui essas necessidades básicas. Essa atitude pode até mesmo aumentar a desigualdade social: enquanto as pessoas normais lutam para conseguir dinheiro para o básico, os proprietários de Bitcoin têm acesso a um novo mundo de privilégios. 

Além disso, é pouco provável que o imposto sobre as propriedades da BTC seja empregado na melhoria da infraestrutura. O país é composto de feudos pessoais, governado por senhores da guerra armados, que montam postos de controle para cobrar impostos ilegais dos habitantes. Teme-se que qualquer ganho com a adoção da criptomoeda simplesmente acabe nos bolsos deles. 

Outros países africanos vão seguir os passos da RCA? 

A RCA provavelmente servirá de laboratório no continente africano. Os resultados da experiência determinarão se os outros países africanos decidirão botar seus próprios planos criptográficos em prática.

Com a ajuda de investimentos chineses e russos, o continente tem visto rápidos avanços tecnológicos. Países como Quênia e Nigéria têm abraçado novas ideias rapidamente, enquanto procuram criar polos tecnológicos após anos de dificuldade econômica. 

A iniciativa da RCA de adotar o Bitcoin, no entanto, é provavelmente o projeto mais arriscado até agora, podendo inclusive atrasar a revolução tecnológica que toma o continente.

*Esta é uma página de autoria de CÁTIA VIEIRA e não faz parte do conteúdo jornalístico do MIDIAMAX.

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