Os passageiros que utilizam os serviços do Consórcio Guaicurus em Campo Grande iniciaram esta segunda-feira (18) sendo obrigados a pagar R$ 4,75 pela passagem – R$ 0,10 mais caro. O reajuste veio após disputa judicial em que as empresas de ônibus alegam precisar do aumento para ‘sobreviver’. No entanto, a concessionária obtém altas cifras de lucro líquido desde o início do contrato, além de obter benefícios como a isenção do ISS (Imposto Sobre Serviço) e subsídios milionários.

Por outro lado, os passageiros, que agora estão pagando ainda mais caro (Campo Grande tem uma das 10 passagens mais caras entre as capitais do Brasil), continuam enfrentando problemas crônicos no transporte coletivo como superlotação, atrasos, veículos velhos e precários, falta de motoristas, entre outros.

Na semana passada, o diretor-presidente da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande) – responsável por fiscalizar o contrato com o Consórcio -, Odilon de Oliveira Júnior, disse ao Jornal Midiamax que o Consórcio Guaicurus obteve ‘lucros satisfatórios’ com alta da tarifa, além de subsídios milionários.

Segundo ele, o reajuste de R$ 0,10 no passe de ônibus deve ser considerando o reequilíbrio anual de 2024, ou seja, não deverá ocorrer outro aumento neste ano “a não ser que haja determinação judicial”, sustentou Odilon. “O Consórcio referente à tarifa obteve um lucro extremamente satisfatório para eles e isso não importaria numa revisão dos valores da tarifa”, falou em seguida.

Diretor-presidente da Agereg, Odilon Oliveira (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Em relação a uma possível revisão contratual, a qual o Consórcio defende com interesse em subir ainda mais a tarifa, Odilon explica: “As demais coisas que poderiam ser feitas através da revisão já foram feitas, como essa divisão da tarifa para arcar com a população, a questão do ISS, subsídios do Estado e outras coisas. Então, entendemos que não é necessidade agora de fazer essa revisão postergando-a para o próximo círculo de sete anos”, estendendo para 2026.

Passe dos estudantes

A Prefeitura de Campo Grande estima que o repasse do Governo de Mato Grosso do Sul para custear o passe dos estudantes da REE (Rede Estadual de Ensino) deva subir em cerca de R$ 3,4 milhões. Em fevereiro deste ano, foram transferidos ao Consórcio Guaicurus pouco mais de R$ 10 milhões (R$ 10.017.180,00) para arcar com a tarifa desses estudantes e a previsão é que o valor chegue a R$ 13,4 milhões para o ano letivo de 2024.

Passe subiu 69% em 10 anos

O valor do passe de ônibus cobrado aos usuários do transporte coletivo de Campo Grande subiu 69% entre 2013 e 2023, período em que o Consórcio Guaicurus passou a explorar o serviço de transporte público na Capital.

Em 2013, quando o Consórcio Guaicurus passou a comandar o transporte coletivo de Campo Grande após vencer licitação, os usuários precisavam desembolsar R$ 2,75 para realizar uma viagem de ônibus. A tarifa dos ônibus executivos era de R$ 3,35.

A partir de maio de 2023, os usuários desembolsavam R$ 4,65 para realizar a mesma viagem, equivalendo a um aumento de 69% no valor do passe pago pelos passageiros.

Conforme o histórico dos preços das passagens divulgado pelo próprio Consórcio Guaicurus, apenas duas vezes o reajuste contou com uma diminuição do valor.

Ainda em 2013, no final do ano, o passe que era cobrado R$ 2,75, reduziu para R$ 2,70.

Do mesmo modo, em 2019 o valor cobrado era de R$ 4,10, já em 2023 foi reduzido para R$ 3,95. Entretanto, a redução durou menos de um mês e onze dias depois, voltou para R$ 4,10.

O reajuste de 2023, de R$ 0,25, foi um dos maiores já aplicados pelo Consórcio Guaicurus, ficando atrás somente dos anos 2013-2014 (aumento de R$ 0,30) e 2015-2016 (aumento de R$ 0,30).

Consórcio renovou apenas 15% da frota

Em 2023, a empresa comprou apenas 71 novos ônibus, que renovaram 15% da frota atual de 450 ônibus. Assim, outros 111 ônibus vencidos continuarão circulando em Campo Grande.

A frota tem idade média de 7,7 anos, acima do ideal estipulado em contrato, que é de 5 anos. Porém, as empresas de ônibus não informaram se, com a renovação, a idade da frota ficará dentro do que estipula o contrato.

O Consórcio Guaicurus ainda mantém 182 ônibus com idade igual ou superior a dez anos, que devem ser substituídos ainda em 2023. Porém, não disse como e nem se vai substituir os 111 ônibus que vão completar uma década este ano. Os 71 serão descontados desse total a substituir.

Na prática, muda pouca coisa para a população, já que não haverá criação de novas linhas de ônibus. Os novos veículos apenas vão substituir 71 dos ônibus velhos que atualmente circulam em Campo Grande. A superlotação e demora, principalmente nos bairros, continua.