O servidor da prefeitura de Campo Grande, membro de uma facção criminosa, que foi alvo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), na deflagração da Operação Last Chat, no dia 24 deste mês, e seria o gerente da organização criminosa, está afastado de suas funções, segundo nota da Prefeitura.

Segundo a assessoria, o servidor, que é agente de saúde, está afastado desde dezembro de 2023. Sobre a participação do servidor na organização, a Prefeitura afirma que não foi notificada. Confira a nota na íntegra:

“O servidor é efetivo e lotado na Secretaria Municipal de Saúde, que até o momento não foi notificada para prestar informações. Atualmente, o mesmo encontra-se afastado por licença médica prolongada, não estando realizando atividades do cargo desde o dia 14 de dezembro de 2023. O procedimento legal e conforme Estatuto do Servidor exige que após a notificação, seja aberto Processo Administrativo Ético, previsto no Decreto n. 13.950, de 2 de agosto de 2019, onde é enviado para a Corregedoria-Geral do Município.”

O servidor é irmão do líder Rafael da Silva Lemos, conhecido como ‘Gazela’ e que está foragido do sistema penitenciário, segundo denúncia do Gaeco. Na denúncia, consta que o agente comunitário de saúde era um dos gerentes da organização criminosa responsável pelas operações financeiras. Além de ser irmão do líder da organização criminosa, tinha também como incumbência a gerência dos caminhões basculantes para o transporte da droga.

O agente de saúde, integrante da organização, é concursado e empossado no município desde janeiro de 2019, com um salário de R$ 3,3 mil. Ele também era o responsável pela administração da empresa de construção, transporte e logística que foi criada especialmente para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Na empresa eram guardados os caminhões e outros veículos que a organização criminosa usava.

A denúncia ainda traz que os crimes praticados pela organização criminosa usavam a pessoa jurídica da empresa criada. A organização ainda teria estabelecido depósitos não superiores a R$ 2 mil. Um dos integrantes, conhecido como ‘contador’, elaborou documentos contábeis para dar aparência de legitimidade às transações feitas pela organização.

O Gaeco ainda diz que entre 26/05/2020 a 17/03/2023, a organização recebeu mais 1.116 depósitos em dinheiro que resultaram em um montante de R$ 1 milhão 534 mil. A organização tinha cinco gerentes com tarefas bem definidas. Um dos gerentes coordenava a logística de transporte de drogas para o Ceará. Este gerente seria de confiança de Rafael e também tinha a incumbência da execução de atos violentos para a facção.   

Advogada recebeu mais de R$ 100 mil

A advogada é apontada pela denúncia do Gaeco como a ponte entre o preso Rafael da Silva Lemos, conhecido como ‘Gazela’, que estava encarcerado em penitenciária, mas continuava a dar ordens para a organização na logística do transporte de drogas. Segundo a denúncia, uma empresa foi criada especialmente para fazer a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas feito pela organização. 

A advogada que atuava como ‘gravata’ para a organização criminosa ainda levantava informações sigilosas para Rafael. A denúncia traz que a advogada teria recebido da organização criminosa mais de R$ 100 mil. Sabe-se também que um dos integrantes da organização havia sido preso quando transportava drogas.

Mais de uma tonelada de maconha acabou apreendida e, depois da prisão do integrante, a advogada ficou incumbida de saber se corria riscos de outros endereços onde estavam armazenadas drogas serem descobertos pela polícia. Para isso, a advogada pagou para um policial militar descobrir informações e repassar a ela. Assim, posteriormente, informaria a Rafael, líder da organização.

Quando o integrante da organização foi preso, ele e outro membro falavam sobre armas, munições e drogas que estariam em um depósito em uma casa na Rua Baraúnas, no bairro Parque dos Novos Estados. Depois de presos, a advogada teria instruído a não dar informações sobre a organização, dificultando o trabalho da polícia.

A advogada já havia sido presa quando da deflagração da Operação Courrier, em 2022, quando o Gaeco deflagrou a ação onde advogados estavam envolvidos com uma organização criminosa.