O presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul), Francisco Cezário de Oliveira, continua preso provisoriamente, sob acusação de desvios milionários na entidade. Ele passou por audiência de custódia na manhã desta quarta-feira (22), em que o juiz solicitou a remessa do processo para a vara onde foi expedido o mandado de prisão, pelo fato de o dirigente não ter sido preso em flagrante, mas sim sob força de mandado de prisão.

Portanto, Cezário e outros quatro presos, sendo três sobrinhos do dirigente, continuam atrás das grades até nova audiência de custódia. Por ser advogado, o mandatário está em cela especial do presídio militar.

Preso por desvios de R$ 6 milhões

Operação ‘Cartão Vermelho’, deflagrada nesta terça-feira (21) pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), prendeu o presidente da FFMS e outras quatro pessoas: Umberto Alves Pereira (TV FFMS), Francisco Carlos Pereira (também flagrado com arma), Valdir Alves Pereira e Marcelo Gustavo.

Conforme informações do Gaeco, o grupo liderado por Francisco Cezário realizava pequenos saques de até R$ 5 mil para não chamar atenção dos órgãos de controle. De setembro de 2018 a fevereiro de 2023, foram identificados desvios que superaram os R$ 6 milhões.

Somente durante o cumprimento dos mandados nesta terça-feira foram apreendidos mais de R$ 800 mil, inclusive em notas de dólar. Revólver e munições também foram apreendidos.

Os valores eram distribuídos entre os integrantes da organização criminosa. O esquema se estendia também a outras empresas que recebiam altas quantias da federação. Assim, parte dos valores era devolvida ‘por fora’ ao grupo.

A organização criminosa também possuía um esquema de desvio de diárias dos hotéis pagos pelo Estado de MS em jogos do Campeonato Estadual de Futebol.

Operação Cartão Vermelho

Mais de R$ 800 mil apreendidos na casa de Cezário, inclusive com notas em dólar (Divulgação, Gaeco)

Equipes do Gaeco cumpriram 7 mandados de prisão preventiva, além de 14 mandados de busca e apreensão em Campo Grande, Dourados e Três Lagoas.

Conforme o Gaeco, o nome da operação faz alusão ao instrumento utilizado pelos árbitros para expulsar os jogadores que cometem faltas graves durante as partidas de futebol.

Lista de investigados na Operação Cartão Vermelho

Jamiro Rodrigues de Oliveira, vice-presidente da FFMS; Marco Antônio Tavares, vice-presidente e coordenador de competições da federação, que também consta como presidente da Federação de Tênis de Mesa; Aparecido Alves Pereira, delegado de jogos da FFMS; Rudson Bogarim Barbosa que, em publicação do site da entidade, em 2022, constava como gerente da TI da FFMS; Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira; Francisco Carlos Pereira Umberto Alves Pereira; Valdir Alves Pereira; Francisca Rosa de Oliveira; Marco Antônio de Araújo; Patrícia Gomes Araújo.

Cezário já foi condenado e escapou de CPI

Francisco Cezário de Oliveira, preso nesta terça-feira (21) em ação contra desvio de dinheiro na entidade, já havia sido condenado pelo mesmo motivo, em 2010.

Na época, o mandatário foi condenado a pena de quatro anos e cinco meses, em regime semiaberto, por desviar valores na casa dos R$ 56 mil. Ele foi denunciado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por supostamente ter transferido recursos da entidade para a conta particular.

Ainda conforme o MPMS, parte do dinheiro teria sido usada em campanha política, quando concorreu e ganhou para prefeito de Rio Negro, cargo eletivo que exerceu de 2001 a 2004.

CPI ‘enterrada’

O deputado estadual Evander Vendramini (PP) chegou a tecer críticas à FFMS e avaliou abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para, segundo ele, abrir a ‘caixa-preta’ do futebol. Foram duas tentativas frustradas para investigar possíveis irregularidades no futebol estadual, em 2019 e 2020.

“Os estádios vazios, clubes sem incentivo e jogadores desmotivados. Nos anos 80, o futebol sul-mato-grossense era destaque e, infelizmente, hoje o retrato é de abandono. A Federação Estadual sempre esteve na mão dos mesmos dirigentes, precisamos urgentemente reorganizá-la para retomar o crescimento e modernizar nossos clubes”, declarou.

Na época, defendeu uma investigação para apurar como os recursos estaduais foram aplicados pela entidade.