Mães de bebês com microcefalia descartada respiram aliviadas

Exames médicos descartaram a má-formação

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Exames médicos descartaram a má-formação

Após uma viagem de quase seis horas de Itapetim, no sertão de Pernambuco, até a capital, Recife, sete mães cujos bebês tinham suspeita de microcefalia puderam respirar aliviadas – exames médicos descartaram a má-formação, associada ao vírus da zika, em seus filhos.

Nos últimos dois meses, após a descoberta de uma epidemia de microcefalia que já atinge 20 Estados, 11 mães de Itapetim tiveram seus bebês recém-nascidos notificados como casos suspeitos e enfrentaram a angustiante espera por um diagnóstico definitivo.

No último dia 27, dez mulheres foram, com seus bebês e acompanhantes, para a capital pernambucana, onde ficaram hospedadas na casa de apoio do município. Uma delas, menor de idade, optou por não ir fazer os exames na última hora. “Não havia prematuros, mas a maioria deles eram bebês pequenos para a idade gestacional e tinham um perímetro cefálico de 33 cm. Nesses casos, este perímetro é normal”, diz a infectologista pediátrica Regina Coeli, que atendeu as mães. “Mas também temos que observar o ritmo de crescimento da cabeça das crianças. No caso dessas, a maioria está crescendo normalmente.” A cabeça de um bebê cresce em média 2 cm por mês durante seus três primeiros meses de vida.

No caso de mulheres que apresentaram manchas no corpo – sintoma mais característico da zika – durante a gravidez, foram pedidos tomografias e ultrassonografias das cabeças dos bebês, para conferir se há lesões no cérebro, além de outros exames. “A gente as deixou bem tranquilas, dissemos que queremos afastar as possibilidades por segurança. Mas como elas tiveram as manchas, queremos investigar um pouco mais, porque a cidade não tem tantas condições de fazer isso”, esclarece a infectologista.

Thamires Santos da Silva, de 22 anos, tinha acabado de dar à luz a filha Valentina – tinha um perímetro cefálico de 31 cm – e estava assustada quando falou à BBC Brasil.

Ela também terá que retornar para mais exames em janeiro, mas diz estar menos preocupada após a consulta com Regina Coeli. “Disseram que ela não tinha nada, mas me pediram uma tomografia e um eletrocadiograma”, diz. “Vou passar o Ano Novo mais tranquila, graças a Deus. Mas vou ficar mais quando fizer todos os exames que pediram.”

Atenção à medição

A situação de Itapetim, que tem cerca de 13.900 habitantes, chamou a atenção pelo número de casos notificados de microcefalia em relação ao total de recém-nascidos na cidade – cerca de 200 por ano.

Das 11 notificações, cinco bebês nasceram com o perímetro cefálico de menos de 32 cm, parâmetro adotado pela OMS para definir microcefalia, e os outros seis com 33 cm, que correspondia ao primeiro protocolo de Pernambuco para notificar casos suspeitos.

Até o momento, não há mais casos notificados. “Ainda não apareceram mais, mas estamos em alerta. Nasceu uma criança, eu já procuro saber o tamanho da cabeça”, diz a coordenadora da Vigilância Epidemiológica do município, Karine Araújo.

“Eu já estou ficando chata, porque sempre peço aos enfermeiros chefes e a aos pediatras que olhem para saber se estão fazendo a medição corretamente.”

Segundo dados compilados até o dia 27 de dezembro pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, 1.153 casos foram notificados no Estado. Até agora, 89 casos de microcefalia foram confirmados e 42 foram descartados. Em todo o Brasil, já são quase 3 mil notificações.

Em meio a uma seca, prolongada, Itapetim está sem água nas torneiras há quatro anos. Nas ruas e nas casas, reservatórios de água são abundantes e aumentam a disponibilidade de locais para que o Aedes aegypti, que transmite dengue, chikungunya e zika, deixe seus ovos.

