Substâncias presentes no plástico podem gerar ‘curto-circuito’ hormonal, diz pesquisa

Segundo pesquisadores, desreguladores endócrinos seriam causa de diabetes, obesidade e outros problemas

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Segundo pesquisadores, desreguladores endócrinos seriam causa de diabetes, obesidade e outros problemas

Elas nos acompanham dos primeiros aos últimos dias de vida. De aparência inofensiva, estão presentes na natureza e em produtos químicos, como os usados em plásticos. Compõem da mamadeira a garrafas PET. Mas são capazes de provocar danos sérios ao organismo com o passar dos anos, alertam cientistas e médicos. Na lista de seus possíveis efeitos estão obesidade, diabetes, infertilidade masculina, câncer e menstruação precoce. Receberam o nome pouco amistoso de desreguladores hormonais, e é exatamente isso o que fazem, causam um curto-circuito nos hormônios. Os efeitos perigosos dessas substâncias na saúde figuram entre os destaques da XXX Reunião da Federação das Sociedades de Biologia Experimental, que acontece esta semana na USP (Universidade de São Paulo) e reúne mais de mil cientistas do país.

À frente de estudos pioneiros sobre desreguladores hormonais está a medica Denise Pires de Carvalho, do Laboratório de Fisiologia Endócrina do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lá, ela e sua equipe investigam como o bisfenol e os ftalatos, dois dos tipos mais comuns de desreguladores endócrinos, afetam a tireoide e o metabolismo. Os resultados das pesquisas indicam uma forte ligação com a obesidade e a diabetes.

 

Banidas nos EUA e na Europa

A suspeita sobre o bisfenol e os ftalatos não é nova. Tanto que foram banidos nos Estados Unidos e na Europa, com base em estudos populacionais. Porém, no Brasil seu uso é liberado. Inclusive em vasta gama de produtos infantis, como mordedores. Trabalhos como o de Denise, que revelam como é a ação dessas substâncias sobre o organismo, comprovam os efeitos nocivos e abrem caminho para encontrar formas de combater suas consequências.

“O Brasil precisa de uma regulação mais forte sobre essas substâncias. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia tem sido atuante, mas não basta só isso”, afirma a médica e cientista.

Em investigação com culturas de células e, depois, com animais, Denise e seu grupo viram que tanto o bisfenol quanto os ftalatos bloqueiam a ação de enzimas chamadas desiodases. Elas são essenciais para que o corpo produza o hormônio tireoidiano T3. Este hormônio está ligado ao crescimento, à memória e à cognição e também é fundamental para o controle do gasto energético. Está presente na gordura marrom, conhecida como gordura do bem, associada à queima de calorias em excesso.

“Nossa hipótese é que muitos casos de obesidade e diabetes do tipo 2 podem estar relacionados ao uso de produtos com ftalatos e bisfenol. Na verdade, essas substâncias já foram encontradas no organismo de pessoas obesas e também em diabéticas”, explica Denise.

 

Impacto cardíaco pode ocorrer

Uma hipótese que os pesquisadores também buscam comprovar é que os desreguladores hormonais podem ser transmitidos através das gerações. Desde os anos 70, tem sido observada maior incidência de casos de infertilidade masculina, menstruação precoce, cânceres de testículo e tireoide, além de obesidade e diabetes do tipo 2. A presença cada vez maior dessas substâncias no cotidiano é vista como uma das possíveis causas.

“Ainda há muito o que estudar. Temos investigado substâncias presentes em plásticos, mas inseticidas domésticos e pesticidas também as contém. São muito comuns e afetam o corpo de numerosas formas”, salienta Denise.

O grupo dela estuda o impacto dos desreguladores na tireoide. Mas há muitas outras implicações.

“Um dos trabalhos que será apresentado aqui mostra os efeitos dessas substâncias no risco cardíaco. Conhecer esses compostos melhor é uma questão fundamental de saúde pública”, diz a pesquisadora

 

 

 

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