Por segurança, Charlie Hebdo evita imagens na redação
Cerca de 20 funcionários trabalham na sede do Libération, que é vigiada pela polícia
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Cerca de 20 funcionários trabalham na sede do Libération, que é vigiada pela polícia
Policiais armados vigiam a rua Béranger, no Centro de Paris. Do lado de dentro do prédio cercado por grades está a redação do jornal Libération, onde o recepcionista faz malabarismos para atender a telefonemas simultâneos: “não, para falar com o Charlie Hebdo você precisa mandar um e-mail diretamente para eles”, repete, enquanto cola papéis verdes com pedidos de entrevista em sua mesa, em uma sala lotada de jornalistas do mundo todo.
O trabalho frenético do rapaz foi em vão. Por orientação da polícia, o jornal francês precisou evitar a entrada de pessoas estranhas na sala. A produção de fotografias e vídeos somente será feita pela Agence France Presse (AFP), com objetivo de não expor a estrutura de segurança do local. “Eu adoraria receber a imprensa, mas infelizmente vocês não vão poder mais ficar dentro do prédio”, anunciou o diretor operacionais do Libération, Pierre Fraidenraich.
Cerca de 20 funcionários do Charlie Hebdo trabalham na redação do Libération para fechar a próxima edição, prevista para sair na próxima quarta-feira. O jornal de “sobreviventes”, como está sendo chamada pela equipe, deve ter em torno de 1 milhão de exemplares.
Não é a primeira vez que o ‘Libé’, como é chamado na França, abriga funcionários do Charlie Hebdo. Em 2011, quando a sede do semanário satírico foi alvo de um incêndio, o jornal já havia emprestado sua sede aos colegas. Dessa vez, o jornal Le Monde também ajudou a publicação mandando computadores para a sede do Libération.
O ataque a tiros na redação do Charlie Hebdo deixou 12 mortos na última quarta-feira, entre os quais os cartunistas Charb, Cabu, Tignous e Wolinski. Os irmãos Cherif e Said Kouachi, identificados como autores do atentado a tiros, foram mortos ontem pela polícia francesa.
Templo de canetas
Enquanto os funcionários do Charlie Hebdo trabalham, a praça da République, a poucos metros da redação provisória, virou um templo de canetas depositadas por fãs dos cartunistas mortos na última quarta-feira. No centro da praça, os fundamentos da república francesa – liberdade, igualdade e fraternidade (liberté, egalité et fraternité) – contrastam com os cartazes do ‘Je Suis Charlie’ (Eu sou Charlie) e charges depositadas entre flores.
A partir de amanhã, a praça da République será o início de mais uma grande manifestação de união do povo francês após os atentados desta semana, que deixaram 17 mortos.
O cortejo deve passar pela praça da Bastilha, onde a antiga prisão foi destruída pela revolução francesa, até a praça da Nation (Nação).
Atentados, assassinatos, sequestros e perseguições em Paris
A sede da revista Charlie Hebdo, em Paris, foi alvo de um ataque que matou 12 pessoas no dia 7 deste mês. De acordo com testemunhas, dois homens encapuzados invadiram a redação armados de fuzis e, enquanto atiravam nas pessoas que trabalhavam no local, gritaram “vamos vingar o profeta” e Allah akbar (Alá é grande). O semanário já havia sofrido diversas ameaças por publicar charges e caricaturas da figura religiosa de Maomé.
O atentado causou comoção no mundo todo. Manifestações foram organizadas com cartazes escritos “je suis Charlie” (Sou Charlie) e mãos empunhando lápis, o material de trabalho dos quatro cartunistas mortos no episódio.
Cidades da França entraram em alerta máximo para ataque terrorista e 88 mil homens das forças de segurança iniciaram uma caçada aos envolvidos no atentado. Nove pessoas foram presas no dia seguinte. Os irmãos nascidos em Paris e de pais argelinos Cherif Kuachi, 32 anos, e Said Kuachi, de 34, foram identificados como os autores dos disparos. O primeiro já havia sido condenado, em 2008, por ter atuado num grupo que enviava jihadistas ao Iraque.
Na sexta-feira (9), a polícia fechou o cerco após os dois irmãos, que estavam foragidos, roubarem um carro e invadirem uma fábrica na cidade de Dammartin-en-Goële, ao norte de Paris, onde mantiveram um refém. Ao mesmo tempo, no leste de Paris, o casal Hayat Boumediene e Amedy Coulibaly mataram três pessoas em um mercado judaico e fizeram outras dez reféns. Coulibaly, que conheceria um dos irmãos Kuachi, foi identificado pela polícia como o autor dos disparos que mataram uma policial na periferia de Paris no dia anterior.
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