O tráfego de tritrens abarrotados de eucalipto todos os dias na MS-450, a Estrada-Parque Piraputanga, virou tema de discussão na sessão da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), nesta quinta-feira (4). 

O Jornal Midiamax mostrou que a rota poderia ser evitada, mas a Suzano preferiu a estrada turística para economizar tempo. O transporte de carga pesada na rodovia também foi o motivo da renúncia do Instituto SOS Pantanal à vaga no Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga.

Os deputados Paulo Duarte (PSB) e Pedro Kemp (PT) usaram a tribuna para expressar preocupação sobre o tema e cobrar providências do Governo de Mato Grosso do Sul. 

Durante a leitura do expediente, Paulo Duarte apresentou requerimento endereçado à Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos) solicitando que sejam enviadas à Casa de Leis informações detalhadas a respeito do tráfego de caminhões tritrens transportando eucalipto na MS-450

“Especificando se há previsão de obras de adequações Rodovia MS-450 em razão do grande tráfego que transporta eucalipto e se a empresa Suzano, que é responsável pelo transporte das cargas, irá contribuir para essas adequações. Lembrando que essa é uma rodovia importante que foi recentemente pavimentada e importante para o turismo da região do Pantanal”, afirmou. 

Além disso, o parlamentar frisou que medidas precisam ser tomadas de forma urgente para evitar maiores danos à estrutura e motoristas. 

“Precisa urgente de intervenção para disciplinar esse tráfego intenso sob pena, inclusive, de destruição dessa rodovia, como o risco a quem transita da área em razão dos caminhões que trafegam cargas muito pesadas”, pontuou. 

O deputado estadual Pedro Kemp (PT) compartilhou do mesmo sentimento do colega a respeito dos riscos ao meio ambiente e à estrutura da rodovia, caso o trânsito de tritrens continue. 

“Nós queremos fazer apelo a Agesul e Imasul para que olhem com carinho essa situação e busquem alternativa […] o eucalipto precisa ser transportado, mas é preciso ver alternativas, já recebi várias mensagens de pessoas que moram na região e estão extremamente preocupadas com o que acontece”, alertou. 

Para Pedrossian Neto (PSD), parte da solução é a retomada da ferrovia Malha Oeste. A linha, que deve ser entregue à iniciativa privada, passará pelos Estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo, somando mais de 1.600 quilômetros entre as cidades de Corumbá e Mairinque.

Suzano teria alternativa para tritrens

O tráfego de 20 tritrens abarrotados de eucalipto todos os dias na MS-450, a Estrada-Parque Piraputanga, poderia ser evitado. Pelo menos é o que alegam ambientalistas que acompanham a situação que gerou até racha no Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga. Os ambientalistas argumentam que a indústria Suzano teria opção de rota alternativa, mas que a escolha em trafegar pela estrada turística foi para “economizar tempo”.

Segundo os ambientalistas, trecho de 11 quilômetros da estrada construída para uso contemplativo da natureza será ocupado pelos tritrens, carretas gigantes com três vagões ou semirreboques, por um período de no mínimo três anos. Cada carreta gigante tem capacidade para transportar até 74 toneladas de carga bruta.

“A fazenda onde fazem a retirada [de eucalipto] é a Lageado, que começa ali na Cipolândia, em Aquidauana e vai até Dois Irmãos do Buriti. Pega toda a extensão da Serra de Maracaju, então, lá possui uma saída por Terenos e outra por Dois Irmãos do Buriti. Aliás, antes até do local ser vendido para Suzano, escoavam pela Ponte do Grego e era para ser assim. Mas, depois bateram o pé e aos 45 do segundo tempo passaram a escoar pela Estrada-Parque porque a outra não tinha asfalto. O que eles querem é economizar tempo”, argumenta um ambientalista ouvido pela reportagem e que vive nas proximidades.

Segundo o denunciante, em distância por quilômetros as duas rotas não têm tanta diferença, porém, o asfalto é o que faz a estrada turística ser mais ‘vantajosa’ para a indústria.

