Parceira da Rússia para produção no Brasil da Sputnik V, a vacina contra a desenvolvida no país euroasiático, a União Química Farmacêutica Nacional S/A vem ganhando espaço nas compras feitas pelo governo de Mato Grosso do Sul. Com participação tímida em licitações até 2019, a empresa terminou o ano passado com R$ 1 milhão em contratos para fornecer medicamentos.

Em 2020, o laboratório selou acordos para venda de midazolam e propofol ao Estado, sedativos usados para intubação de pacientes. Os dois procedimentos foram realizados sem licitação, validados pela lei federal que dispensou a burocracia a fim de agilizar o enfrentamento à pandemia.

Um deles, firmado em setembro de 2020 por R$ 424,8 mil, foi aditado em 50% do valor dois meses depois. A conta subiu para R$ 637,2 mil.

Até então, a empresa tinha aparições esporádicas na lista de compras da administração estadual. Há dois anos, portanto antes da emergência em Saúde, forneceu somente R$ 169 mil em medicamentos a Mato Grosso do Sul, com participação em pregões.

Em 2018, o governo dispensou só R$ 4,8 mil em compras com a União Química. No ano anterior, pagou irrisórios R$ 522. Em 2021, a empresa tem R$ 109,6 mil empenhados, por enquanto. Os números são todos do Portal da Transparência.

Segundo a SES (Secretaria de Estado de Saúde), a entrada do laboratório na carta de fornecedores se deve à redução, pelo Ministério da Saúde, no envio de medicamentos para intubação.

“A Secretaria de Estado de Saúde informa que os contratos firmados com a União Química foram para aquisição de Kit intubação. A responsabilidade pelo fornecimento de kit intubação aos Hospitais é do Ministério da Saúde. O Ministério da Saúde sempre realizou a distribuição dos medicamentos do Kit Intubação. Entretanto, em 2020 o Ministério da Saúde reduziu o envio de medicamentos do Kit intubação para Mato Grosso do Sul. Para poder atender a demanda dos medicamentos devido o grande número de internações em leitos de UTI devido a pandemia de COVI-19, a Secretaria de Estado de Saúde fez processo licitatório para aquisição desses medicamentos. A União Química foi uma das empresas que entrou no processo para fornecimento dos medicamentos do kit intubação”, justificou a pasta, em nota reproduzida na íntegra.

A União Química foi procurada, mas não respondeu aos questionamentos da reportagem.

Diretor do laboratório, ex-deputado federal articula venda de vacinas

Fabricante do Vodol, pomada para tratar micoses e frieiras, a União Química ganhou evidência depois de anunciar que concentraria a produção da Sputnik V no País, no segundo semestre do ano passado.

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Ex-deputado federal Rogério Rosso é diretor de Negócios Internacionais da União Química – Divulgação/Agência Câmara

O laboratório contou com o ex-deputado federal e ex-governador do Distrito Federal Rogério Rosso, diretor de Negócios Internacionais, para articular a aproximação com os estados de olho na venda do imunizante. Rosso foi colega de parlamento do atual secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, em suas duas passagens pela Câmara dos Deputados.

O governo estadual entrou na corrida pela Sputnik V por meio do Consórcio Brasil Central, que reúne outras sete unidades da federação. O grupo firmou compromisso para compra de 28 milhões de doses, das quais 2 milhões ficariam com Mato Grosso do Sul.

A (Procuradoria-Geral do Estado) também tentou ingressar em uma ação movida pelo governo do Maranhão, que tentava liberar a importação de Sputnik V. O processo forçou a (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a acelerar a análise de pedidos de aquisição da vacina por meio de uma decisão proferida pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski.

Na última segunda-feira (26), a agência reguladora negou os pedidos. Segundo análise técnica, foram encontradas falhas no desenvolvimento da vacina, na condução dos ensaios clínicos e na qualidade do produto acabado. Para a Anvisa, as informações apresentadas não foram suficientes para garantir a segurança do imunizante.

Horas antes, Lewandowski já havia barrado a entrada de Mato Grosso do Sul, Amazonas e Goiás na ação do governo maranhense.

*texto alterado às 14h para acréscimo de posicionamento da SES na íntegra.