Em abril, o índice de infestação dos imóveis da cidade pelo mosquito da dengue chegou a ser o maior do Estado. A cidade conseguiu controlar a proliferação do inseto com uma combinação de técnicas, incluindo o uso de piabas, pequenos peixes, colocados nos reservatórios de água.

Mas agora, o início de uma nova infestação na região assusta as autoridades. “Já recomeçamos a campanha de casa em casa, mas estamos morrendo de medo”, diz Araújo.

“Em São José do Egito, a 18 km daqui, já estão dizendo que não cabe gente no hospital por causa de tantos pacientes com dengue. Nós tivemos cinco notificações essa semana, mas essas cinco pessoas foram a São José, então deduzimos que pegaram lá.”

Exames

“Eu não queria ir pra Recife por que as pessoas da minha família ficavam dizendo que a criança não precisa. Mas pelo bem do meu filho e pra tirar aquele peso, decidi ir”, disse à BBC Brasil Valéria Barros, de 17 anos, no início do mês.

Seu filho Arthur Emanuel, de 2 meses, nasceu com o perímetro cefálico de 33 cm, mas a microcefalia ainda não foi completamente descartada. Valéria teve os sintomas do zika pouco antes de completar quatro meses de gravidez e vai retornar a Recife no dia 11 de janeiro para realizar uma tomografia em Arthur.

Mas os exames descobriram que o bebê tem sopro cardíaco – um ruído decorrente da passagem do fluxo de sangue no coração, que pode ser “inocente” (que não causa problemas) ou “patológico”, provocado por defeito em válvulas cardíacas.

“As médicas disseram que, por ele ser pequeno, o sopro cicatriza rápido. Quando eu for pegar o resultado dos exames, elas vão examinar de novo para ver se cicatrizou”, afirmou Valéria, em entrevista por telefone após voltar de Recife.

“Ainda fico preocupada, porque meu avô tem sopro e a gente fica com medo. Mas com a microcefalia estou mais tranquila. A médica diz que o único exame que ainda precisa para ver se ele tem alguma coisa é o da cabeça. Se der algo é que eu vou me preocupar mais.”

Semanas antes da viagem, Ana Paula dos Santos, de 19 anos, também disse estar nervosa, mas ter certeza de que a filha era saudável. Agora ela pode respirar aliviada.

O exame em Recife descartou completamente a microcefalia em Jamile, de dois meses e meio, cuja cabeça media 32 cm quando nasceu.

Doação

Para Ana Paula e outras mães, os gastos com a viagem para Recife também traziam preocupações. Apesar de terem transporte e hospedagem fornecidos pela prefeitura, elas teriam que pagar sua alimentação e a de seu acompanhante.

No entanto, a Secretaria de Saúde da cidade conseguiu uma ajuda surpreendente para a viagem: comovida com a reportagem da BBC Brasil, a advogada Maria Carolina, de São Paulo, pediu ajuda a um grupo de mães do qual faz parte, no Facebook, e conseguiu que uma delas, que ia a Recife, levasse cinco cestas básicas para a casa de apoio de Itapetim, que abrigou as famílias.

“Tinha bastante comida e também mandaram panetones e fraldas. Eu disse às mães que elas não precisariam comprar nada para comer. Só fizemos uma vaquinha pra comprar verduras e carne”, disse à BBC Brasil Mara Nunes, coordenadora da casa de apoio.

“Elas ficaram muito contentes porque não precisaram gastar. São muito humildes. E quando eu distribuí as fraldas, aí é que ficaram mais felizes.”

Para evitar que mães do interior precisem fazer longas viagens, que podem chegar a ser semanais, para o diagnóstico e atendimento dos bebês, o governo do Estado anunciou que ampliará a estrutura de atendimento de Caruaru, Petrolina e Serra Talhada, cidades maiores do interior.

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, funcionários das três cidades já estão sendo capacitados. O atendimento das três mães de Itapetim que terão de continuar os exames, no entanto, ainda acontecerá em Recife. Elas já têm retornos marcados para os dias 11 e 27 de janeiro.

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