“No começo a população aqui ficou meio preocupada, só que tinha muito desencontro. Tinha gente que falava que ia passar 200 caminhões por dia, outros falavam que a ponte não ia aguentar e aí por isso que foi marcada uma reunião com a empresa. Só que eles chegaram com toda a documentação, todo o aval e a reunião terminou com a população pedindo recurso para apoiarem os eventos turísticos da região”, relembrou.

Aval da Agesul

Trafegar pela Estrada-Parque Piraputanga, como é conhecida a MS-450, é um passeio entre paredões da Serra de Maracaju que têm atraído cada vez mais turistas. Mas em 2024, com aval da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), a região virou rota de escoamento de eucalipto por meio de tritrens, caminhões com três semirreboques, espécies de ‘vagões’, com destino à indústria Suzano e capacidade para transportar até 74 toneladas de carga bruta.

A empresa que tem indústrias de celulose em Mato Grosso do Sul adquiriu 4,5 mil hectares de eucalipto na Fazenda Lageado, em Dois Irmãos do Buriti, e assinou contrato de três anos para retirada de 40 mil metros cúbicos de madeira de eucalipto por mês. Acontece que a propriedade está localizada na estrada-parque, por onde os caminhões terão de circular por 11 quilômetros até chegar à BR-262.

São estimadas pela empresa pelo menos 20 viagens diárias de caminhões carregados de eucalipto pela estrada construída pelo próprio Governo do Estado, com cunho contemplativo e como forma de fomentar o turismo na região. O investimento feito nos últimos anos deu certo e é crescente o número de visitantes de veículos, motos e bicicletas na região que também é área de proteção ambiental.

Mas com a negociação da Suzano para compra de eucalipto, com aval do Governo para o transporte na região, moradores e empresários da estrada-parque foram pegos de surpresa e, desde então, tentam lidar com a situação. O Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Estrada-Parque Piraputanga tenta negociação amigável com a Suzano para mitigar os impactos do transporte.

O que diz a Suzano

Confira o posicionamento da empresa:

A empresa tem como política manter diálogo ativo e transparente com comunidades, lideranças locais e órgãos públicos sempre previamente ao início de suas operações, a fim de assegurar o pleno alinhamento entre suas atividades e as características socioambientais das regiões onde atua. Esse diálogo, acompanhado da realização de estudos operacionais prévios, também ocorreu no processo relacionado à utilização da MS-450 para o transporte de madeira seguro e sustentável ao longo de um trecho de 11 quilômetros da MS-450.

Como consequência dessa escuta ativa e proativa com atores locais, foram adotadas uma série de ações adicionais àquelas já praticadas regularmente pela empresa, para o controle e adequação da nossa operação às peculiaridades da localidade: melhorias na sinalização de trânsito e criação de bolsões para facilitar ultrapassagens; gestão ativa da frota para assegurar a circulação segura e eficiente dos veículos nos horários informados à comunidade; rotogramas falados diretamente na cabine dos motoristas com alertas de limites de velocidades, presença de ciclistas e de fauna; além de treinamentos abrangentes focados em respeito à fauna, ciclistas e práticas ambientais responsáveis. Tais ações são proporcionais ao volume das operações previstas e compatíveis com a realidade socioambiental da região.

Acrescente-se, ainda, que a operação na MS-450 foi submetida a todas as autorizações legais junto às autoridades locais.

Importante ressaltar também que a operação na MS-450, rodovia comumente utilizada por outras empresas de Mato Grosso do Sul para o transporte de cargas, consiste em um número limitado de 20 viagens diárias de tritens, restritas em horários escolares e com redução considerável da frota aos finais de semana, formato adotado também como resultado do diálogo com a comunidade local. A empresa também colocou à disposição da comunidade seu canal de Ouvidoria – 0800 771 4060 – para que possa receber sugestões, críticas ou denúncias visando aperfeiçoar sua operação na região.